domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Adão Negro’ é um Filme Cansativo e Enrolado, Mas Bem Feito…

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Dói um pouco, como uma pessoa que acompanha as produções da DC Comics e também acompanha a longa carreira do ‘The Rock’, reconhecer que um dos filmes mais aguardados do ano – ao menos no quesito super-herói –, é um filme que não se encontra em nenhum quesito, e que a versão finalizada que a produtora entrega para os espectadores é uma bagunça só. Mas essa é a sensação que muitos espectadores terão ao assistir ao mais novo longa do universo da D.C., ‘Adão Negro‘, que chega essa semana aos cinemas brasileiros.



Há mais de 2 mil anos antes da Era Comum, Teth Adam (Dwayne Johnson) vivia como uma pessoa escravizada na cidade de Kahndaq, assim como todos os outros moradores. Certo dia, seu filho Hurut (Jalon Christian) encontrou uma pedra azul feita de eterium, mineral desejado pelo imperador para fazer uma coroa do mal. Porém, Hurut quer ver seu povo livre e inicia uma insurgência, o que enfurece o imperador, que acaba punindo com a morte aos revoltosos. Milhares de anos se passam até Adrianna (Sarah Shahi) começar a buscar a coroa feita de eterium, em um momento em que a cidade de Kahndaq está sob controle de uma perigosa milícia. Quando finalmente encontra o objeto, a milícia tenta roubá-lo dela, e, para se salvar, Adrianna invoca Teth Adam de sua tumba. Revivido após tanto tempo, Teth Adam só busca vingança, sem se importar com as consequências de seus atos, e isso desperta a atenção da Sociedade da Justiça, que enxerga nele uma ameaça e decide impedi-lo, apesar de reconhecer que seus poderes são muito superiores a qualquer herói da Terra.

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Como dá para ver por essa breve sinopse, o plot de ‘Adão Negro’ é uma bagunça só. O background do personagem é apresentado de maneira muito acelerada nos primeiros sete minutos do filme, num desfile de nomes e datas que pega o espectador desprevenido; esse prólogo é que deveria ser o filme que a DC deveria entregar aos fãs, mas, ao contrário de delinear e reforçar as origens desse novo herói (que, na real, é um anti-herói), de maneira a solidificá-lo no universo, o roteiro de Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani decide condensar a origem do herói e trazê-lo já pronto (e confuso) ao tempo contemporâneo.

Isso faz com que o espectador não entenda o por quê dos poderes, suas origens, suas motivações, etc: tudo que entendemos é que ele salva Adrianna e, portanto, deve ser um cara do bem. Colocando Teth Adam neste lugar de heroísmo, a inserção de quatro personagens-heróis – Senhor Destino (Pierce Brosnan), Cyclone (Quintessa Swindell), Gavião Negro (Aldis Hodge) e Esmaga-Átomo (Noah Centíneo) – como uma espécie de Liga da Justiça (perdão, Sociedade da Justiça) para conter esse herói faz com que o mote do longa seja a briga desses cinco personagens… relegando o verdadeiro vilão a um espaço que nem existe. Ou seja, o vilão, o vilãozão mesmo da história, acaba nem sendo o cara malvado, pois não fica claro seus objetivos, suas motivações ou o porquê de devermos odiá-lo. O roteiro se perde tanto num embate besta entre o que é ser um herói, sobre quem é mais herói – o Gavião Negro ou o Adão Negro – que o vilão mesmo pouco ganha foco. Se fosse vida real, ele tinha escapado.

Ainda que a história vá para todos os lados, perdendo nossa atenção, o diretor Jaume Collet-Serra consegue boas cenas de ação, especialmente no primeiro arco do longa. A inserção de um rock’n roll bem conhecido (‘Paint in Black’, dos Rolling Stones) garante uma entrada impactante do protagonista, mas evidencia que todo o orçamento em trilha sonora é gasto nessa única canção, deixando o resto das pouco mais de duas horas de filme com a mesma única música tema. Os efeitos especiais das cenas de ação impressionam, referenciando outros sucessos como ‘300’ ou mesmo ‘Batman vs Superman’, mas também cansam pela repetição, bem como as piadas, que não funcionam e nem são originais, e são repetidas inúmeras vezes ao longo da produção, como se eventualmente o espectador fosse curtir.

É uma pena dizer que apesar de Dwayne Johnson, ‘Adão Negro’ não se acerta como filme. Com uma história muito confusa, acelerada e dispersa, tem muito enfeite para um conteúdo desandado. Talvez, com a reaparição do personagem em outras franquias, eventualmente ele se encaixe no universo da DC. Para um personagem tão querido, seu filme de estreia poderia – e deveria – ter sido à altura, especialmente considerando que a maior parte dos espectadores sequer leram os quadrinhos que deram sua origem. Mas, não foi dessa vez. Quem sabe na versão do diretor…

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Crítica | ‘Adão Negro’ é um Filme Cansativo e Enrolado, Mas Bem Feito…

Dói um pouco, como uma pessoa que acompanha as produções da DC Comics e também acompanha a longa carreira do ‘The Rock’, reconhecer que um dos filmes mais aguardados do ano – ao menos no quesito super-herói –, é um filme que não se encontra em nenhum quesito, e que a versão finalizada que a produtora entrega para os espectadores é uma bagunça só. Mas essa é a sensação que muitos espectadores terão ao assistir ao mais novo longa do universo da D.C., ‘Adão Negro‘, que chega essa semana aos cinemas brasileiros.

Há mais de 2 mil anos antes da Era Comum, Teth Adam (Dwayne Johnson) vivia como uma pessoa escravizada na cidade de Kahndaq, assim como todos os outros moradores. Certo dia, seu filho Hurut (Jalon Christian) encontrou uma pedra azul feita de eterium, mineral desejado pelo imperador para fazer uma coroa do mal. Porém, Hurut quer ver seu povo livre e inicia uma insurgência, o que enfurece o imperador, que acaba punindo com a morte aos revoltosos. Milhares de anos se passam até Adrianna (Sarah Shahi) começar a buscar a coroa feita de eterium, em um momento em que a cidade de Kahndaq está sob controle de uma perigosa milícia. Quando finalmente encontra o objeto, a milícia tenta roubá-lo dela, e, para se salvar, Adrianna invoca Teth Adam de sua tumba. Revivido após tanto tempo, Teth Adam só busca vingança, sem se importar com as consequências de seus atos, e isso desperta a atenção da Sociedade da Justiça, que enxerga nele uma ameaça e decide impedi-lo, apesar de reconhecer que seus poderes são muito superiores a qualquer herói da Terra.

Como dá para ver por essa breve sinopse, o plot de ‘Adão Negro’ é uma bagunça só. O background do personagem é apresentado de maneira muito acelerada nos primeiros sete minutos do filme, num desfile de nomes e datas que pega o espectador desprevenido; esse prólogo é que deveria ser o filme que a DC deveria entregar aos fãs, mas, ao contrário de delinear e reforçar as origens desse novo herói (que, na real, é um anti-herói), de maneira a solidificá-lo no universo, o roteiro de Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani decide condensar a origem do herói e trazê-lo já pronto (e confuso) ao tempo contemporâneo.

Isso faz com que o espectador não entenda o por quê dos poderes, suas origens, suas motivações, etc: tudo que entendemos é que ele salva Adrianna e, portanto, deve ser um cara do bem. Colocando Teth Adam neste lugar de heroísmo, a inserção de quatro personagens-heróis – Senhor Destino (Pierce Brosnan), Cyclone (Quintessa Swindell), Gavião Negro (Aldis Hodge) e Esmaga-Átomo (Noah Centíneo) – como uma espécie de Liga da Justiça (perdão, Sociedade da Justiça) para conter esse herói faz com que o mote do longa seja a briga desses cinco personagens… relegando o verdadeiro vilão a um espaço que nem existe. Ou seja, o vilão, o vilãozão mesmo da história, acaba nem sendo o cara malvado, pois não fica claro seus objetivos, suas motivações ou o porquê de devermos odiá-lo. O roteiro se perde tanto num embate besta entre o que é ser um herói, sobre quem é mais herói – o Gavião Negro ou o Adão Negro – que o vilão mesmo pouco ganha foco. Se fosse vida real, ele tinha escapado.

Ainda que a história vá para todos os lados, perdendo nossa atenção, o diretor Jaume Collet-Serra consegue boas cenas de ação, especialmente no primeiro arco do longa. A inserção de um rock’n roll bem conhecido (‘Paint in Black’, dos Rolling Stones) garante uma entrada impactante do protagonista, mas evidencia que todo o orçamento em trilha sonora é gasto nessa única canção, deixando o resto das pouco mais de duas horas de filme com a mesma única música tema. Os efeitos especiais das cenas de ação impressionam, referenciando outros sucessos como ‘300’ ou mesmo ‘Batman vs Superman’, mas também cansam pela repetição, bem como as piadas, que não funcionam e nem são originais, e são repetidas inúmeras vezes ao longo da produção, como se eventualmente o espectador fosse curtir.

É uma pena dizer que apesar de Dwayne Johnson, ‘Adão Negro’ não se acerta como filme. Com uma história muito confusa, acelerada e dispersa, tem muito enfeite para um conteúdo desandado. Talvez, com a reaparição do personagem em outras franquias, eventualmente ele se encaixe no universo da DC. Para um personagem tão querido, seu filme de estreia poderia – e deveria – ter sido à altura, especialmente considerando que a maior parte dos espectadores sequer leram os quadrinhos que deram sua origem. Mas, não foi dessa vez. Quem sabe na versão do diretor…

 

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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