quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Ainbo: A Guerreira da Amazônia – Fofa Animação de Temática Indígena é inocente, e problemática

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Nos últimos anos, felizmente, tem havido uma maior oferta de produções artísticas de todos os gêneros, multiplicando vozes e narrativas, muitas das quais andava muito silenciada, com pouca representação e/ou representatividade nas artes de grande alcance. Nessa pegada, estreia essa semana nos cinemas brasileiros o longa de animaçãoAinbo: A Guerreira da Amazônia’, que, como se percebe, traz uma aventura indígena aos cinemas.



Ainbo (Lola Raie, na voz original) é uma indígena guerreira de 13 anos, órfã, criada por Chuni (Alejandra Gollas) na aldeia de Kandamo, no interior da Amazônia peruana. Sua melhor amiga, Zumi (Naomi Serrano), de mesma idade, está prestes a ser coroada soberana do povo pois o pai anda muito doente e não tem mais como governar. No dia da cerimônia, Ainbo é visitada pelos espíritos ancestrais da floresta, que aparecem para ajudá-la, pois uma terrível ameaça conhecida como Yakuruna (Thom Hoffman) está mexendo com o bioma local e adoecendo a aldeia. Quando Ainbo é desacreditada até mesmo pela própria melhor amiga, a jovem decide partir em uma aventura arriscada pela Amazônia para tentar salvar seu povo do maléfico Yakuruna.

Antes de qualquer coisa, é preciso celebrar a estreia de um filme como ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ no circuito comercial brasileiro, afinal, não é todo dia, infelizmente, que um filme de temática indígena chega ao grande público. Isto dito, apesar da boa iniciativa e da motivação válida, o longa de animação escorrega em equívocos que acabam indo contra sua própria intenção.

A ideia original de Jose Zelada, roteirizada por Richard Claus, Brian Cleveland, Jason Cleveland e Larry Wilson (todos homens, escrevendo uma história de uma protagonista mulher) é uma coprodução Peru, Estados Unidos e Holanda, e isso consequentemente misturou a visão e o estilo narrativo desses três países para elaborar o enredo do longa. O resultado acabou sendo uma grande mistura de olhares conflitantes sobre o indígena peruano – sendo pouco exaltado a voz desses povos, tornando-se uma história escrita pelo olhar do colonizador, protagonizado por uma personagem indígena. No fim, acaba reforçando perigosos e ultrapassados conceitos coloniais, como a miscigenação branca com indígenas através do amor – quando sabemos, não foi bem assim.

Por outro lado, é uma animação graficamente bem feita, bem desenhadinha e que encontrou boas soluções para inserir cenas e personagens similares com outros queridinhos da garotada, como ‘Moana’, ‘Frozen’ e, literalmente, Simão e Pumba, recriados na versão amazônica de uma anta e um tatu-bola. ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ traz também lendas indígenas locais em sua trama, como as figuras de Motelo Mama e o próprio Yakuruna, e isso é bem legal, ainda que estas forças da natureza não sejam aprofundadas na trama.

Em suma, ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ é uma animação fofa e bem-intencionada, porém problemática por trazer uma narrativa colonial sobre a cultura indígena peruana. Entretém, mas é um filme que seria melhor aproveitado se acompanhado de um debate que contextualizasse e explicasse melhor a cultura dos povos amazônicos com mais dedicação, pois, no longa, serve apenas com pretexto para a aventura.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Ainbo (Lola Raie, na voz original) é uma indígena guerreira de 13 anos, órfã, criada por Chuni (Alejandra Gollas) na aldeia de Kandamo, no interior da Amazônia peruana. Sua melhor amiga, Zumi (Naomi Serrano), de mesma idade, está prestes a ser coroada soberana do povo pois o pai anda muito doente e não tem mais como governar. No dia da cerimônia, Ainbo é visitada pelos espíritos ancestrais da floresta, que aparecem para ajudá-la, pois uma terrível ameaça conhecida como Yakuruna (Thom Hoffman) está mexendo com o bioma local e adoecendo a aldeia. Quando Ainbo é desacreditada até mesmo pela própria melhor amiga, a jovem decide partir em uma aventura arriscada pela Amazônia para tentar salvar seu povo do maléfico Yakuruna.

Antes de qualquer coisa, é preciso celebrar a estreia de um filme como ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ no circuito comercial brasileiro, afinal, não é todo dia, infelizmente, que um filme de temática indígena chega ao grande público. Isto dito, apesar da boa iniciativa e da motivação válida, o longa de animação escorrega em equívocos que acabam indo contra sua própria intenção.

A ideia original de Jose Zelada, roteirizada por Richard Claus, Brian Cleveland, Jason Cleveland e Larry Wilson (todos homens, escrevendo uma história de uma protagonista mulher) é uma coprodução Peru, Estados Unidos e Holanda, e isso consequentemente misturou a visão e o estilo narrativo desses três países para elaborar o enredo do longa. O resultado acabou sendo uma grande mistura de olhares conflitantes sobre o indígena peruano – sendo pouco exaltado a voz desses povos, tornando-se uma história escrita pelo olhar do colonizador, protagonizado por uma personagem indígena. No fim, acaba reforçando perigosos e ultrapassados conceitos coloniais, como a miscigenação branca com indígenas através do amor – quando sabemos, não foi bem assim.

Por outro lado, é uma animação graficamente bem feita, bem desenhadinha e que encontrou boas soluções para inserir cenas e personagens similares com outros queridinhos da garotada, como ‘Moana’, ‘Frozen’ e, literalmente, Simão e Pumba, recriados na versão amazônica de uma anta e um tatu-bola. ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ traz também lendas indígenas locais em sua trama, como as figuras de Motelo Mama e o próprio Yakuruna, e isso é bem legal, ainda que estas forças da natureza não sejam aprofundadas na trama.

Em suma, ‘Ainbo: A Guerreira da Amazônia’ é uma animação fofa e bem-intencionada, porém problemática por trazer uma narrativa colonial sobre a cultura indígena peruana. Entretém, mas é um filme que seria melhor aproveitado se acompanhado de um debate que contextualizasse e explicasse melhor a cultura dos povos amazônicos com mais dedicação, pois, no longa, serve apenas com pretexto para a aventura.

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