domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Abe: Drama com Seu Jorge e Noah Schnapp provoca o paladar e uma profunda reflexão

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Abe já está em exibição nos cinemas brasileiros

Em tempos globais, tratar a arte, a culinária e a cultura de maneira segmentada é um tanto leviano demais. Em um contexto universal amplamente conectado pela tecnologia, o isolamento das manifestações artísticas já se faz antiquado. E essa fusão sinestésica é o grande cerne do mais novo filme do cineasta brasileiro Fernando Grostein Andrade. Levando seu talento para além mar e para além da nossa atmosfera tropical, ele estreia seu longa Abe em meio ao gélido clima invernal de Park City, trazendo uma acalentadora história sobre uma família multicultural cheia de conflitos de gerações, capaz de aquecer qualquer coração.



Como brasileiros, sabemos bem o que é nascer em extensos hibridismos raciais e culturais. Graças à nossa colonização, somos um pouco de tudo e de todos, com traços tão exóticos, incapazes de serem distinguidos por sua nacionalidade pelos olhos de um estrangeiro. Essa mistura brasileira ganha sua versão norte-americana, por meio da família do jovem Abe (Noah Schnapp). Fruto de um casamento cujas famílias vivem em lados sócio religiosos tão opostos, ele tenta casar a cultura árabe e muçulmana com a israelense e mediterrânea. Por meio de seu amor e talento nato pela culinária, dois mundos díspares vão encontrar um ponto de contato entre si: a boa e velha fome.

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Nessa jornada, Abe encontra Chico Catuaba (Seu Jorge), nome mais brasileiro impossível. Com seu carisma, fala escrachada e gingado, ele é a personificação da brasilidade, em termos de criatividade e autenticidade. Único, o personagem do talentoso cantor e ator é um deleite aos olhos da audiência e carrega em si a leveza do humor que permeia esse drama familiar tão profundo. E da maneira mais peculiar e inusitada possível, duas gerações de cozinheiros se colidem em uma bela amizade, regada por um sentimento de mentoria e quase paternidade, tamanha a afeição desenvolvida entre os protagonistas.

Com um roteiro simples, mas que reside na complexidade do ser humano, Abe enche nossos olhos com uma estética encantadora. Fazendo dos condimentos, temperos, frutas, verduras e legumes sua paleta de cores, Andrade entrega um design de produção cativante, a ponto de também despertar um apetite voraz na audiência. Trazendo alguns dos elementos da culinária local, como o saboroso dadinho de tapioca, ele apresenta o Brasil por aquilo que ele tem de melhor: seu povo e sua versátil gastronomia. Encontrando as audiências mais diversas possíveis, o longa apresenta mais que a fusão gastronômica da família de Abe, trazendo também uma prazerosa fusão cultural entre Brasil e Estados Unidos. Com a presença de outros atores brasileiros, nos sentimos honrados como nação e ansiosos pela percepção da audiência que não faz parte do circuito tupiniquim.

E pela culinária e inocência de um garoto de 12 anos, uma profunda e importante reflexão sobre a dinâmica familiar é proporcionada ao público. Como um longa que estreou no Festival de Sundance na categoria Kids, ele permite que essa percepção seja vivenciada pelas mais distintas gerações, tratando também os simbolismos históricos do ato de sentar-se à mesa e degustar de uma refeição ao lado de alguém. Sensível, doce e delicado, o filme passa num piscar de olhos, tem uma narrativa ágil e bem desenvolvida, promovendo uma empatia instantânea no público.

Embalado por uma rica trilha sonora bem brasileira, Abe é aquele conto ideal para o Sundance. Focando sua trama nas sensações e percepções humanas, a produção cruza as fronteiras de um filme com temática gastronômica, se tornando – genuinamente – um longa sobre os dissabores da vida familiar intercultural. E ainda que apenas algumas tradições de países específicos sejam diretamente abordadas, o filme mantém sua universalidade, como sendo uma história capaz de muito mais que cativar, promovendo também um importante debate sobre o significado e o valor desse poderoso enlace inter-racial tão forte na contemporaneidade.

Filme assistido no Festival de Sundance 2019

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Como brasileiros, sabemos bem o que é nascer em extensos hibridismos raciais e culturais. Graças à nossa colonização, somos um pouco de tudo e de todos, com traços tão exóticos, incapazes de serem distinguidos por sua nacionalidade pelos olhos de um estrangeiro. Essa mistura brasileira ganha sua versão norte-americana, por meio da família do jovem Abe (Noah Schnapp). Fruto de um casamento cujas famílias vivem em lados sócio religiosos tão opostos, ele tenta casar a cultura árabe e muçulmana com a israelense e mediterrânea. Por meio de seu amor e talento nato pela culinária, dois mundos díspares vão encontrar um ponto de contato entre si: a boa e velha fome.

Nessa jornada, Abe encontra Chico Catuaba (Seu Jorge), nome mais brasileiro impossível. Com seu carisma, fala escrachada e gingado, ele é a personificação da brasilidade, em termos de criatividade e autenticidade. Único, o personagem do talentoso cantor e ator é um deleite aos olhos da audiência e carrega em si a leveza do humor que permeia esse drama familiar tão profundo. E da maneira mais peculiar e inusitada possível, duas gerações de cozinheiros se colidem em uma bela amizade, regada por um sentimento de mentoria e quase paternidade, tamanha a afeição desenvolvida entre os protagonistas.

Com um roteiro simples, mas que reside na complexidade do ser humano, Abe enche nossos olhos com uma estética encantadora. Fazendo dos condimentos, temperos, frutas, verduras e legumes sua paleta de cores, Andrade entrega um design de produção cativante, a ponto de também despertar um apetite voraz na audiência. Trazendo alguns dos elementos da culinária local, como o saboroso dadinho de tapioca, ele apresenta o Brasil por aquilo que ele tem de melhor: seu povo e sua versátil gastronomia. Encontrando as audiências mais diversas possíveis, o longa apresenta mais que a fusão gastronômica da família de Abe, trazendo também uma prazerosa fusão cultural entre Brasil e Estados Unidos. Com a presença de outros atores brasileiros, nos sentimos honrados como nação e ansiosos pela percepção da audiência que não faz parte do circuito tupiniquim.

E pela culinária e inocência de um garoto de 12 anos, uma profunda e importante reflexão sobre a dinâmica familiar é proporcionada ao público. Como um longa que estreou no Festival de Sundance na categoria Kids, ele permite que essa percepção seja vivenciada pelas mais distintas gerações, tratando também os simbolismos históricos do ato de sentar-se à mesa e degustar de uma refeição ao lado de alguém. Sensível, doce e delicado, o filme passa num piscar de olhos, tem uma narrativa ágil e bem desenvolvida, promovendo uma empatia instantânea no público.

Embalado por uma rica trilha sonora bem brasileira, Abe é aquele conto ideal para o Sundance. Focando sua trama nas sensações e percepções humanas, a produção cruza as fronteiras de um filme com temática gastronômica, se tornando – genuinamente – um longa sobre os dissabores da vida familiar intercultural. E ainda que apenas algumas tradições de países específicos sejam diretamente abordadas, o filme mantém sua universalidade, como sendo uma história capaz de muito mais que cativar, promovendo também um importante debate sobre o significado e o valor desse poderoso enlace inter-racial tão forte na contemporaneidade.

Filme assistido no Festival de Sundance 2019

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