domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | American Horror Story – 09×03: Slashdance

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Depois de algumas temporadas cedendo a construções medíocres e sem qualquer sentido narrativo, American Horror Story se reencontrou em sua nona temporada com uma constante e incrivelmente inteligente emulação das produções mais clássicas do terror dos anos 1980 (afinal, não é à toa que o subtítulo da nova iteração seja ‘1984’). E, apesar de entregar um morno começo para uma aterrorizante jornada, o segundo e o terceiro episódios provaram que Ryan Murphy, Brad Falchuk e seu competente time criativo ainda têm muitas histórias para nos contar.

Em ‘Slashdance’, como ficou intitulado o capítulo desta semana, os nossos “heróis” se veem prestes a enfrentar a fúria de dois perigosos antagonistas: o serial killer Mr. Jingles (John Carroll Lynch), que já se provou muito mais inteligente do que parece, e o jovem conturbado e satânico Richard Ramirez (Zach Villa). Se John J. Gray conseguiu desmembrar uma única narrativa em algumas subtramas interessante e envolventes, a diretora Mary Wigmore mantém o mesmo ritmo e aproveita o excesso de reviravoltas para incrementar a personalidade de cada um dos personagens – e mostrar que todos ali não são o que parecem.



De fato, Brooke (Emma Roberts) é a única que se mantém verdadeira a quem nos mostrou nas semanas anteriores – ainda que sua construção como a ingênua e virgem final girl comece a parecer cansativo e cíclico demais para continuar nos empolgando. Mesmo sua trágica backstory é esquecida em meio aos frenéticos eventos que irão eliminar sumariamente os monitores do Acampamento Redwood. Entretanto, ela é pivô de um pano de fundo que só agora começa a se desenvolver com mais força: conforme nos aproximamos do último ato, percebemos que Brooke está no lugar certo e na hora certa para que todos a seu redor revelem seus mórbidos planos e a coloquem em uma espécie de altar de sacrifício – seja para provar um ponto de vista, seja para se render completamente à maldade.

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Se alguns personagens permaneciam escondidos em meio a máscaras pré-determinadas, aqui eles revelam ao público sua real natureza. De um lado, temos a calculista personagem de Angelica Ross, que vinha se passando pela enfermeira do acampamento esse tempo todo. Rita, como a conhecíamos, é Donna Chambers, uma estudante de psicologia obcecada por serial killers e que resolveu dedicar toda sua carreira a compreender como a mente de um assassino funciona. Em um breve flashback, descobrimos que ela havia visitado Jingles no manicômio e o ajudou a escapar de lá, pedindo-lhe que retornasse para o recém-aberto Redwood e se deixasse ser guiado por seus mortais instintos; em outras palavras, Donna arquiteta todo um plano para tentar compreender o que leva alguém a cometer atos tão cruéis (mesmo que isso custe a vida de pessoas inocentes).

Do outro lado, Ricardo continua a perseguir Brooke e seus amigos, indo atrás até mesmo dos perturbados Chet (Gus Kenworthy) e Ray (DeRon Horton), que acabam presos em uma periculosa armadilha. É nesse momento que Ray também revela seu obscuro segredo, contando para um aparentemente desacordado Chet (que se vê com uma estaca enfiada no ombro) que foi responsável pela morte de um calouro da faculdade e que resolveu aceitar o emprego como monitor apenas para escapar das autoridades. Como podemos imaginar, a história de Ray e sua consequente e covarde tentativa de fuga de Redwood assinam sua sentença de morte – a qual vem da forma mais gore possível. Talvez não inesperada, visto que dentro do horripilante escopo de AHS, os protagonistas não costumam alcançar seus finais felizes.

Tim Minear assume novamente a cadeira de roteirista e, tendo optado no capítulo anterior por algo mais ativo do que reflexivo ou sobrenatural (dentro de suas limitações, é claro), mantém-se preso ao eterno retorno das epifanias. Em qualquer outro panorama, os marcados lampejos da busca pela redenção ou das confissões obrigatórias funcionariam como relativizações apressadas de uma resolução em potencial. De fato, se pensarmos na duração de um filme de terror convencional, estaríamos nos aproximando do fim: afinal, os verdadeiros vilões já deram as caras e o mundo caminha para o ápice de sua construção caótica antes de se reerguer com um prospecto trágico ou apaziguador. Porém, estamos falando de uma obra de Murphy: nada é tão simples assim e é bem provável que o criador esteja guardando nas mangas uma surpresa chocante.

É possível pensar que a temporada esteja se valendo de muitos artifícios façanhosos para recuperar uma antiga glória antológica. De qualquer forma, ainda estamos nos primeiros passos dessa misteriosa jornada e tudo pode acontecer – ora, até mesmo Montana (Billie Lourd) mostrou ter um relacionamento com Richard e estar tramando para matar Brooke. É certo dizer que a trama principal se fixa em um patamar incrustado com pontas soltas e múltiplas sub-narrativas que, em algum momento, deverão se encontrar (seja num movimento mais forçado, seja numa naturalização já pensada). Mas, por enquanto, tudo vem funcionando de modo orgânico o suficiente.

American Horror Story entrega mais um ótimo episódio que, apesar de carregar falhas mais perceptíveis que o da semana passada, ainda nos satisfaz numa alegre completude. Agora, as vítimas começaram a crescer e não podemos esperar para ver quem vai sobreviver até o season finale.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Depois de algumas temporadas cedendo a construções medíocres e sem qualquer sentido narrativo, American Horror Story se reencontrou em sua nona temporada com uma constante e incrivelmente inteligente emulação das produções mais clássicas do terror dos anos 1980 (afinal, não é à toa que o subtítulo da nova iteração seja ‘1984’). E, apesar de entregar um morno começo para uma aterrorizante jornada, o segundo e o terceiro episódios provaram que Ryan Murphy, Brad Falchuk e seu competente time criativo ainda têm muitas histórias para nos contar.

Em ‘Slashdance’, como ficou intitulado o capítulo desta semana, os nossos “heróis” se veem prestes a enfrentar a fúria de dois perigosos antagonistas: o serial killer Mr. Jingles (John Carroll Lynch), que já se provou muito mais inteligente do que parece, e o jovem conturbado e satânico Richard Ramirez (Zach Villa). Se John J. Gray conseguiu desmembrar uma única narrativa em algumas subtramas interessante e envolventes, a diretora Mary Wigmore mantém o mesmo ritmo e aproveita o excesso de reviravoltas para incrementar a personalidade de cada um dos personagens – e mostrar que todos ali não são o que parecem.

De fato, Brooke (Emma Roberts) é a única que se mantém verdadeira a quem nos mostrou nas semanas anteriores – ainda que sua construção como a ingênua e virgem final girl comece a parecer cansativo e cíclico demais para continuar nos empolgando. Mesmo sua trágica backstory é esquecida em meio aos frenéticos eventos que irão eliminar sumariamente os monitores do Acampamento Redwood. Entretanto, ela é pivô de um pano de fundo que só agora começa a se desenvolver com mais força: conforme nos aproximamos do último ato, percebemos que Brooke está no lugar certo e na hora certa para que todos a seu redor revelem seus mórbidos planos e a coloquem em uma espécie de altar de sacrifício – seja para provar um ponto de vista, seja para se render completamente à maldade.

Se alguns personagens permaneciam escondidos em meio a máscaras pré-determinadas, aqui eles revelam ao público sua real natureza. De um lado, temos a calculista personagem de Angelica Ross, que vinha se passando pela enfermeira do acampamento esse tempo todo. Rita, como a conhecíamos, é Donna Chambers, uma estudante de psicologia obcecada por serial killers e que resolveu dedicar toda sua carreira a compreender como a mente de um assassino funciona. Em um breve flashback, descobrimos que ela havia visitado Jingles no manicômio e o ajudou a escapar de lá, pedindo-lhe que retornasse para o recém-aberto Redwood e se deixasse ser guiado por seus mortais instintos; em outras palavras, Donna arquiteta todo um plano para tentar compreender o que leva alguém a cometer atos tão cruéis (mesmo que isso custe a vida de pessoas inocentes).

Do outro lado, Ricardo continua a perseguir Brooke e seus amigos, indo atrás até mesmo dos perturbados Chet (Gus Kenworthy) e Ray (DeRon Horton), que acabam presos em uma periculosa armadilha. É nesse momento que Ray também revela seu obscuro segredo, contando para um aparentemente desacordado Chet (que se vê com uma estaca enfiada no ombro) que foi responsável pela morte de um calouro da faculdade e que resolveu aceitar o emprego como monitor apenas para escapar das autoridades. Como podemos imaginar, a história de Ray e sua consequente e covarde tentativa de fuga de Redwood assinam sua sentença de morte – a qual vem da forma mais gore possível. Talvez não inesperada, visto que dentro do horripilante escopo de AHS, os protagonistas não costumam alcançar seus finais felizes.

Tim Minear assume novamente a cadeira de roteirista e, tendo optado no capítulo anterior por algo mais ativo do que reflexivo ou sobrenatural (dentro de suas limitações, é claro), mantém-se preso ao eterno retorno das epifanias. Em qualquer outro panorama, os marcados lampejos da busca pela redenção ou das confissões obrigatórias funcionariam como relativizações apressadas de uma resolução em potencial. De fato, se pensarmos na duração de um filme de terror convencional, estaríamos nos aproximando do fim: afinal, os verdadeiros vilões já deram as caras e o mundo caminha para o ápice de sua construção caótica antes de se reerguer com um prospecto trágico ou apaziguador. Porém, estamos falando de uma obra de Murphy: nada é tão simples assim e é bem provável que o criador esteja guardando nas mangas uma surpresa chocante.

É possível pensar que a temporada esteja se valendo de muitos artifícios façanhosos para recuperar uma antiga glória antológica. De qualquer forma, ainda estamos nos primeiros passos dessa misteriosa jornada e tudo pode acontecer – ora, até mesmo Montana (Billie Lourd) mostrou ter um relacionamento com Richard e estar tramando para matar Brooke. É certo dizer que a trama principal se fixa em um patamar incrustado com pontas soltas e múltiplas sub-narrativas que, em algum momento, deverão se encontrar (seja num movimento mais forçado, seja numa naturalização já pensada). Mas, por enquanto, tudo vem funcionando de modo orgânico o suficiente.

American Horror Story entrega mais um ótimo episódio que, apesar de carregar falhas mais perceptíveis que o da semana passada, ainda nos satisfaz numa alegre completude. Agora, as vítimas começaram a crescer e não podemos esperar para ver quem vai sobreviver até o season finale.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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