domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | A Matriarca – Rancor e Acidez Fermentam Vida de Charlotte Rampling em ÓTIMA Atuação

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Cada pessoa tem sua própria história de vida. E, mesmo entre quatro paredes, há nuances na vida de cada um que muitas vezes se mantêm em segredo durante muitos anos, ou até mesmo para sempre. Há segredos que se mantêm e outros que vêm à luz da verdade à força das circunstâncias dos acontecimentos. Fato é que por mais que conheçamos as pessoas, familiares queridos de nosso convívio, sempre haverá camadas sobre a vida dessas pessoas as quais desconheceremos e que, quando reveladas, poderão causar choque ou outros sentimentos nas pessoas ao redor. É o que acontece no filme ‘A Matriarca’, drama que estreia essa semana nas salas de cinema brasileiras.



Sam (George Ferrier, de ‘Um de Nós Está Mentindo’) é um jovem calado, de certa forma introvertido, que estuda em um internato e que agora que há uma pequena pausa nos estudos, volta para a casa de seu pai Robert (Marton Csokas) para passar uns dias com ele. Para sua surpresa, seu pai diz que durante sua estadia eles receberão a visita de Ruth (Charlotte Rampling), a avó do rapaz. Sam estranha o convite, uma vez que o Robert passara a vida inteira reclamando da própria mãe e da infância terrível que tivera com ela. Sua surpresa fica ainda maior quando Ruth chega à casa e se revela uma pessoa horrível. Não bastasse o cenário péssimo para umas férias, o pai de Sam comunica que irá viajar a trabalho por uns dias e que confia no filho para ficar na casa cuidando da avó durante sua ausência junto com Sarah (Edith Poor), cuidadora da idosa. Sem opção, uma vez que a avó é quem sustenta financeiramente a família, Sam terá que lidar todos os dias com uma avó voluntariosa, autoritária e cheia de mistérios que transformarão suas férias – e sua vida – para sempre.

Atualmente em cartaz com a franquia ‘Duna’ (cuja segunda parte está sendo exibida nos cinemas brasileiros) o destaque de ‘A Matriarca’, tal como anuncia o título e como é de se esperar, está mesmo na atuação de Charlotte Rampling, que emprega toda a sua vasta experiência para construir uma protagonista áspera, grosseira, terrivelmente absurda, mas que mesmo com toda a sua acidez consegue manter aqueles 10% de carisma nos quais o espectador se prende para não odiar por completo esta personagem. Mantendo-se frequentemente duas caras, Charlotte Rampling caminha ora por uma trilha autoritária, ora por um trajeto do afeto descompensado, que se manifesta aos tropeços por falta de prática. Assim, Charlotte entrega ao espectador o difícil trabalho de decidir se odeia ou se sente pena dessa avó que morde e assopra ao mesmo tempo.

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Esse é o cerne dessa produção neozelandesa, que, mesmo ao escolher colocar a história centrada pelo ponto de vista do jovem Sam, atribui à personagem-título todos os acontecimentos da trama, de modo que os elementos giram em torno das atitudes dessa matriarca e as consequências a partir delas. É uma personagem que não é exemplo social a ser seguido, mas tem muitas camadas humanas em todas as suas falhas, fazendo com que o espectador reconheça nela alguém que conhece ou já conheceu.

Dirigido com dedicação e escrito por Matthew J. Saville,  ‘A Matriarca’ é um drama familiar recheado de erros e acertos que são escondidos diariamente para debaixo do tapete. Uma história que faz refletir sobre o tempo que temos para conviver em família, mesmo com aqueles familiares não tão queridos, afinal, na vida família tudo que temos.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Sam (George Ferrier, de ‘Um de Nós Está Mentindo’) é um jovem calado, de certa forma introvertido, que estuda em um internato e que agora que há uma pequena pausa nos estudos, volta para a casa de seu pai Robert (Marton Csokas) para passar uns dias com ele. Para sua surpresa, seu pai diz que durante sua estadia eles receberão a visita de Ruth (Charlotte Rampling), a avó do rapaz. Sam estranha o convite, uma vez que o Robert passara a vida inteira reclamando da própria mãe e da infância terrível que tivera com ela. Sua surpresa fica ainda maior quando Ruth chega à casa e se revela uma pessoa horrível. Não bastasse o cenário péssimo para umas férias, o pai de Sam comunica que irá viajar a trabalho por uns dias e que confia no filho para ficar na casa cuidando da avó durante sua ausência junto com Sarah (Edith Poor), cuidadora da idosa. Sem opção, uma vez que a avó é quem sustenta financeiramente a família, Sam terá que lidar todos os dias com uma avó voluntariosa, autoritária e cheia de mistérios que transformarão suas férias – e sua vida – para sempre.

Atualmente em cartaz com a franquia ‘Duna’ (cuja segunda parte está sendo exibida nos cinemas brasileiros) o destaque de ‘A Matriarca’, tal como anuncia o título e como é de se esperar, está mesmo na atuação de Charlotte Rampling, que emprega toda a sua vasta experiência para construir uma protagonista áspera, grosseira, terrivelmente absurda, mas que mesmo com toda a sua acidez consegue manter aqueles 10% de carisma nos quais o espectador se prende para não odiar por completo esta personagem. Mantendo-se frequentemente duas caras, Charlotte Rampling caminha ora por uma trilha autoritária, ora por um trajeto do afeto descompensado, que se manifesta aos tropeços por falta de prática. Assim, Charlotte entrega ao espectador o difícil trabalho de decidir se odeia ou se sente pena dessa avó que morde e assopra ao mesmo tempo.

Esse é o cerne dessa produção neozelandesa, que, mesmo ao escolher colocar a história centrada pelo ponto de vista do jovem Sam, atribui à personagem-título todos os acontecimentos da trama, de modo que os elementos giram em torno das atitudes dessa matriarca e as consequências a partir delas. É uma personagem que não é exemplo social a ser seguido, mas tem muitas camadas humanas em todas as suas falhas, fazendo com que o espectador reconheça nela alguém que conhece ou já conheceu.

Dirigido com dedicação e escrito por Matthew J. Saville,  ‘A Matriarca’ é um drama familiar recheado de erros e acertos que são escondidos diariamente para debaixo do tapete. Uma história que faz refletir sobre o tempo que temos para conviver em família, mesmo com aqueles familiares não tão queridos, afinal, na vida família tudo que temos.

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