segunda-feira , 4 novembro , 2024

Crítica | ‘A Grande Entrevista’ não diz nada além do óbvio, mas conta com um elenco FORMIDÁVEL

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Em 2019, a família real britânica passava por mais uma polêmica quando o Príncipe Andrew foi associado ao magnata Jeffrey Epstein após sua acusação de tráfico sexual – e coube à BBC Two comandar uma importante entrevista que ganharia fama mundial e que alimentaria ainda mais as questões de abuso sexual e de que forma a hegemonia da coroa inglesa não poderia mais ser dada como absoluta (não é surpresa, pois, que o Príncipe Andrew foi afastado de suas responsabilidade públicas após as declarações feitas). Agora, somos convidados pela Netflix a revisitar esse polêmico momento da história europeia com o lançamento de A Grande Entrevista, que, apesar de cumprir com o que promete, deixa um leve gostinho agridoce por não se arriscar mais do que deveria.

A trama nos leva para os bastidores da BBC Two, mais especificamente ao programa de assuntos atuais conhecido como The Newsnight. Lá, a então editora Sam McAlister (Billie Piper) entra em contato com o Palácio de Buckingham para conseguir uma exclusiva e o “furo da década” assim que recebe a informação de que Epstein havia sido abordado pelo FBI após a descoberta de que ele aliciava garotas menores de idade para manter relações sexuais – e, considerando o próximo relacionamento entre o magnata e o príncipe, era apenas questão de tempo até a coroa ser trazida à conversa. Através da ajuda da secretária de Andrew, Amanda Thirsk (Keeley Hawes), Sam consegue que a apresentadora da emissora, Emily Maitlis (Gillian Anderson) converse com o monarca. E, de forma bastante resumida, essa é toda a narrativa de que o filme se vale.

Ao longo de pouco mais de uma hora e quarenta minutos, Philip Martin, conhecido por seu trabalho em ‘Prime Suspect’ e ‘The Crown’, dá o seu máximo para garantir que o projeto seja, ao mesmo tempo, didático e um tanto quanto ambicioso. Aliando-se ao roteiro de Peter Moffat e Geoff Bussetil, Martin navega pelas conspirações e pelas mentiras acobertadas por tanto tempo e que vieram à tona apenas alguns anos atrás – mas, no final das contas, é notável como não podemos deixar de nos sentir um pouco frustrados pela ótima atmosfera que acaba chegando a lugar nenhum. É claro que, em se tratando de um projeto inspirado em eventos reais, sabemos o que vai acontecer – mas isso não muda o fato de que a estrutura poderia ter se desvencilhado um pouco mais dos convencionalismos.

Mesmo com os claros deslizes, é possível deixá-los de lado com performances apaixonantes – a começar por Anderson. Nos últimos anos, a atriz já havia nos presenteado com uma versatilidade invejável ao participar de séries como ‘Sex Education’ e ‘American Gods’, apenas para se sagrar com mais camadas ao encarnar Emily com profunda paixão pelo legado deixado pela jornalista, seja no breve cerrar dos lábios ao confrontar, de forma passiva-agressiva, o Príncipe e a aparente imutável moralidade defendida pela Coroa. Piper, apesar de não ter o tempo de tela que merece e acabar ficando em segundo plano entre o segundo e o terceiro atos, não precisa fazer muito além de nos deixar entender que as engrenagens em sua cabeça não param a qualquer momento.

Acompanhadas de nomes como Hawes e Rufus Sewell, este dando vida ao Príncipe, o elenco faz um trabalho memorável, apoiado por um roteiro sólido, apesar de seguro demais para contar algo além do óbvio. Todavia, é notável como outros elementos têm força o bastante para equilibrar os equívocos, como a ótima trilha sonora composta pela dupla Anne Nikitin e Hannah Peel, que se afasta da melodramatização desnecessária e aposta em um simples arranjo instrumental que é prático e tétrico na mesma medida; a fotografia é cética e condiz com o reflexo do atarefado cosmos do jornalismo em contraposição às mentiras acobertadas por aqueles que estão no poder. Até mesmo durante a famigerada entrevista a escolha de cores e de tons não foge do proposto e nos ajuda a compreender a proposta do diretor.

À medida que o último ato caminha para seu encerramento, Martin parece perder a mão do que quer fazer, mas, de qualquer forma, apresenta uma conclusão palpável e que não poderia ter sido feita de maneira diferente. Eventualmente, A Grande Entrevista cumpre com o prometido, apesar de não oferecer muitos insights dentro de uma das matérias jornalísticas mais infames da memória recente – e tudo graças à soberba competência de um elenco de ponta.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A trama nos leva para os bastidores da BBC Two, mais especificamente ao programa de assuntos atuais conhecido como The Newsnight. Lá, a então editora Sam McAlister (Billie Piper) entra em contato com o Palácio de Buckingham para conseguir uma exclusiva e o “furo da década” assim que recebe a informação de que Epstein havia sido abordado pelo FBI após a descoberta de que ele aliciava garotas menores de idade para manter relações sexuais – e, considerando o próximo relacionamento entre o magnata e o príncipe, era apenas questão de tempo até a coroa ser trazida à conversa. Através da ajuda da secretária de Andrew, Amanda Thirsk (Keeley Hawes), Sam consegue que a apresentadora da emissora, Emily Maitlis (Gillian Anderson) converse com o monarca. E, de forma bastante resumida, essa é toda a narrativa de que o filme se vale.

Ao longo de pouco mais de uma hora e quarenta minutos, Philip Martin, conhecido por seu trabalho em ‘Prime Suspect’ e ‘The Crown’, dá o seu máximo para garantir que o projeto seja, ao mesmo tempo, didático e um tanto quanto ambicioso. Aliando-se ao roteiro de Peter Moffat e Geoff Bussetil, Martin navega pelas conspirações e pelas mentiras acobertadas por tanto tempo e que vieram à tona apenas alguns anos atrás – mas, no final das contas, é notável como não podemos deixar de nos sentir um pouco frustrados pela ótima atmosfera que acaba chegando a lugar nenhum. É claro que, em se tratando de um projeto inspirado em eventos reais, sabemos o que vai acontecer – mas isso não muda o fato de que a estrutura poderia ter se desvencilhado um pouco mais dos convencionalismos.

Mesmo com os claros deslizes, é possível deixá-los de lado com performances apaixonantes – a começar por Anderson. Nos últimos anos, a atriz já havia nos presenteado com uma versatilidade invejável ao participar de séries como ‘Sex Education’ e ‘American Gods’, apenas para se sagrar com mais camadas ao encarnar Emily com profunda paixão pelo legado deixado pela jornalista, seja no breve cerrar dos lábios ao confrontar, de forma passiva-agressiva, o Príncipe e a aparente imutável moralidade defendida pela Coroa. Piper, apesar de não ter o tempo de tela que merece e acabar ficando em segundo plano entre o segundo e o terceiro atos, não precisa fazer muito além de nos deixar entender que as engrenagens em sua cabeça não param a qualquer momento.

Acompanhadas de nomes como Hawes e Rufus Sewell, este dando vida ao Príncipe, o elenco faz um trabalho memorável, apoiado por um roteiro sólido, apesar de seguro demais para contar algo além do óbvio. Todavia, é notável como outros elementos têm força o bastante para equilibrar os equívocos, como a ótima trilha sonora composta pela dupla Anne Nikitin e Hannah Peel, que se afasta da melodramatização desnecessária e aposta em um simples arranjo instrumental que é prático e tétrico na mesma medida; a fotografia é cética e condiz com o reflexo do atarefado cosmos do jornalismo em contraposição às mentiras acobertadas por aqueles que estão no poder. Até mesmo durante a famigerada entrevista a escolha de cores e de tons não foge do proposto e nos ajuda a compreender a proposta do diretor.

À medida que o último ato caminha para seu encerramento, Martin parece perder a mão do que quer fazer, mas, de qualquer forma, apresenta uma conclusão palpável e que não poderia ter sido feita de maneira diferente. Eventualmente, A Grande Entrevista cumpre com o prometido, apesar de não oferecer muitos insights dentro de uma das matérias jornalísticas mais infames da memória recente – e tudo graças à soberba competência de um elenco de ponta.

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