Em uma pequena cidade do interior do estado de Maine, a apatia de seus moradores se transforma em uma janela de oportunidade para uma inesperada manifestação vampiresca. Pacato, porém emocional, social e economicamente estéril, o pequeno município de Jerusalem’s Lot é um banquete de sangue à espera de Barlow & Straker, duas misteriosas criaturas que sorrateiramente invadem os pequenos cantos dessa terra esquecida, localizada nas extremidades dos Estados Unidos. Não é à toa que a obra original recebe o nome de Salem’s Lot. Ainda que no português não funcione tão bem como A Hora do Vampiro, a verdade é que o maior de todos os personagens da trama é de fato a cidade interiorana.
Com personagens peculiares cujas vidas giram em torno de pequenas fofocas locais, interesses amorosos e brigas no intervalo da escola, Jerusalem’s Lot é marcada pela falta de empatia de seus conterrâneos, que logo se movimentam mediante a inesperada chegada de um forasteiro, o escritor Ben Mears (Lewis Pullman). Ex-morador da cidade e à procura de uma nova história, sua fortuita visita desperta um fugaz sentimento de desconfiança. Observado por todos e realmente desejado por apenas uma pessoa, Susan Norton (Makenzie Leigh), sua presença vem acompanhada dos mesmos temores que destruirão o pouco de dignidade e humanidade que resta aos mulambos moradores.
Construindo a tensão desde o primeiro ato, A Hora do Vampiro erra por não saber desenvolvê-la muito bem em seus primeiros 40 minutos, tornando a trama arrastada e morosa. Com apenas vestígios de terror que salpicam a atmosfera e se incorporam ao design de produção, pouco é oferecido aos fãs do gênero em primeira instância. Para os impacientes, isso é tempo suficiente para desistir da trama. Para os esperançosos, é uma dose extra de paciência até chegar ao segundo ato, quando tudo finalmente acontece. E então, escalonando a trama de maneira mais enérgica e voraz, o cineasta Gary Dauberman se apressa para executar mortes mais sangrentas e capricha nas cenas de ação, finalmente entregando aquilo que tanto esperávamos.
Focando seu roteiro mais na cidade em si e na operacionalidade das criaturas noturnas, Dauberman deixa de lado o desenvolvimento mais complexo de seus personagens, entregando histórias de background perenes e risíveis. Ainda assim, A Hora do Vampiro consegue compensar esses próprios erros com ótimas cenas de confronto e uma caprichada caracterização física de seus vampiros. Com um visual mais sombrio que remete diretamente ao clássico Nosferatu, de 1922, eles são o grande destaque do longa, ao lado da sólida performance de Pullman, que conduz o protagonismo com os mesmos trejeitos e presença de um ator mais “old Hollywood”.
Conduzindo a audiência para um potente terceiro ato, o diretor e roteirista Dauberman segura o melhor para o fim, presenteando aqueles mais esperançosos com um desfecho intenso e caótico. Marcado por alguns exageros incoerentes que nos fazem torcer o nariz aqui e ali, seu fim honra a nossa disposição enquanto audiência e entrega o tipo de intensidade que se espera de um thriller de terror. E entre tropeços, cambaleios e alguns acertos genuínos, A Hora do Vampiro é mais uma adaptação de Stephen King que, longe de ser perfeita, é o suficiente para quem só quer um filme pipoca para curtir.