Brooke Shields tornou-se um dos maiores ícones dos anos 1980 após estrelar o clássico ‘Lagoa Azul’ – que, apesar de ter sido massacrado pelos críticos e rendido à atriz uma indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Atriz, fez um sucesso considerável de bilheteria e auxiliou em sua transição de modelo para performer. E, após ter colaborado com a Netflix com o romance ‘Um Castelo de Natal’, Shields voltou para mais um projeto com a gigante do streaming com a rom-com ‘A Mãe da Noiva’, atuando ao lado de nomes como Miranda Cosgrove e Benjamin Bratt em um projeto que, considerando o gênero de que estava se apropriando, tinha tudo para dar errado.
Dito e feito, o longa-metragem, que estreou hoje, 09 de maio, na plataforma, é um dos piores títulos de 2024 por simplesmente não trazer nenhum respiro de originalidade a um tipo de narrativa que já sofre com convencionalismos fadados ao fracasso. E isso não é tudo: a estrutura técnica e criativa do filme é tão cansativa, que fica difícil nos desvencilharmos dos clichês para absorver qualquer ponto positivo que a obra tenta nos entregar – seja nos pequenos ápices de atuação de um elenco que não parece conseguir se envolver com um roteiro pífio e medíocre, seja com breves shots panorâmicos e panfletários de um cenário idílico e que quer mascarar os múltiplos problemas que se estendem por pouco mais de uma hora e meia.
A trama gira em torno de Lana (Shields), uma respeitada cientista que vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando a filha, Emma (Cosgrove) anuncia que irá se casar com o jovem RJ (Sean Teale) – que é ninguém menos que o filho de um ex-namorado da faculdade chamado Will (Benjamin Bratt). Emma, que terá seu casamento patrocinado por uma companhia tecnológica que quer transformá-la na próxima digital influencer, leva sua família e poucos convidados a Phuket, uma paradisíaca ilha tailandesa, mas não conseguiria imaginar que uma história de tantas décadas atrás seria trazida de volta à tona em uma série de vai-e-véns que apenas revelam que tanto Lana quanto Will ainda não se superaram.
É notável como o espectro estrutural do longa-metragem parte de uma premissa bastante conhecida dentro do gênero das rom-coms. Aqui, temos uma predileção do diretor Mark Waters e do roteirista Robin Bernheim para uma espécie de comédia de costumes que foca no lovers-to-enemies-to-lovers em uma tentativa celebratória da importância da família e do amor – e nada disso seria um empecilho caso o projeto, em si, não procurasse dar um passo maior que a perna ou ao menos fingisse se importar com alguma coisa além de um produto manufaturado e sem vida. E tudo soa mais escabroso quando percebemos que absolutamente nenhum ator ou atriz possui química, entregando diálogos vencidos apenas para tapar os enormes buracos em cada ato.
É irônico como Waters vem passando por certa fadiga criativa nos últimos anos. O cineasta, que outrora havia nos agraciado com os clássicos ‘Sexta-Feira Muito Louca’ e ‘Meninas Malvadas’, e até mesmo com a divertida adaptação de ‘As Crônicas de Spiderwick’, se vê preso em uma década infindável de fracassos que incluiu ‘Magic Camp’ e ‘Ele é o Cara’ (duas produções que preferiríamos ter esquecido assim que estrearam) – e, agora, ele repete erros similares com essa comédia romântica nada memorável. Não há nenhum conflito palpável a ser explorado pelos protagonistas e coadjuvantes além de uma história de amor exaurível e que já sabemos como irá acabar; não há quaisquer subtramas que ajudem a fomentar o mínimo que seja de um escape cômico ou uma paixonite inesperada; e, sem sombra de dúvida, não há qualquer elemento que fique gravado na memória quando os créditos de encerramento sobem à tela.
Shields é a única que parece se importar com a personagem que lhe é dada, acompanhada de perto pelo charme latino de Bratt e por sutilezas interessantes que entram em contraste com a personalidade quase insana de Lana. Entretanto, Cosgrove e Teale, posando como o casal principal, não possuem uma breve centelha de química que seja, como se estivessem sido forçados a contrair matrimônio; Chad Michael Murray, interpretando Lucas, não tem para onde escapar de um personagem totalmente descartável e sem peso significativo no enredo; e Rachael Harris, dando vida à Janice, irmã de Lana, é desperdiçada em seu ótimo timing cômico ao não receber um arco próprio que a dê mais personalidade.
A verdade é que, em se tratando de uma comédia romântica, não poderíamos esperar algo muito além das obviedades em ‘A Mãe da Noiva’. Porém, quando comparamos o título com outras produções do gênero, como os recentes ‘Todos Menos Você’ e ‘Upgraded: As Cores do Amor’, não podemos deixar de sentir uma frustração ao pensar que, com um pouco mais de comprometimento e de cautela, o resultado teria sido ao menos aprazível em oposição a um amontoado de fórmulas imemoráveis.