domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | American Horror Story – 09×01: Camp Redwood

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American Horror Story tem um complexo legado de altos e baixos ao longo de sua breve existência na televisão contemporânea. De fato, a obra idealizada por Ryan Murphy e Brad Falchuk começou com o pé direito em 2011, com o lançamento da adorada Murder House, atingindo seu ápice no ano seguinte com Asylum e entregando a fan-favorite Coven logo depois. É certo dizer que os elementos de terror, na verdade, se rendiam ao suspense e ao drama sobrenatural, encontrando um espaço interessante para a delineação de um saturado gênero – que depois se ramificou em diversas subtramas poéticas (como as vistas em Freak Show e Hotel), o puro gore (Roanoke) e restrições criativas que transformaram o panteão em questão em qualquer obra adolescente dos últimos cinco anos (Cult e, principalmente, Apocalypse).

Por sorte, o work-a-holic Murphy prometeu voltar às suas origens com o anúncio da nona temporada – a penúltima antes do infernal e desesperador ciclo chegar ao fim. Aqui, o showrunner, roteirista e diretor abria as portas para uma clara homenagem ao suis-generis dos longas slasher que tanto povoaram a imaginação dos aficionados por terror e por cinema nos anos 1980 (não é surpresa que o subtítulo do novo ano seja ‘1984’). Com a estreia do primeiro episódio, intitulado “Camp Redwood”, ficou bastante claro para os fãs do show que AHS jamais voltará ao que era antes; mas isso não significa que outros elementos não possam ser explorados – e talvez esse seja o motivo fundamental da iteração supracitada funcionar dentro de seus propósitos e de suas narcóticas incredulidades.



Já mostrando sua considerável carga cultural, o capítulo abre com um costumeiro prólogo, digno de nos recordar dos múltiplos clássicos do terror das décadas passadas. Ainda que ambientada no ano-titular, é bastante claro o apreço da equipe criativa em preparar o terreno antes da história condutora se desenrolar – algo que nos recorda vagamente da franquia Pânico e da icônica sequência de assassinato de Drew Barrymore. A construção aqui feita carrega consigo notáveis traços de originalidade, que acabam falando mais alto que os perceptíveis deslizes técnicos e performáticos (como o desenlace entre ação e reação dos personagens).

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Se Ghostface serviu de inspiração para esses breves minutos introdutórios, Michael Myers insurge em uma deliciosa releitura nas cenas que os sucedem: em uma apresentação digna de qualquer vídeo fitness de Jane Fonda que você possa encontrar daquela época, somos apresentados ao elenco protagonista. Cada um deles se isola em um tipo social, um estereótipo proposital dos já vencidos arquétipos de filmes do gênero: de um lado, por exemplo, temos Emma Roberts encarnando Brooke Thompson, a cândida e ingênua virgem que deve funcionar como a final girl da saga; Billie Lourd, por sua vez, encontra-se na rebelde Montana Duke; Cody Fern retorna como o esnobe Xavier Plympton; e por aí seguimos.

O grupo decide trabalhar por um breve verão no Acampamento Redwood, reaberto anos depois do trágico massacre explorado no prólogo. Aliás, a única sobrevivente do infeliz evento, Margaret (Leslie Grossman), decidiu retomar as atividades para salvar o último suspiro de esperança que a sociedade vem perdendo das gloriosas décadas passadas – e deixa bem claro que não irá tolerar nenhum tipo de deslize. Aliás, Grossman se afasta consideravelmente de seus papéis anteriores e adota um semblante mais sério e rígido, digno de grandes reviravoltas nas próximas semana. É a partir daí (na verdade, logo depois que Margaret revela o sombrio passado do Acampamento) que as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas.

Bradley Buecker, que fica a encargo da direção, não pensa duas vezes antes de emular uma quantidade absurda de obras bastante conhecidas da esfera cinematográfica; felizmente, ele opta por tais características cênicas em vez de simplesmente imitar o que não deve ser tocado, sem perder a oclusiva identidade da antologia: não é surpresa, pois, que encontremos enquadramentos invertidos, fluidas panorâmicas e alguns cortes bruscos que remontam a preferência quase cubista de seu criador.

No meio do caminho, entretanto, Buecker se depara com um frenético roteiro que vai para além da mera apresentação e parece deixá-lo perdido. É notável sua preocupação artística com a evidenciação dos figurinos e até mesmo dos pormenores que compõe os cenários; porém, por breves momentos, nos vemos dentro de uma anacrônica narrativa que se inicia com a fuga do assassino conhecido por Mr. Jingles (John Carroll Lynch) de seu eterno confinamento numa instituição psiquiátrica e termina com a abrupta aparição de um personagem quase esquecido, conhecido pelo nome de Richard Ramirez (Zach Villa). Em uma análise mais profunda, Ramirez esteve próximo de tirar a vida de Brooke em uma invasão, voltando para terminar seus negócios pendentes – e talvez tenha que lidar com a iminente chegada de Mr. Jingles.

Não se sabe exatamente como essas múltiplas camadas eventualmente irão se aglutinar em algo único, muito menos se os roteiristas conseguirão alcançar esse objetivo sem se valer de clichês formulaicos. Afinal, é muito cedo para ao menos deduzir de que modo a história irá prosseguir; há diversos temas para serem explorados em meio ao que nos foi mostrado, com potencial que oscila desde o mais puro trash até um competente e não tão complicado mistério a ser digerido pelo público e pelos personagens.

American Horror Story voltou em uma forma conhecida, porém aprazível. O resultado final, ainda que divirja de estreias anteriores pela quantidade inescrupulosa de acontecimentos e referências, é palpável o suficiente para nos manter envolvidos para as próximas semanas – um morno regresso cuja crua completude pode e deve amadurecer.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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American Horror Story tem um complexo legado de altos e baixos ao longo de sua breve existência na televisão contemporânea. De fato, a obra idealizada por Ryan Murphy e Brad Falchuk começou com o pé direito em 2011, com o lançamento da adorada Murder House, atingindo seu ápice no ano seguinte com Asylum e entregando a fan-favorite Coven logo depois. É certo dizer que os elementos de terror, na verdade, se rendiam ao suspense e ao drama sobrenatural, encontrando um espaço interessante para a delineação de um saturado gênero – que depois se ramificou em diversas subtramas poéticas (como as vistas em Freak Show e Hotel), o puro gore (Roanoke) e restrições criativas que transformaram o panteão em questão em qualquer obra adolescente dos últimos cinco anos (Cult e, principalmente, Apocalypse).

Por sorte, o work-a-holic Murphy prometeu voltar às suas origens com o anúncio da nona temporada – a penúltima antes do infernal e desesperador ciclo chegar ao fim. Aqui, o showrunner, roteirista e diretor abria as portas para uma clara homenagem ao suis-generis dos longas slasher que tanto povoaram a imaginação dos aficionados por terror e por cinema nos anos 1980 (não é surpresa que o subtítulo do novo ano seja ‘1984’). Com a estreia do primeiro episódio, intitulado “Camp Redwood”, ficou bastante claro para os fãs do show que AHS jamais voltará ao que era antes; mas isso não significa que outros elementos não possam ser explorados – e talvez esse seja o motivo fundamental da iteração supracitada funcionar dentro de seus propósitos e de suas narcóticas incredulidades.

Já mostrando sua considerável carga cultural, o capítulo abre com um costumeiro prólogo, digno de nos recordar dos múltiplos clássicos do terror das décadas passadas. Ainda que ambientada no ano-titular, é bastante claro o apreço da equipe criativa em preparar o terreno antes da história condutora se desenrolar – algo que nos recorda vagamente da franquia Pânico e da icônica sequência de assassinato de Drew Barrymore. A construção aqui feita carrega consigo notáveis traços de originalidade, que acabam falando mais alto que os perceptíveis deslizes técnicos e performáticos (como o desenlace entre ação e reação dos personagens).

Se Ghostface serviu de inspiração para esses breves minutos introdutórios, Michael Myers insurge em uma deliciosa releitura nas cenas que os sucedem: em uma apresentação digna de qualquer vídeo fitness de Jane Fonda que você possa encontrar daquela época, somos apresentados ao elenco protagonista. Cada um deles se isola em um tipo social, um estereótipo proposital dos já vencidos arquétipos de filmes do gênero: de um lado, por exemplo, temos Emma Roberts encarnando Brooke Thompson, a cândida e ingênua virgem que deve funcionar como a final girl da saga; Billie Lourd, por sua vez, encontra-se na rebelde Montana Duke; Cody Fern retorna como o esnobe Xavier Plympton; e por aí seguimos.

O grupo decide trabalhar por um breve verão no Acampamento Redwood, reaberto anos depois do trágico massacre explorado no prólogo. Aliás, a única sobrevivente do infeliz evento, Margaret (Leslie Grossman), decidiu retomar as atividades para salvar o último suspiro de esperança que a sociedade vem perdendo das gloriosas décadas passadas – e deixa bem claro que não irá tolerar nenhum tipo de deslize. Aliás, Grossman se afasta consideravelmente de seus papéis anteriores e adota um semblante mais sério e rígido, digno de grandes reviravoltas nas próximas semana. É a partir daí (na verdade, logo depois que Margaret revela o sombrio passado do Acampamento) que as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas.

Bradley Buecker, que fica a encargo da direção, não pensa duas vezes antes de emular uma quantidade absurda de obras bastante conhecidas da esfera cinematográfica; felizmente, ele opta por tais características cênicas em vez de simplesmente imitar o que não deve ser tocado, sem perder a oclusiva identidade da antologia: não é surpresa, pois, que encontremos enquadramentos invertidos, fluidas panorâmicas e alguns cortes bruscos que remontam a preferência quase cubista de seu criador.

No meio do caminho, entretanto, Buecker se depara com um frenético roteiro que vai para além da mera apresentação e parece deixá-lo perdido. É notável sua preocupação artística com a evidenciação dos figurinos e até mesmo dos pormenores que compõe os cenários; porém, por breves momentos, nos vemos dentro de uma anacrônica narrativa que se inicia com a fuga do assassino conhecido por Mr. Jingles (John Carroll Lynch) de seu eterno confinamento numa instituição psiquiátrica e termina com a abrupta aparição de um personagem quase esquecido, conhecido pelo nome de Richard Ramirez (Zach Villa). Em uma análise mais profunda, Ramirez esteve próximo de tirar a vida de Brooke em uma invasão, voltando para terminar seus negócios pendentes – e talvez tenha que lidar com a iminente chegada de Mr. Jingles.

Não se sabe exatamente como essas múltiplas camadas eventualmente irão se aglutinar em algo único, muito menos se os roteiristas conseguirão alcançar esse objetivo sem se valer de clichês formulaicos. Afinal, é muito cedo para ao menos deduzir de que modo a história irá prosseguir; há diversos temas para serem explorados em meio ao que nos foi mostrado, com potencial que oscila desde o mais puro trash até um competente e não tão complicado mistério a ser digerido pelo público e pelos personagens.

American Horror Story voltou em uma forma conhecida, porém aprazível. O resultado final, ainda que divirja de estreias anteriores pela quantidade inescrupulosa de acontecimentos e referências, é palpável o suficiente para nos manter envolvidos para as próximas semanas – um morno regresso cuja crua completude pode e deve amadurecer.

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