Às vezes nos deparamos com notícias de jornal aterrorizantes, que nos fazem pensar no absurdo da crueldade humana. Alguns desses casos se tornam emblemáticos, embalando uma onda recente de seriados conhecidos como true crime, que estão invadindo as plataformas de streaming. Mas fato é que tem coisas que preferíamos que fosse ficção, pois a crueza da realidade é demais. Partindo desse mote, chega esta semana aos cinemas brasileiros o filme francês ‘A Noite do Dia 12’.
Clara (Lula Cotton-Frapier) era uma jovem bonita e sonhadora que, durante uma visita a casa de uma amiga, decidiu ir embora para a sua própria casa. Porém, no caminho, foi atacada por um criminoso que acabou tirando a sua vida. O caso desse homicídio cai nas mãos do experiente investigador Boris (Julien Frison), que está às vésperas de se aposentar, e de Yohan (Bastien Bouillon), um jovem talento da polícia que herdará o posto de Boris. O brutal assassinato rapidamente se transforma em um intrincado quebra-cabeças com os quais a corregedoria deverá lidar. Entre entrevistas com suspeitos e conflitos pessoais, ambos os investigadores repensaram suas carreiras enquanto uma pergunta permanece no ar: quem matou Clara?
Com duas horas de duração ‘A Noite do Dia 12’ é um filme de ficção que, como ele mesmo avisa, poderia muito bem ser baseado em uma história real. E a realidade é que, se fosse real, talvez fosse ainda pior do que vemos no filme de Dominik Moll.
O roteiro de Pauline Guéna e Gilles Marchand com o próprio Dominik Moll aborda a questão do feminicídio pela perspectiva do universo masculino, fazendo um recorte desse universo para o mundo particular de uma delegacia composta apenas por funcionários homens. Nesse cenário, o roteiro alcança seu objetivo em chocar e incomodar um bocado ao espectador, com falas, atitudes e principalmente a falta de empatia desses personagens com relação ao crime ocorrido. Esse é o ponto fundamental de ‘A Noite do Dia 12’: gerar o debate e a crítica ao sistema, que é onde se apoia o argumento do longa.
Assim, o suspense de Dominik Moll vai costurando uma colcha de retalhos que envolve a investigação do crime, junto com a vida particular dos dois protagonistas em conflito, dentro desse cenário masculino que passa por transformações a partir da aposentadoria de um deles. O mais interessante nesse conjunto é observar que de todos as cenas, são as falas de duas personagens mulheres que promovem o grande convite à reflexão.
A construção dos personagens suspeitos recai em propositais estereótipos para ampliar um leque de cenários e possibilidades, mas, acima de tudo, quer gerar desconforto justamente por evidenciar os pré-julgamentos sociais. ‘A Noite do Dia 12’ tem um roteiro inteligente, com um bocado de camadas maquiadas em uma história simples e quotidiana que poderia se passar em qualquer país.
‘A Noite do Dia 12’ é desses filmes que você não dá nada por ele e sai da sala de cinema refletindo. Felizmente é um filme de ficção, mas poderia ser vida real.