Recentemente o mundo passou a falar mais abertamente sobre saúde mental. A importância de termos equilibrado, resolvido assuntos e traumas que existem na nossa cabeça, na nossa memória, e que podem acabar influenciando o nosso cotidiano e a forma como interagimos socialmente com os outros. Mas o que hoje chamamos de saúde mental é fruto de muito estudo sobre a psique humana, cuja uma das pessoas que mais se dedicaram ao assunto foi o checo Sigmund Freud, popularmente conhecido como o pai da psicanálise. Freud influenciou todo o século XX e continua a influenciar o pensar no século XXI, inclusive no cinema, rendendo histórias como a que pode ser vista em ‘A Última Sessão de Freud’, filme que chegou esta semana para aluguel sob demanda nas principais plataformas.
Setembro, 1939. A Europa atravessa a 2ª Guerra Mundial, a Inglaterra declara sua oposição à Alemanha nazista e as pessoas tentam sobreviver aos bombardeios constantes nas cidades. Nesse contexto, Sigmund Freud (Anthony Hopkins, vencedor do Oscar) foge com sua filha Anna (Liv Lisa Fries) para a Inglaterra, onde começa a dar sinais de sofrer com dores intensas, a ponto de necessitar do uso de anti-inflamatórios. Certo dia, Freud se prepara para receber a visita de um jovem acadêmico da Universidade de Oxford, o escritor C. S. Lewis (Matthew Goode, de ‘O Jogo da Imitação’) para uma longa sessão de bate-papo, onde ambos revelarão minúcias de suas experiências pessoais e, juntos, atravessarão uma tarde de desabafos enquanto o mundo lá fora é bombardeado.
Baseado na peça de teatro homônima de Mark St. Germain, que, inclusive, já foi adaptada no Brasil e levou quase 100 mil pessoas ao teatro, a versão fílmica de ‘A Última Sessão de Freud’ acaba trazendo muito da característica da dramaturgia para o set, o que acaba, de certa forma, restringindo o dinamismo em cena. Por outro lado, isso significa que o diretor Matthew Brown confiou toda a sua produção no poder de interpretação da sua dupla de protagonistas – majoritariamente em Sir Anthony Hopkins. O resultado é que muitas das cenas, principalmente as do segundo ato, são um bocado verborrágicas, com diálogos longuíssimos e bastante intensos. Considerando que o assunto não é leve, é nesses momentos que Hopkins expõe seu talento, porém acaba ficando em demasia os debates Freud-Lewis, cansando o espectador com tanta informação.
O elemento mais interessante neste filme é a ideia desse encontro ficcional entre Freud e C. S. Lewis, o que dá margem para a imaginação de quem teria influenciado quem a partir desse encontro, especialmente porque no roteiro de Matthew Brown há diálogos de Lewis comentando sobre sua infância, o que permite ao espectador pensar nos primórdios da criação do que mais tarde seria ‘As Crônicas de Nárnia’, e também há menções sobre outro grande escritor de fantasia, J.R.R. Tolkien, amigo de Lewis, o que nos provoca a pensar que ambos escritores e Freud viveram no mesmo tempo, num contexto de guerra, e, ainda assim, criaram obras espetaculares.
‘A Última Sessão de Freud’ é um bom drama, porém bastante intenso. Não é exatamente um passatempo, posto que levanta debates importantes sobre diversos temas que, ao longo do século XX, foram aos poucos sendo abertamente discutidos.