Com umas poucas salas de cinema reabrindo em algumas cidades no Brasil, devagarinho as distribuidoras vão liberando algumas sessões de filmes inéditos, para ir testando o público e arrecadar alguma bilheteria. E, bom, a experiência do cinema também se completa quando a gente mata a saudades até mesmo de assistir a um filminho de terror beeem ruizinho na telona né, como este ‘A Maldição do Espelho’, novo lançamento do mês.
Olya (Angelina Strechina) e Artyom (Daniil Izotov) são dois irmãos que estão no carro com a mãe quando sofrem um terrível acidente e acabam se tornando órfãos. Sem terem com quem ficar, acabam indo para uma escola-orfanato isolada no meio do nada, onde outras crianças e adolescentes moram durante a semana porque os pais não têm tempo para eles. Uma vez lá, eles são orientados pelo professor Igor (Valeriy Pankov) e conhecem outros estudantes, mas Artyom sente muita saudade da mãe e, numa noite, eles acabam invocando a Rainha de Espadas, contando a ela seus desejos mais profundos.
Como dá pra ver, o argumento de Maria Ogneva é bem frágil, pedindo ao espectador que simplesmente aceite as motivações dos personagens mesmo que eles não façam por onde. O roteiro parece o tempo todo se distrair com novos elementos, sem conseguir focar em encaminhar a história para uma direção plausível. Começa com o tal acidente de carro, pula pras crianças indo pro internato (sem lhes dar tempo para sofrer), aí do nada Olya passa a detestar e se afastar do irmão, do nada o professor Igor sabe muito mais do que aparenta saber, do nada esses e outros personagens tomam atitudes cujos embasamentos não são bem trabalhados. E, embora o filme tenha um final (ufa!), todo o caminho percorrido até ele é um cansativo ziguezague.
A direção de Aleksandr Domogarov parece seguir bem a cartilha de segurança, obedecendo o passo a passo mas sem pensar muito no que está reproduzindo. Portanto, as cenas parecem encaixadas lado a lado, não como uma sequência de desencadeamento de fatos. Com tantos personagens para serem explorados, o diretor não foca nem nos protagonistas, nem nos coadjuvantes – estes, por suas vezes, têm seus lados obscuros tão somente jogados na tela, sequer moldados.
Vale lembrar também que ‘A Maldição do Espelho’ é uma sequência de um outro filme dessa franquia da Rainha de Espadas, mas, embora tenha alguma ligação com a produção anterior, ‘A Maldição do Espelho’ pode ser visto isoladamente, sem prejuízo da compreensão da história – ou, ao menos, esse não será o motivo para não se entender esse longa tão modorrento.
Enquanto produção do gênero terror, ‘A Maldição do Espelho’ entedia. Não assusta nem quando a monstrenga aparece. A única coisa bacana neste filme é saber que é um exemplar de terror russo – e valorizar o fato de termos uma diversidade nas ofertas dos cinemas brasileiros. Mas, para quem está com saudade de um cineminha, ‘A Maldição do Espelho’ só serve para lembrar como é assistir um filme meia bomba em tela grande.