Crítica | After Yang: Colin Farrell reflete sobre a existência humana em tocante drama sci-fi da A24

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2022

O futurismo da ficção científica tradicional se torna um coadjuvante no belíssimo e simbólico drama sci-fi After Yang. Em meio a uma imensidão tecnológica que pouco – ou quase nada – nos é mostrada, Kogonada faz de sua história um conto existencial sobre a condição humana. Em um universo onde humanos e andróides convivem de forma ainda mais natural, sentimentos que são totalmente nossos se transformam nos grandes protagonistas dessa trama. E enquanto um pai busca uma assistência técnica para o robô de segunda mão dado de presente à sua filha, ele aprenderá a enxergar a vida pela ótica de uma criatura que – ainda que seja incapaz de sentir – sabe perceber as emoções humanas de maneira única.

After Yang apresenta a relação humanos-andróides de forma bem diferente. Aqui, ao invés do amado clássico combo homem vs máquina, ficamos diante de uma inesperada relação interconectada. Yang (Justin H. Min) é um robô irmão mais velho, adquirido para ajudar a filha adotiva de Jake (Colin Farrell) a se adaptar à cultura americana, sem perder seu vínculo com suas raízes asiáticas. Quando abruptamente ele para de funcionar, este dono de uma loja de chás terá que sair em uma peregrinação em busca de uma assistência que resolva o seu problema de forma rápida e barata.

Mas o que inicialmente seria uma postura protocolar comum, inadvertidamente se tornará uma experiência intimista onde Jake é forçado a confrontar a primeira grande experiência de perda genuinamente sentida por sua filha. Enquanto ela reluta para compreender o sentido finito da tecnologia, este pacato pai é levado em uma catártica epifania, onde sua busca material passa por uma sutil metamorfose de uma introspecção existencial, onde ele contemplará sua própria vida e família, à medida que a enxerga passando diante dos seus olhos como uma espécie de filme caseiro – tudo registrado pelos olhos desse robô tão sem alma, mas dono de uma sensibilidade absurda.

Colin Farrell appears in After Yang by Kogonada, an official selection of the Spotlight section at the 2022 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute | photo by Benjamin Loeb / A24.
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E neste drama de ritmo mais lento da A24, aprendemos a partir das memórias de Yang o que é viver em família, como memórias tão distantes podem ser tão cruciais para a nossa compreensão de amor e companheirismo e como processar o luto é sempre uma tarefa única e singular – volátil para cada um que o vive. Embarcando a audiência em uma jornada melancólica e sensível, somos presenteados ainda com uma fotografia linda e constantemente solar, que se contrapõe a uma atmosfera mais sombria que vez outra pauta o ritmo da dramaticidade dos personagens e que visa explorar a dor da perda de maneira mais sensorial.

Um drama com ares de ficção científica que é lindamente produzido, After Yang é marcado por um design de produção clean e mais simples, sendo ainda um manifesto contrastante à estética cyberpunk e minimalista que tanto vemos em sci-fis existenciais como Blade Runner e Ex_Machina: Instinto Artificial. E subvertendo o gênero para falar sobre coisas muito mais densas, Kogonada nos convida a refletir sobre o significado da vida e o valor da experiência humana, quando compartilhada. Trazendo um Colin Farrell de voz mansa e aspecto sereno, After Yang fortalece a versatilidade do ator – que sempre nos convence no cinema independente.

Ao lado de Jodie Turner-Smith, Farrell é um híbrido de apatia e conformismo, que se depara com sua própria vida ao acessar a coleta de dados de um robô em estado de deterioração. E entre devaneios e reflexões, After Yang proporciona ao público uma ficção científica que não está preocupada em nos falar tanto sobre o futuro. Despindo-se de efeitos visuais mais rigorosos e suntuosos, o cineasta sul-coreano Kogonada nos convida a enxergar o valor da vida não apenas a partir do que um dia ela será, mas sim a partir do valioso passado que ajuda a moldar quem nos tornamos no presente.

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