Nos últimos anos, com a computação gráfica dominando os principais sucessos de bilheteria do cinema mundial, houve uma série de filmes lançados que tentaram compensar histórias fracas com efeitos especiais espetaculares. Houve também casos de longas com tramas ruins e um CGI tão fraco quanto. No entanto, o filme do qual vamos falar hoje seguiu o caminho oposto ao trazer um roteiro simples, mas eficaz, e os piores efeitos visuais que você possa imaginar.
Em A Piscina, acompanhamos um jovem que acorda cheio de machucados e com uma dor incômoda. Então, quando ele olha pra baixo, se depara com um crocodilo enorme mastigando sua perna. O rapaz tenta se livrar do bicho e então nos é revelado que ele está preso em uma piscina vazia com o animal. Então, a direção volta no tempo e mostra como tudo começou. O protagonista estava trabalhando como assistente na gravação de um comercial. Então, quando as filmagens chegaram ao fim, ele aproveitou para aproveitar a piscina com 6 metros de profundidade. O problema é que enquanto ele cochilava em uma boia, seu amigo de trabalho deixou o sugador ligado e foi embora. Assim, quando o menino acorda, a piscina está com a água pela metade e ele não consegue mais sair.
Para piorar a situação, um crocodilo escapou da região com as enchentes que aconteceram dias antes e acaba entrando na piscina. Como se isso não fosse desesperador o suficiente, a desatenta namorada do rapaz vai a seu encontro, não percebe que a piscina está pela metade e sem escadas, tenta mergulhar e acaba se machucando. Agora, a dupla tentará sobreviver ao crocodilo e às condições climáticas, enquanto procuram uma forma de escapar dessa situação terrível.
Conduzido de forma não linear, o filme já apresenta seu protagonista numa situação deplorável, fazendo o público se questionar como ele chegou àquele ponto. Então, já tendo noção de que ele irá se machucar bastante ao longo da história, o público fica aflito a cada tentativa de fuga que dá errado. E a direção também não poupa o coitado, que passa por situações dignas de um ser humano desesperado pela sobrevivência, se prestando a arriscar sua integridade física para poder sobreviver.
Para mostrar que ele está disposto a tudo, a direção usa de cenas cheias de sangue e com um realismo incômodo, como no momento em que ele machuca o dedo, que vai inflamando conforme os dias se passam, e as oportunidades diversas de escapar que se esvaem num piscar de olhos, mas não sem deixar sequelas físicas ou emocionais no coitado.
Mas o grande mérito mesmo é saber explorar o cenário e o mundo ao redor desta dupla isolada. Ao longo do filme, o roteiro e a direção criam diversas possibilidades para que o jovem escape. Seja um entregador que aparece na hora errada, um telefone que começa a vibrar em direção a piscina ou até mesmo um drone que sobrevoe a região, tudo indica que ele irá escapar. Porém, seja pelas ações do próprio garoto ou pelo infortúnio de aparecerem na hora errada, tudo que poderia ajudá-lo não funciona. Ou pior: complica ainda mais sua vida.
É uma ferramenta muito inteligente da direção, que cria o suspense por meio da aflição e da frustração. Com isso, o público começa a torcer pelo protagonista, que passa o filme inteiro sob a ameaça de um terrível crocodilo faminto. E talvez por entender que a computação gráfica do animal estava explicitamente ruim, a direção realmente usa o crocodilo apenas como apoio para o drama e a sensação de perigo, deixando o suspense mesmo para as tentativas de fuga do menino.
E por mais que isso tivesse tudo para dar errado, a direção de Ping Lumpraploeng é tão competente em criar um clima de agonia e desespero, que o público até faz vista grossa para algumas (in)conveniências do roteiro diante do clima de tensão criado. Porém, fora o CGI do crocodilo, outro ponto negativo é o drama do casal. Há uma subtrama deles discutindo sobre ter ou não um filho, que pouco acrescenta ao desenrolar da história, mas é compreensível que tenham apelado para isso, talvez como forma de motivar ainda mais o protagonista em sua fuga.
No final das contas, esse suspense tailandês de apenas 1h30 se mostra surpreendentemente bom, apesar da má primeira impressão causada pelo crocodilo. E por se tratar de um suspense oriental, há situações realmente distantes do cotidiano do entretenimento do ocidente, que podem causar um desconforto ainda maior do que ver um rapaz se machucando e sofrendo de diferentes formas. É um bom entretenimento para quem quer se angustiar com uma obra interessante e diferente dos suspenses padrões de Hollywood. Sem contar que esse filme aqui é um tapa na cara dos diretores de blockbusters que se apoiam num orçamento gigantesco e não conseguem criar 1/3 da tensão dessa história de um rapaz preso numa piscina com um crocodilo. Vale a assistida.
A Piscina está disponível no catálogo do Amazon Prime Video.