A força maternal numa busca imprevisível pela verdade. Premiado no Festival de Gramado e de Vitória, o novo longa-metragem do cineasta Cristiano Burlan, A Mãe, nos leva até a periferia da maior cidade do país onde somos guiados para momentos de tensão, dor, sofrimento, de uma busca desesperada de uma mãe por um filho que desapareceu do dia para noite e se vê em conflitos com vários lados de uma violência constante. No papel principal, a premiada atriz brasileira Marcélia Cartaxo mais uma vez comove o espectador com uma atuação emocionante.
Na trama, conhecemos Dona Maria (Marcélia Cartaxo), uma nordestina, de Cajazeiras (Paraíba) que mora em uma casa humilde na periferia de São Paulo faz alguns anos, lugar onde mora com o único filho, o adolescente Valdo, desde que ele tinha três anos. Ela é camelô pelas ruas do centro. Certo dia, após o filho sair para se divertir e ir tentar a sorte numa peneira de futebol, ele desaparece, levando Maria a uma busca incansável para saber todas as verdades desse desaparecimento. Durante essa árdua estrada onde poucos a ajudam, acaba entrando em conflito com traficantes e com a polícia.
A narrativa navega por um recorte de um Brasil da burocracia, da insensibilidade, do medo, da mentira, do conflito de interesses. Dona Maria é uma nordestina que tenta sobreviver ao caos urbano da maior cidade do país, onde os preços só aumentam, onde o preconceito está por perto, onde a justiça se mostra para poucos, onde inocentes se veem presos em guerras urbanas, onde a polícia nem sempre protege, onde a violência é contínua e vem de todos os lados. Envolto a isso, Maria enfrenta o mistério de uma perda, um alguém que ela não poderá se despedir, mesmo assim não desgruda do pensamento de buscar a verdade que acaba culminando em uma espécie de grito de socorro em uma verdadeira reação contra a violência do Estado. No projeto, muito bem dirigido por Burlan, há menção a uma organização chamada ‘Mães de Maio’ composta por mães, familiares e amigos de vítimas de crimes cometidos em maio de 2006 em São Paulo, crimes esses ligados à violência policial.
A Mãe, que também foi exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é um retrato comovente de uma mulher que luta contra os absurdos da violência policial em busca de conseguir seguir em frente após parte dela desaparecer em uma cidade que para muitos é sinônimo de medo.