InícioCríticasCrítica | 'A Hora do Mal' finca os dentes em uma poderosa...

Crítica | ‘A Hora do Mal’ finca os dentes em uma poderosa e arrepiante narrativa


Em 2022, o diretor e roteirista Zach Cregger entregou aos fãs de terror um dos melhores do filme: Noites Brutais. Apostando fichas em um instigante e tenso suspense mesclado com os clássicos tropos de produções monstruosas, Cregger alcançou sucesso gigantesco entre os espectadores, apresentando elementos inéditos a um escopo movido pela luta pela sobrevivência – e que, de fato, chamou nossa atenção e abriu portas para que ele, inclusive, fosse contratado para comandar o já confirmado reboot de ‘Resident Evil’. Porém, antes de migrarmos para Raccoon City, Cregger nos convida a uma instigante e arrepiante história que ganhou o título de A Hora do Mal.

Com lançamento agendado para o dia 7 de agosto nos cinemas nacionais, o longa-metragem reúne um elenco de peso para uma jornada de tirar o fôlego e que, mais uma vez, remodela os convencionalismos do gênero para uma ambientação que nos fisga desde os primeiros segundos de tela. Aqui, somos convidados a uma pequena cidade do interior que é assolada por um evento inexplicável: às 2h17min da madrugada, todas as crianças da sala da Srta. Justine Gandy (Julia Garner) se levantaram de suas camas e saíram correndo noite adentro, desaparecendo sem deixar rastros – com exceção de uma, o jovem Alex Lilly (Cary Christopher). Mesmo com o trabalho incessante dos detetives e dos policiais, nenhuma é encontrada – e as suspeitas recaem sobre Justine, visto que apenas seus alunos sumiram.



Não demora muito até que ela, lidando com uma fraqueza por bebidas alcoólicas e tentando escapar dos fantasmas de um traumático passado que insistem em assombrá-la, comece a investigar por conta própria o que aconteceu, recorrendo à ajuda do tímido e introspectivo Alex e a inesperada aliança com Archer Graff (Josh Brolin), pai de um dos meninos que desapareceu e que se torna o primeiro a apontar dedos para Justine. Todavia, ao perceberem que as coisas são muito mais perigosas do que aparentam e podem estar conectadas com uma força maligna que se esconde em plena vista.

Cregger já mostrou que sabe como arquitetar um crescente suspense com seu longa-metragem anterior e, em sua mais nova empreitada, isso não seria diferente: através de pouco mais de duas horas, o realizador delineia inúmeras sequências bem estruturadas que focam cada qual em um personagem diferente, convergindo os múltiplos arcos a um ponto em comum que culmina em uma inesperada reviravolta e na consagração de uma mitologia que, com certeza, não esperávamos encontrar nesse projeto. Alguns problemas mancham a belíssima estrutura do filme, mas nada que não seja ofuscado pelo comprometimento do elenco e de uma equipe técnico-criativa muito talentosa.

Enquanto este que vos escreve não é muito fã de produções divididas em capítulos, o diretor abre espaço para essa divisão com uma ideia bem clara em mente e que se justifica para além de um capricho desnecessário. De maneira concisa, ele mostra que a presença dos protagonistas e coadjuvante não é páreo para uma maligna força que chega à cidade às escondidas e que, em pouco tempo, dá início a um reino de caos irrefreável e cujos macabros objetivos estão prestes a serem concretizados. Esse perigo toma forma através de Gladys Lilly (Amy Madigan), tia de Alex que, em um determinado dia, aparece à soleira da casa da família e mostra ser muito mais poderosa que uma idosa que precisa de cuidados – e, como imaginamos, está conectada com os bizarros eventos da comunidade.

Falar do trabalho do elenco mostra-se quase desnecessário, considerando que cada um dos atores escalados para o projeto já conquistou nossa atenção: temos a sempre incrível Garner, recém-saída de um trabalho fantástico no remake de ‘Lobisomem’, reitera sua versatilidade como a martirizada Justine, que se torna o bode expiatório de uma legião de pais e mães que exigem uma explicação e que alguém seja punido pelo que aconteceu às crianças; Brolin, ainda que seja um pouco desperdiçado, entrega uma sólida atuação como Archer e abraça o complexo arco de um pai que quer apenas encontrar o filho; mas são Christopher e Madigan quem roubam os holofotes em performances fabulosas e que amarram as pontas soltas em um glorioso desenlace que nos fascina pelo encontro entre  uma conturbada serenidade e uma letárgica melancolia.

Contando ainda com nomes como Alden Ehrenreich, Benedict Wong e June Diana Raphael, A Hora do Mal é mais um acerto de Zach Cregger no cenário do terror e um dos filmes mais impactantes e envolventes do ano – apresentando uma mixórdia incrível de terror, suspense e tiradas cômicas que funciona do começo ao fim e que deixa um proposital gostinho agridoce à medida que os créditos sobem às telas.

author avatar
Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
MATÉRIAS
CRÍTICAS

NOTÍCIAS