quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | A Pé Ele Não Vai Longe – As atuações de Joaquin Phoenix e Jonah Hill são grandiosas

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A Pé Ele Não Vai Longe (Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot) é um filme de trajetória, neste caso do cartunista John Callahan, falecido em 2010. Com base nas memórias do cartunista, Gus Van Sant (Gênio Indomável) criou um filme de narrativa entrecortada para representar a história de alcoolismo do artista, sua inabilidade em lidar com a questão, o acidente que lhe deixou paraplégico, o seu desenvolvimento artístico e, sobretudo, com isto está interligado.

De forma pragmática, o diretor nos absorve para os acontecimentos da vida de Callahan (Joaquin Phoenix) através das palavras do próprio artista. Em detalhes, ele conta o dia do acidente, desde o momento em que acordou, todos os seus passos, festas e bebidas até a hora trágica, da qual ele não tem registro. Grande parte do seu testemunho é projetado por meio de um pequeno grupo de Alcoólicos Anônimos, liderado por Donny (Jonah Hill).



Ao mesmo tempo em que vemos seu restabelecimento, somos confrontados pelas diversas vezes em que a tentação do álcool o ganhou, os seus momentos de constrangimento e agruras de suas limitações. Gus Van Sant consegue fazer o processo de reabilitação mais ameno e romantizado, em contrapartida, apresenta a dureza das atividades cotidianas em total dependência de terceiros.

Vale destacar a atuação de Joaquin Phoenix que se apresenta como um camaleão de Hollywood, vide suas últimas incursões com Lynne Ramsay (Você Nunca Esteve Realmente Aqui), Spike Jonze (Ela) e Paul Thomas Anderson (O Mestre). Para somar a essas atuações excêntricas e perturbadoras, o filme transmite toda idiossincrasia do cartunista, entre a fuga da sátira e a busca de perdoar a si mesmo.

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Surpreendentemente, Jonah Hill incorpora seu personagem mais autêntico no gênero dramático, um jovem rico vítima de uma doença fatal e conselheiro de outros tantos desafortunados. A parceria entre ele e Phoenix é desenvolvida paulatinamente culminando com uma bonita cena de despedida, mas os momentos mais intensos são ao lado de Jack Black (O Mistério do Relógio na Parede), seja antes do acidente como parceiro de farra, seja depois ao perdoá-lo em busca de encontrar a sua absolvição.

A aparição de Rooney Mara (Maria Madalena) durante a reabilitação de Callahan rende outro momento muito bem realizado por Gus Van Sant. Sua presença inspira tranquilidade e esperança ao protagonista, no entanto, a sua personagem é bastante secundária na história e os outros encontros dos personagens são superficiais. Um desperdício ao talento da atriz, mas compreensível ao entendermos que a principal questão do protagonista é a luta contra si mesmo e o seu refúgio no álcool, motivada pelo abandono da mãe biológica (Mireille Enos).

Seu humor controverso começa a ganhar espaço na mídia e os desenhos se transformam em uma sublimação de suas angústias. O filme é quase estruturado como um processo terapêutico com os momentos de angústia e os de evasão. Entra para a gênero de adaptações de histórias de superação da vida real, em que as atuações são seu maior trunfo, assim como O Que Te Faz Mais Forte (2017), que contava a história de Jeff Bauman (interpretado por Jake Gyllenhaal), vítima do atentado à Maratona de Boston. A Pé Ele Não Vai Longe é um bom filme, mas não cativa o espectador.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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A Pé Ele Não Vai Longe (Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot) é um filme de trajetória, neste caso do cartunista John Callahan, falecido em 2010. Com base nas memórias do cartunista, Gus Van Sant (Gênio Indomável) criou um filme de narrativa entrecortada para representar a história de alcoolismo do artista, sua inabilidade em lidar com a questão, o acidente que lhe deixou paraplégico, o seu desenvolvimento artístico e, sobretudo, com isto está interligado.

De forma pragmática, o diretor nos absorve para os acontecimentos da vida de Callahan (Joaquin Phoenix) através das palavras do próprio artista. Em detalhes, ele conta o dia do acidente, desde o momento em que acordou, todos os seus passos, festas e bebidas até a hora trágica, da qual ele não tem registro. Grande parte do seu testemunho é projetado por meio de um pequeno grupo de Alcoólicos Anônimos, liderado por Donny (Jonah Hill).

Ao mesmo tempo em que vemos seu restabelecimento, somos confrontados pelas diversas vezes em que a tentação do álcool o ganhou, os seus momentos de constrangimento e agruras de suas limitações. Gus Van Sant consegue fazer o processo de reabilitação mais ameno e romantizado, em contrapartida, apresenta a dureza das atividades cotidianas em total dependência de terceiros.

Vale destacar a atuação de Joaquin Phoenix que se apresenta como um camaleão de Hollywood, vide suas últimas incursões com Lynne Ramsay (Você Nunca Esteve Realmente Aqui), Spike Jonze (Ela) e Paul Thomas Anderson (O Mestre). Para somar a essas atuações excêntricas e perturbadoras, o filme transmite toda idiossincrasia do cartunista, entre a fuga da sátira e a busca de perdoar a si mesmo.

Surpreendentemente, Jonah Hill incorpora seu personagem mais autêntico no gênero dramático, um jovem rico vítima de uma doença fatal e conselheiro de outros tantos desafortunados. A parceria entre ele e Phoenix é desenvolvida paulatinamente culminando com uma bonita cena de despedida, mas os momentos mais intensos são ao lado de Jack Black (O Mistério do Relógio na Parede), seja antes do acidente como parceiro de farra, seja depois ao perdoá-lo em busca de encontrar a sua absolvição.

A aparição de Rooney Mara (Maria Madalena) durante a reabilitação de Callahan rende outro momento muito bem realizado por Gus Van Sant. Sua presença inspira tranquilidade e esperança ao protagonista, no entanto, a sua personagem é bastante secundária na história e os outros encontros dos personagens são superficiais. Um desperdício ao talento da atriz, mas compreensível ao entendermos que a principal questão do protagonista é a luta contra si mesmo e o seu refúgio no álcool, motivada pelo abandono da mãe biológica (Mireille Enos).

Seu humor controverso começa a ganhar espaço na mídia e os desenhos se transformam em uma sublimação de suas angústias. O filme é quase estruturado como um processo terapêutico com os momentos de angústia e os de evasão. Entra para a gênero de adaptações de histórias de superação da vida real, em que as atuações são seu maior trunfo, assim como O Que Te Faz Mais Forte (2017), que contava a história de Jeff Bauman (interpretado por Jake Gyllenhaal), vítima do atentado à Maratona de Boston. A Pé Ele Não Vai Longe é um bom filme, mas não cativa o espectador.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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