quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | A Grande Muralha

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Cuidado com os Lagartos!

Se você acha que A Grande Muralha é um épico sério sobre a construção do icônico monumento turístico chinês, você está incrivelmente enganado. Justamente por isso, resolvi abordar o tópico logo de início neste texto para que mais pessoas não caiam nesta cilada, deixando sua expectativa tomar conta do filme que foi realmente produzido. Críticos renomados do passado já diziam: “devemos avaliar o filme que foi feito e não o que gostaríamos que tivesse sido”. Entre os leigos, é comum ouvir comentários como: “ah, não sabia que era assim. Achei que fosse de outro jeito. Não gostei.”

Justamente por isso também, faz parte do trabalho do crítico informar exatamente o que as pessoas irão encontrar ao adentrarem determinada obra cinematográfica. A campanha de marketing não faz um bom trabalho em representar verdadeiramente o assunto desta produção de aventura e fantasia, prometendo deixar grande parte do público completamente confuso. Bem, isso ocorreu até mesmo na exibição para a imprensa onde estive, na qual alguns jornalistas que não haviam assistido aos trailers ou qualquer prévia, foram surpreendidos pelo que encontraram na exibição. A Grande Muralha é um filme de monstros! O longa funciona, em partes, como uma aventura de matinê, no estilo de A Múmia (1999), aquele protagonizado por Brendan Fraser.



A proposta do longa é levar aos cinemas parte do folclore chinês, aquele que diz que a criação da grande muralha teve como objetivo afugentar e impedir a entrada de forças malignas e antigas, como maldições. No filme, tais ameaças sobrenaturais vêm na forma das criaturas conhecidas como Tao Tei, uma espécie de lagarto gigante, semelhantes aos dragões de komodo, porém muito maiores e numerosos. As criaturas são rápidas e ágeis, tendo como ponto fraco os olhos nos ombros, que precisam ser atingidos para sua derrota. Os monstros surgem como pragas aos montes, comandados por sua rainha, e tentam, de tempos em tempos (a cada 60 anos mais precisamente), invadir o reino. A muralha é guardada pela Ordem Sem Nome, uma força militar chinesa, da corte imperial da Dinastia Song.

A Grande Muralha marca a estreia do cultuado Zhang Yimou na direção de um filme norte-americano, embora seja uma coprodução com a China. Para quem não é muito familiarizado, a carreira de Yimou é marcada por trabalhos de profundidade dramática mesclada com beleza estética – como Lanternas Vermelhas (1991), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e A Maldição da Flor Dourada (2006), indicado ao Oscar de figurino; mas também de espetáculos visuais voltados ao entretenimento megalômano (seriam como os blockbusters chineses) – vide Herói (2002), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e O Clã das Adagas Voadoras (2004), indicado ao Oscar de fotografia.

Com o novo filme, Yimou continua a dar o seu recado, e cria cenas impressionantes. O cineasta consegue carimbar sua assinatura, mesmo dentro de um produto menos autoral, se é que podemos chamar assim. O que falta em A Grande Muralha é o peso psicológico dos personagens, tratados de forma muito rasa, assim como o da trama em si. Isso não ocorria, se formos pensar, com suas superproduções chinesas, mesmo as mais voltadas ao entretenimento. O resultado deixa seu mais novo longa leve e esquecível, para ser consumido e descartado instantaneamente. Parte disso se deve ao texto de Marshall Herskovitz (Jack Reacher: Sem Retorno), Max Brooks (Guerra Mundial Z) e Edward Zwick (diretor de O Último Samurai), que criaram a história; e Carlo Bernard (Narcos), Doug Miro (Príncipe da Pérsia) e Tony Gilroy (O Legado Bourne), que lapidam o roteiro em cima da ideia.

No elenco, Willem Dafoe e Pedro Pascal (o Javier Peña de Narcos), cujo talento não precisa ser citado, encontram-se perdidos e mal utilizados. Isso sem falar na canastrice de Matt Damon, tentando forjar um sotaque que não sabe muito bem qual, além de parecer entediado e completamente ligado no automático durante toda a projeção. Quem se salva é a atriz asiática Jing Tian, que com seu charme, carisma e presença de cena, tenta ancorar esta fantasia flutuante, no papel da Comandante Lin Mae, a melhor personagem aqui. A proximidade com a aventura de matinê A Múmia é tanta que o início dos filmes é quase idêntico, com o mercenário de Damon, assim como o de Fraser, fugindo de soldados que querem a sua cabeça, somente para encontrarem redenção e propósito vindos de uma bela mulher (Rachel Weisz naquele filme, e Tian aqui), enquanto precisam derrotar ameaças sobre-humanas (mortos-vivos em A Múmia, monstros comedores de gente, aqui).

A Grande Muralha, assim como o citado blockbuster de 1999, dirigido por Stephen Sommers, não deve ser levado a sério nem por um instante, e somente assim poderá ser apreciado. No entanto, existe a diferença quase abismal de carisma entre os protagonistas, já que o mercenário de Damon é insosso e robótico, tirando a vitalidade do ator. Acima de tudo, a superprodução chega para mostrar o quanto é curta atualmente a proximidade do cinema norte-americano com o asiático. Os blockbusters estão a cada dia sendo mais pensados para o consumo na Ásia, um dos maiores mercados (ou o maior) cinematográficos mundiais. A Grande Muralha, em tal quesito, mostra ser uma forte ponte desta amálgama. E tantos outros virão.

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Justamente por isso também, faz parte do trabalho do crítico informar exatamente o que as pessoas irão encontrar ao adentrarem determinada obra cinematográfica. A campanha de marketing não faz um bom trabalho em representar verdadeiramente o assunto desta produção de aventura e fantasia, prometendo deixar grande parte do público completamente confuso. Bem, isso ocorreu até mesmo na exibição para a imprensa onde estive, na qual alguns jornalistas que não haviam assistido aos trailers ou qualquer prévia, foram surpreendidos pelo que encontraram na exibição. A Grande Muralha é um filme de monstros! O longa funciona, em partes, como uma aventura de matinê, no estilo de A Múmia (1999), aquele protagonizado por Brendan Fraser.

A proposta do longa é levar aos cinemas parte do folclore chinês, aquele que diz que a criação da grande muralha teve como objetivo afugentar e impedir a entrada de forças malignas e antigas, como maldições. No filme, tais ameaças sobrenaturais vêm na forma das criaturas conhecidas como Tao Tei, uma espécie de lagarto gigante, semelhantes aos dragões de komodo, porém muito maiores e numerosos. As criaturas são rápidas e ágeis, tendo como ponto fraco os olhos nos ombros, que precisam ser atingidos para sua derrota. Os monstros surgem como pragas aos montes, comandados por sua rainha, e tentam, de tempos em tempos (a cada 60 anos mais precisamente), invadir o reino. A muralha é guardada pela Ordem Sem Nome, uma força militar chinesa, da corte imperial da Dinastia Song.

A Grande Muralha marca a estreia do cultuado Zhang Yimou na direção de um filme norte-americano, embora seja uma coprodução com a China. Para quem não é muito familiarizado, a carreira de Yimou é marcada por trabalhos de profundidade dramática mesclada com beleza estética – como Lanternas Vermelhas (1991), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e A Maldição da Flor Dourada (2006), indicado ao Oscar de figurino; mas também de espetáculos visuais voltados ao entretenimento megalômano (seriam como os blockbusters chineses) – vide Herói (2002), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e O Clã das Adagas Voadoras (2004), indicado ao Oscar de fotografia.

Com o novo filme, Yimou continua a dar o seu recado, e cria cenas impressionantes. O cineasta consegue carimbar sua assinatura, mesmo dentro de um produto menos autoral, se é que podemos chamar assim. O que falta em A Grande Muralha é o peso psicológico dos personagens, tratados de forma muito rasa, assim como o da trama em si. Isso não ocorria, se formos pensar, com suas superproduções chinesas, mesmo as mais voltadas ao entretenimento. O resultado deixa seu mais novo longa leve e esquecível, para ser consumido e descartado instantaneamente. Parte disso se deve ao texto de Marshall Herskovitz (Jack Reacher: Sem Retorno), Max Brooks (Guerra Mundial Z) e Edward Zwick (diretor de O Último Samurai), que criaram a história; e Carlo Bernard (Narcos), Doug Miro (Príncipe da Pérsia) e Tony Gilroy (O Legado Bourne), que lapidam o roteiro em cima da ideia.

No elenco, Willem Dafoe e Pedro Pascal (o Javier Peña de Narcos), cujo talento não precisa ser citado, encontram-se perdidos e mal utilizados. Isso sem falar na canastrice de Matt Damon, tentando forjar um sotaque que não sabe muito bem qual, além de parecer entediado e completamente ligado no automático durante toda a projeção. Quem se salva é a atriz asiática Jing Tian, que com seu charme, carisma e presença de cena, tenta ancorar esta fantasia flutuante, no papel da Comandante Lin Mae, a melhor personagem aqui. A proximidade com a aventura de matinê A Múmia é tanta que o início dos filmes é quase idêntico, com o mercenário de Damon, assim como o de Fraser, fugindo de soldados que querem a sua cabeça, somente para encontrarem redenção e propósito vindos de uma bela mulher (Rachel Weisz naquele filme, e Tian aqui), enquanto precisam derrotar ameaças sobre-humanas (mortos-vivos em A Múmia, monstros comedores de gente, aqui).

A Grande Muralha, assim como o citado blockbuster de 1999, dirigido por Stephen Sommers, não deve ser levado a sério nem por um instante, e somente assim poderá ser apreciado. No entanto, existe a diferença quase abismal de carisma entre os protagonistas, já que o mercenário de Damon é insosso e robótico, tirando a vitalidade do ator. Acima de tudo, a superprodução chega para mostrar o quanto é curta atualmente a proximidade do cinema norte-americano com o asiático. Os blockbusters estão a cada dia sendo mais pensados para o consumo na Ásia, um dos maiores mercados (ou o maior) cinematográficos mundiais. A Grande Muralha, em tal quesito, mostra ser uma forte ponte desta amálgama. E tantos outros virão.

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