domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | A Hora da Sua Morte – Aplicativo assassino desregula comédia e terror

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Baseado no contexto social da juventude moderna, a qual utiliza dezenas de aplicativos inúteis em seu smartphone, A Hora da Sua Morte (Countdown) apresenta a ideia de uma ferramenta onisciente e detentora do saber do exato momento da sua morte. Uma mistura das brincadeiras das redes sociais sobre predições futuras aliada a uma corrente esotérica de maldição, lançada sobre o usuário caso ele quebre os termos de acordo. 

Debutante em longas-metragens, Justin Dec é o homem por trás da ideia e construção dessa atmosfera de hiperconectividade e execução sumária. À primeira vista, o filme apresenta-se como um atraente enredo para sustos e entretenimento, afinal de contas todos nós temos um celular em mãos e podemos baixar um aplicativo em questão de segundos. Logo na primeira cena, entretanto, o sobrenatural sobrepõe a realidade virtual e a história apresenta uma desconexão. 



Neste cenário, a jovem enfermeira dedicada Quinn Harris (Elizabeth Lail) tenta acalmar um dos seus pacientes sobre os procedimentos de uma cirurgia, a qual ele acredita veementemente que não sobreviverá. O motivo é um cronômetro regressivo na tela do seu celular, apontando 19 horas e alguns minutos, isto é, o tempo de sua vida. Se saber que a vida é limitada já é desesperador para o ser humano, imagina saber exatamente o seu segundo fatal. 

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Pois esta é a receita de pânico criada por Dec, no entanto, ele esqueceu grande parte dos ingredientes para dar gosto à sua criação. Até então, a gente podia esperar um filme de mistério sobre transmissão de maldições, tal como os vibrantes A Corrente do Mal (2015) e Arraste-Me para o Inferno (2009). Contudo, este não é o caminho escolhido pelo cineasta. Na verdade, não é destacado nenhum fundamento para a maldição perseguir certos indivíduos e não outros. Algumas pessoas baixam o aplicativo e descobrem ter algumas décadas de vida e nada ocorre. Agora, para aquelas com alguns dias ou apenas horas, a “morte” parece implacável. 

Ou seja, se a pessoa não baixasse o aplicativo, ela morreria naturalmente, mas quando ela descobre seu prazo e, consequentemente, tenta proteger-se, ela quebra as regras e um demônio vem persegui-la para levá-la no exato segundo previsto. Neste momento, é possível imaginar que a dinâmica do filme siga os caminhos já percorridos pela franquia Premonição (2000), entretanto, não se engane novamente. 

Com o tamanho de 60 GB (os celulares norte-americanos são mágicos!), o app Countdown possui uma lista com os horários de vida de todos os seus usuários e uma mensagem diabólica em latim no seu código. Obviamente, é impossível deletá-lo e, mesmo com o celular quebrado, o aplicativo funciona. Se a pessoa comprar um aparelho completamente novo, ele instala-se sozinho. Seria mais fácil evitar qualquer contato com um telefone, certo? Errado. Porque o filme não teria os berros do aplicativo para alertar que a morte está à espreita e tentar – forçadamente – assustar o público de sobressalto. 

Em busca de encontrar uma solução, Quinn conhece Matt (Jordan Calloway) com o seu mesmo dilema na loja de celulares. Ao hackear o app, ela descobre que a sua irmã caçula (Talitha Eliana Bateman) também está em perigo. Dentro da narrativa, Quinn tenta salvar a irmã, tem um breve romance com Matt, sofre assédio sexual do médico do hospital (Peter Facinelli) e culpa-se pela morte da mãe. Em outras palavras, são muitas linhas narrativas com intercalações sobrepostas e sem harmonia. 

A fim de preencher as lacunas do filme, Justin Dec ainda adiciona um padre (P.J. Byrne) fanático por demônios. O personagem funciona como um alívio cômico, porém, os próprios atores sentem-se perdidos em cena por conta da destruição de uma ambientação de suspense para um elemento de paródia. Em consequência disso, o enredo não consegue ser assustador e nem engraçado. 

No fim das contas, A Hora da Sua Morte segue uma cartilha da sagaz heroína contra o mal, no entanto, Elizabeth Lail (da série Você) é pouco cativante. A atriz não emociona, não tem carisma e não consegue o desempenho à altura do papel, por exemplo, como Jessica Rothe, em A Morte te dá Parabéns (2017). Com um roteiro cheio de falhas, a mensagem da obra talvez seja um aviso para que os usuários leiam os termos e condições de todos os produtos antes de aceitá-los em seus celulares.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Baseado no contexto social da juventude moderna, a qual utiliza dezenas de aplicativos inúteis em seu smartphone, A Hora da Sua Morte (Countdown) apresenta a ideia de uma ferramenta onisciente e detentora do saber do exato momento da sua morte. Uma mistura das brincadeiras das redes sociais sobre predições futuras aliada a uma corrente esotérica de maldição, lançada sobre o usuário caso ele quebre os termos de acordo. 

Debutante em longas-metragens, Justin Dec é o homem por trás da ideia e construção dessa atmosfera de hiperconectividade e execução sumária. À primeira vista, o filme apresenta-se como um atraente enredo para sustos e entretenimento, afinal de contas todos nós temos um celular em mãos e podemos baixar um aplicativo em questão de segundos. Logo na primeira cena, entretanto, o sobrenatural sobrepõe a realidade virtual e a história apresenta uma desconexão. 

Neste cenário, a jovem enfermeira dedicada Quinn Harris (Elizabeth Lail) tenta acalmar um dos seus pacientes sobre os procedimentos de uma cirurgia, a qual ele acredita veementemente que não sobreviverá. O motivo é um cronômetro regressivo na tela do seu celular, apontando 19 horas e alguns minutos, isto é, o tempo de sua vida. Se saber que a vida é limitada já é desesperador para o ser humano, imagina saber exatamente o seu segundo fatal. 

Pois esta é a receita de pânico criada por Dec, no entanto, ele esqueceu grande parte dos ingredientes para dar gosto à sua criação. Até então, a gente podia esperar um filme de mistério sobre transmissão de maldições, tal como os vibrantes A Corrente do Mal (2015) e Arraste-Me para o Inferno (2009). Contudo, este não é o caminho escolhido pelo cineasta. Na verdade, não é destacado nenhum fundamento para a maldição perseguir certos indivíduos e não outros. Algumas pessoas baixam o aplicativo e descobrem ter algumas décadas de vida e nada ocorre. Agora, para aquelas com alguns dias ou apenas horas, a “morte” parece implacável. 

Ou seja, se a pessoa não baixasse o aplicativo, ela morreria naturalmente, mas quando ela descobre seu prazo e, consequentemente, tenta proteger-se, ela quebra as regras e um demônio vem persegui-la para levá-la no exato segundo previsto. Neste momento, é possível imaginar que a dinâmica do filme siga os caminhos já percorridos pela franquia Premonição (2000), entretanto, não se engane novamente. 

Com o tamanho de 60 GB (os celulares norte-americanos são mágicos!), o app Countdown possui uma lista com os horários de vida de todos os seus usuários e uma mensagem diabólica em latim no seu código. Obviamente, é impossível deletá-lo e, mesmo com o celular quebrado, o aplicativo funciona. Se a pessoa comprar um aparelho completamente novo, ele instala-se sozinho. Seria mais fácil evitar qualquer contato com um telefone, certo? Errado. Porque o filme não teria os berros do aplicativo para alertar que a morte está à espreita e tentar – forçadamente – assustar o público de sobressalto. 

Em busca de encontrar uma solução, Quinn conhece Matt (Jordan Calloway) com o seu mesmo dilema na loja de celulares. Ao hackear o app, ela descobre que a sua irmã caçula (Talitha Eliana Bateman) também está em perigo. Dentro da narrativa, Quinn tenta salvar a irmã, tem um breve romance com Matt, sofre assédio sexual do médico do hospital (Peter Facinelli) e culpa-se pela morte da mãe. Em outras palavras, são muitas linhas narrativas com intercalações sobrepostas e sem harmonia. 

A fim de preencher as lacunas do filme, Justin Dec ainda adiciona um padre (P.J. Byrne) fanático por demônios. O personagem funciona como um alívio cômico, porém, os próprios atores sentem-se perdidos em cena por conta da destruição de uma ambientação de suspense para um elemento de paródia. Em consequência disso, o enredo não consegue ser assustador e nem engraçado. 

No fim das contas, A Hora da Sua Morte segue uma cartilha da sagaz heroína contra o mal, no entanto, Elizabeth Lail (da série Você) é pouco cativante. A atriz não emociona, não tem carisma e não consegue o desempenho à altura do papel, por exemplo, como Jessica Rothe, em A Morte te dá Parabéns (2017). Com um roteiro cheio de falhas, a mensagem da obra talvez seja um aviso para que os usuários leiam os termos e condições de todos os produtos antes de aceitá-los em seus celulares.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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