Os cinemas sul-americano e latino-americano estão com tudo e estão se unindo. Se antes víamos muitas produções isoladamente de um único país, nas últimas décadas o espectador tem podido observar mais e mais produções realizadas em conjunto, em parceria entre dois ou mais países. Essa estratégia faz muito, muito sentido, não só para aumentar a circulação dos títulos entre países vizinhos e em festivais, mas, principalmente, para fazer circular elenco e profissionais de todos os países, de modo que, juntos, todos alavanquem suas carreiras internacionais. Assim chegamos a filmes como ‘Águas Selvagens’, projeto brasileiro em parceria com Argentina e Uruguai que estreia essa semana nas salas de exibição de nosso país.
Lucio Gualtieri (Roberto Birindelli) já trabalhou com a polícia, mas hoje faz apenas alguns serviços freelancer como investigador particular. Ele possui uma péssima relação com a filha, e, por isso, acaba falando apenas virtualmente com a jovem, fingindo ser outra pessoa. Quando ela lhe confessa que a mãe está querendo vetar sua festa de aniversário por falta de grana, Lucio decide topar um servicinho de investigação para conseguir o dinheiro para agradar a filha. Porém, o que ele não esperava era que esse trabalho o levasse a se meter no submundo pesado do crime, gerenciado por uma rede de indivíduos de má índole que controlam o tráfico internacional de humanos nas cidades fronteiriças entre Brasil e Argentina, e que isso acabaria colocando sua própria segurança em risco.
Em cerca de uma hora e cinquenta de duração, o longa de Roly Santos passeia por diversos temas sem deixar extremamente explícito nenhum deles. É interessante observar os recursos que o diretor lança mão para conseguir retratar determinadas atrocidades criminais sem, por isso, reforçar a violência através da semiótica do audiovisual. Uma escolha importante, em termos de alcance de audiência.
A história se desenrola toda através do ponto de vista do protagonista Lucio e sua descoberta acerca do envolvimento dos outros personagens na rede de crime, o que evidencia a linearidade do roteiro de Óscar Tabernise. Roberto Birindelli volta às suas raízes ao falar castellano nas telonas para caracterizar seu personagem buenairense. Destaque também para as brasileiras Mayana Neiva e Leona Cavalli, que conferem intensidade na medida à duas mulheres reféns de uma situação limítrofe numa região onde a lei não é para todos.
Com elenco internacional, ‘Águas Selvagens’ é um longa de suspense policial que, à sua moda, reforça o importante papel da união entre as produções para se estabelecer uma grade contínua de projetos realizados nos países do eixo sul do planeta. Através da ficção policial, o longa joga luz sobre um tipo de crime bastante comum nas cidades pequenas de fronteira, mas que, infelizmente, é pouco investigado. Felizmente o audiovisual cumpre seu papel, nem que seja através da ficção.