domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Adú – Filme da Netflix sobre Tragédia da Emigração vai te fazer CHORAR

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Você não está preparado para ‘Adú’. Com uma sinopse que faz parecer mais simples do que a porrada que é, ‘Adú’ é um desses filmes que você precisa ter uma boa estrutura para assistir.

Dois núcleos correm em paralelo para construir o enredo deste filme. A primeira é centrada no núcleo branco-espanhol, no qual acompanhamos o drama de três policiais que trabalham na fronteira da Espanha com o Marrocos e acabam derrubando um homem preto que tentava pular o muro; a outra história acompanha Gonzalo (Luis Tosar), que tem uma ONG para cuidar de elefantes no Camarões e que recebe a inesperada visita da filha, Sandra (Anna Castillo), que tem problema com drogas. A segunda história, que é a principal do longa, começa com Adú (Moustapha Oumarou) e sua irmã Alika (Zayiddiya Dissou), que testemunham o terrível assassinato de um elefante e, por causa disso, atravessam uma inacreditável jornada através de diversos países africanos com o objetivo de entrar na Europa.



Como dá pra ver, o filme retrata dois paralelos que compõem a terrivelmente dolorosa realidade da emigração africana para a Europa. Através desses dois núcleos, o roteiro de Alejandro Hernández joga luz sobre a problemática principal que atravessa os personagens de cada uma das histórias: a alienação e a síndrome do branco salvador, que acha que vai para África para dar ordem nos outros porque afinal ele é o dono do projeto e o homem branco deve ser obedecido; e cruel realidade dos cidadãos africanos que veem na Europa um refúgio para vida, e estão dispostos a colocar suas próprias vidas em risco pela chance de chegar ao continente.

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O trabalho de Salvador Calvo na direção é consistente e não poupa o espectador [*SPOILER*] de cenas horrorosas, como a da matança dos elefantes para arrancar seus chifres e do retrato de refugiados que se escondem nos pneus dos aviões para tentarem entrar camuflados nos países europeus, mas que acabam congelando e morrendo ali e seus corpos literalmente caem pelos céus quando os aviões tentam pousar (esta é uma realidade inimaginável, que eu mesma descobri acontecer de verdade apenas no início desse ano, quando uma amiga que mora em Londres me contou sobre isso) [*FIM DO SPOILER*]. Ao mesmo tempo o diretor poupa seus personagens de passarem figurativamente por tragédias corporais, o que é um alívio para o espectador diante de um enredo tão pesado.

Com uma história tão sofrida, chega a ser difícil avaliar as atuações, pois é quase impossível acreditar que estamos vendo atores trabalhando, e não uma história real. Ainda assim, o núcleo africano – que inclui Camarões, Marrocos, entre outros – se destaca muito mais, com seu elenco juvenil competentíssimo.

Abú’ não é um filme fácil de se assistir, mas é uma temática extremamente relevante que funciona como um importante alerta para a ocidentalidade. Dois posicionamentos resumem o argumento do filme. Em dado momento, um dos policiais pergunta ao outro se sabe o que significa o muro que divide a Espanha da África, e, ao receber a resposta negativa, o policial fala “todo mundo acha que significa ‘vocês não são bem-vindos aqui’, mas, na verdade esse muro significa ‘conserta aí seus próprios problemas’; por outro lado, Adú e Alika percorrem a pé os territórios africanos, e de repente Adú pergunta à irmã “o que acontece se eu morrer?” e ela responde “Eu continuo”.

A visão de dois mundos sobre o direito à vida e à dignidade, através da jornada dolorosamente terrível de uma criança é o fio condutor dessa porrada no estômago que é ‘Abú’, lançamento da semana da Netflix.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Você não está preparado para ‘Adú’. Com uma sinopse que faz parecer mais simples do que a porrada que é, ‘Adú’ é um desses filmes que você precisa ter uma boa estrutura para assistir.

Dois núcleos correm em paralelo para construir o enredo deste filme. A primeira é centrada no núcleo branco-espanhol, no qual acompanhamos o drama de três policiais que trabalham na fronteira da Espanha com o Marrocos e acabam derrubando um homem preto que tentava pular o muro; a outra história acompanha Gonzalo (Luis Tosar), que tem uma ONG para cuidar de elefantes no Camarões e que recebe a inesperada visita da filha, Sandra (Anna Castillo), que tem problema com drogas. A segunda história, que é a principal do longa, começa com Adú (Moustapha Oumarou) e sua irmã Alika (Zayiddiya Dissou), que testemunham o terrível assassinato de um elefante e, por causa disso, atravessam uma inacreditável jornada através de diversos países africanos com o objetivo de entrar na Europa.

Como dá pra ver, o filme retrata dois paralelos que compõem a terrivelmente dolorosa realidade da emigração africana para a Europa. Através desses dois núcleos, o roteiro de Alejandro Hernández joga luz sobre a problemática principal que atravessa os personagens de cada uma das histórias: a alienação e a síndrome do branco salvador, que acha que vai para África para dar ordem nos outros porque afinal ele é o dono do projeto e o homem branco deve ser obedecido; e cruel realidade dos cidadãos africanos que veem na Europa um refúgio para vida, e estão dispostos a colocar suas próprias vidas em risco pela chance de chegar ao continente.

O trabalho de Salvador Calvo na direção é consistente e não poupa o espectador [*SPOILER*] de cenas horrorosas, como a da matança dos elefantes para arrancar seus chifres e do retrato de refugiados que se escondem nos pneus dos aviões para tentarem entrar camuflados nos países europeus, mas que acabam congelando e morrendo ali e seus corpos literalmente caem pelos céus quando os aviões tentam pousar (esta é uma realidade inimaginável, que eu mesma descobri acontecer de verdade apenas no início desse ano, quando uma amiga que mora em Londres me contou sobre isso) [*FIM DO SPOILER*]. Ao mesmo tempo o diretor poupa seus personagens de passarem figurativamente por tragédias corporais, o que é um alívio para o espectador diante de um enredo tão pesado.

Com uma história tão sofrida, chega a ser difícil avaliar as atuações, pois é quase impossível acreditar que estamos vendo atores trabalhando, e não uma história real. Ainda assim, o núcleo africano – que inclui Camarões, Marrocos, entre outros – se destaca muito mais, com seu elenco juvenil competentíssimo.

Abú’ não é um filme fácil de se assistir, mas é uma temática extremamente relevante que funciona como um importante alerta para a ocidentalidade. Dois posicionamentos resumem o argumento do filme. Em dado momento, um dos policiais pergunta ao outro se sabe o que significa o muro que divide a Espanha da África, e, ao receber a resposta negativa, o policial fala “todo mundo acha que significa ‘vocês não são bem-vindos aqui’, mas, na verdade esse muro significa ‘conserta aí seus próprios problemas’; por outro lado, Adú e Alika percorrem a pé os territórios africanos, e de repente Adú pergunta à irmã “o que acontece se eu morrer?” e ela responde “Eu continuo”.

A visão de dois mundos sobre o direito à vida e à dignidade, através da jornada dolorosamente terrível de uma criança é o fio condutor dessa porrada no estômago que é ‘Abú’, lançamento da semana da Netflix.

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