quinta-feira , 19 dezembro , 2024

Crítica | American Horror Story – 09×02: Mr. Jingles

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Na semana passada, American Horror Story voltou para sua nona e promissora temporada, prometendo resgatar os bizarros e propositalmente chocantes elementos que transformaram a antologia em um clássico instantâneo. E, ainda que o primeiro episódio tenha se discorrido entre altos e baixos, conseguiu refletir o comprometimento de Ryan Murphy e Brad Falchuk em recuperar um brilho narrativo outrora perdido – eventualmente satisfazendo aquilo pelo que todos clamavam há alguns anos. Agora, com a exibição do segundo capítulo, percebemos que a subtitulada ‘1984’ tem um imenso potencial se transformar em uma das melhores (senão a melhor) das iterações dessa série, mesmo que os conhecidos nomes desse panteão sobrenatural não tenham marcado presença.

Se ‘Camp Redwood’ serviu como um interessante, porém comedido prólogo para essa sinistra aventura, ‘Mr. Jingles’ mergulha num frenético ritmo que não se acua em nenhum momento – transformando os pouco mais de 40 minutos em um show de horrores drenado diretamente de qualquer filme slasher que você consiga pensar. Como se não bastasse, o diretor John J. Gray imprime uma identidade ao mesmo tempo familiar e inédita para as obrigatórias afetações cênicas tão característica da sombria mente de Murphy, contribuindo para que nenhuma das cenas represente um excesso estético ou perturbador, mas contribua para que compreendamos o tenso pano de fundo que fica mais crível e mais mortal.



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Seguindo os passos da iteração predecessora, o novo episódio também se inicia com um prólogo, desta vez delineando a primeira vítima do serial killer que empresta seu nome ao título (interpretado pelo irreconhecível John Carroll Lynch em mais um de seus icônicos papéis). Já por aqui, temos noção de sua perturbada mentalidade e da perturbada personalidade que o fez cometer crimes hediondos, como realizar um massacre no acampamento Redwood antes de ser internado num manicômio; agora, ele está solto e retorna para o suposto porto-seguro em busca de vingança, provavelmente para terminar o trabalho não finalizado com a calculista e religiosa Margaret Booth (Leslie Grossman).

Entretanto, não é o conhecido caminho sanguinolento trilhado pelo antagonista que nos chama a atenção, e sim que ele tem completa ciência do que faz e do porquê faz. Diferente de Michael Myers ou Jason Vorhees, Mr. Jingles, cujo inocente e quase cômico apelido serve apenas para reafirmar sua cruel existência no mundo, transcende nossas expectativas com diálogos irônicos que não só tangenciam, mas invade o escopo de um sarcasmo psicótico que não vai parar por nada. E, conforme a trama se torna mais intrincada, percebemos que ele pode ter uma backstory mais complicada do que imaginaríamos.

Porém, o grupo de jovens que ofereceu seus serviços como monitores daquele verão não tem apenas ele com quem se preocupar: um outro “incompreendido” assassino está à solta, dessa vez atendendo pelo nome de Richard Ramirez (Zach Villa), que consegue de alguma forma inexplicável rastrear sua vítima Brooke (Emma Roberts) e fazê-la reviver seu pesadelo mais uma vez. Todavia – e aqui jaz a primeira virada do roteiro -, Richard cruza caminho com Margaret e demonstra um lado vulnerável, enquanto a supervisora do acampamento delineia uma gritante e problemática índole que deve ser principal tema das semanas seguintes.

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Murphy e Falchuk cedem o lugar de roteiristas para o conhecido colaborador Tim Minear, que também não pensa duas vezes antes de nos engolfar em um constante bombardeio de reviravoltas. Em uma análise individual – ou seja, nos contentando com a análise do episódio em si -, Minear brinca de forma sagaz com o que lhe é entregue e também com toda sua bagagem das famosas produções de época que até hoje servem de referência para artistas contemporâneos. De modo convincente, ele adiciona uma camada literalmente fantasmagórica ao permitir que as vítimas de Jingles voltassem à vida em busca de fechar suas pendências; afinal, se pensarmos de uma perspectiva espiritualista, seu tempo no mundo terreno chegou ao fim de forma abrupta e os deixou vagando sem rumo por aí, presos em um eterno presente (como os personagens de Hotel).

Para além disso, o roteiro também aproveita certas nuances para premeditar outros twists – ainda não confirmados, é claro, mas tomados por um foreshadowing chocante. Ao que tudo indica, Margaret, além de ter sido a única sobrevivente das ações condenáveis do serial killer, pode estar escondendo segredos que revelem suas reais intenções em reabrir Redwood – e que podem estar mascaradas por sua performance como a perfeita católica.

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Se Grossman rouba a atenção, ela não está sozinha: Billie Lourd aparenta ter se livrado completamente de suas amarras anteriores, que a restringiam a atuações blasé e sem qualquer desenvolvimento catártico, para se render à tragicômica Montana Duke. Roberts, apesar de ofuscada em seu crescente vitimismo que de certa forma nos relembra Sarah Paulson em Cult, aproveita o espaço para oferecer relances explicativos sobre seu arco traumático e obscuro, por assim dizer.

American Horror Story: 1984’ voltou a nos conquistar mais uma vez em uma deliciosa e inteligente narrativa que, assim como sua temporada de estreia, se vale de saudosismos clássicos sem se respaldar por completo na nostalgia pura. É certo dizer que talvez Minear tenha abusado demais de um ritmo incontrolável, roubando dinamismo dos próximos capítulos; mas teremos que esperar para ver – e o futuro do show parece mais radiante do que nunca.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Na semana passada, American Horror Story voltou para sua nona e promissora temporada, prometendo resgatar os bizarros e propositalmente chocantes elementos que transformaram a antologia em um clássico instantâneo. E, ainda que o primeiro episódio tenha se discorrido entre altos e baixos, conseguiu refletir o comprometimento de Ryan Murphy e Brad Falchuk em recuperar um brilho narrativo outrora perdido – eventualmente satisfazendo aquilo pelo que todos clamavam há alguns anos. Agora, com a exibição do segundo capítulo, percebemos que a subtitulada ‘1984’ tem um imenso potencial se transformar em uma das melhores (senão a melhor) das iterações dessa série, mesmo que os conhecidos nomes desse panteão sobrenatural não tenham marcado presença.

Se ‘Camp Redwood’ serviu como um interessante, porém comedido prólogo para essa sinistra aventura, ‘Mr. Jingles’ mergulha num frenético ritmo que não se acua em nenhum momento – transformando os pouco mais de 40 minutos em um show de horrores drenado diretamente de qualquer filme slasher que você consiga pensar. Como se não bastasse, o diretor John J. Gray imprime uma identidade ao mesmo tempo familiar e inédita para as obrigatórias afetações cênicas tão característica da sombria mente de Murphy, contribuindo para que nenhuma das cenas represente um excesso estético ou perturbador, mas contribua para que compreendamos o tenso pano de fundo que fica mais crível e mais mortal.

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Seguindo os passos da iteração predecessora, o novo episódio também se inicia com um prólogo, desta vez delineando a primeira vítima do serial killer que empresta seu nome ao título (interpretado pelo irreconhecível John Carroll Lynch em mais um de seus icônicos papéis). Já por aqui, temos noção de sua perturbada mentalidade e da perturbada personalidade que o fez cometer crimes hediondos, como realizar um massacre no acampamento Redwood antes de ser internado num manicômio; agora, ele está solto e retorna para o suposto porto-seguro em busca de vingança, provavelmente para terminar o trabalho não finalizado com a calculista e religiosa Margaret Booth (Leslie Grossman).

Entretanto, não é o conhecido caminho sanguinolento trilhado pelo antagonista que nos chama a atenção, e sim que ele tem completa ciência do que faz e do porquê faz. Diferente de Michael Myers ou Jason Vorhees, Mr. Jingles, cujo inocente e quase cômico apelido serve apenas para reafirmar sua cruel existência no mundo, transcende nossas expectativas com diálogos irônicos que não só tangenciam, mas invade o escopo de um sarcasmo psicótico que não vai parar por nada. E, conforme a trama se torna mais intrincada, percebemos que ele pode ter uma backstory mais complicada do que imaginaríamos.

Porém, o grupo de jovens que ofereceu seus serviços como monitores daquele verão não tem apenas ele com quem se preocupar: um outro “incompreendido” assassino está à solta, dessa vez atendendo pelo nome de Richard Ramirez (Zach Villa), que consegue de alguma forma inexplicável rastrear sua vítima Brooke (Emma Roberts) e fazê-la reviver seu pesadelo mais uma vez. Todavia – e aqui jaz a primeira virada do roteiro -, Richard cruza caminho com Margaret e demonstra um lado vulnerável, enquanto a supervisora do acampamento delineia uma gritante e problemática índole que deve ser principal tema das semanas seguintes.

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Murphy e Falchuk cedem o lugar de roteiristas para o conhecido colaborador Tim Minear, que também não pensa duas vezes antes de nos engolfar em um constante bombardeio de reviravoltas. Em uma análise individual – ou seja, nos contentando com a análise do episódio em si -, Minear brinca de forma sagaz com o que lhe é entregue e também com toda sua bagagem das famosas produções de época que até hoje servem de referência para artistas contemporâneos. De modo convincente, ele adiciona uma camada literalmente fantasmagórica ao permitir que as vítimas de Jingles voltassem à vida em busca de fechar suas pendências; afinal, se pensarmos de uma perspectiva espiritualista, seu tempo no mundo terreno chegou ao fim de forma abrupta e os deixou vagando sem rumo por aí, presos em um eterno presente (como os personagens de Hotel).

Para além disso, o roteiro também aproveita certas nuances para premeditar outros twists – ainda não confirmados, é claro, mas tomados por um foreshadowing chocante. Ao que tudo indica, Margaret, além de ter sido a única sobrevivente das ações condenáveis do serial killer, pode estar escondendo segredos que revelem suas reais intenções em reabrir Redwood – e que podem estar mascaradas por sua performance como a perfeita católica.

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Se Grossman rouba a atenção, ela não está sozinha: Billie Lourd aparenta ter se livrado completamente de suas amarras anteriores, que a restringiam a atuações blasé e sem qualquer desenvolvimento catártico, para se render à tragicômica Montana Duke. Roberts, apesar de ofuscada em seu crescente vitimismo que de certa forma nos relembra Sarah Paulson em Cult, aproveita o espaço para oferecer relances explicativos sobre seu arco traumático e obscuro, por assim dizer.

American Horror Story: 1984’ voltou a nos conquistar mais uma vez em uma deliciosa e inteligente narrativa que, assim como sua temporada de estreia, se vale de saudosismos clássicos sem se respaldar por completo na nostalgia pura. É certo dizer que talvez Minear tenha abusado demais de um ritmo incontrolável, roubando dinamismo dos próximos capítulos; mas teremos que esperar para ver – e o futuro do show parece mais radiante do que nunca.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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