sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | American Horror Story – 09×04: True Killers

Se você acreditava que a nova temporada de American Horror Story seria apenas uma homenagem aos slashers dos anos 1980, sinto lhe informar que estava completamente enganado.

O quarto episódio de ‘1984’, como ficou intitulado o novo ciclo da antologia, não apenas manteve o interessante e aplaudível nível estético-narrativo da produção, como também abriu espaço para o teor sobrenatural tão característico das primeiras temporadas. De fato, com o desenrolar da trama principal e as múltiplas revelações feitas nos capítulos anteriores, era de se esperar que a história arquitetada originalmente por Ryan Murphy e Brad Falchuk se voltasse para uma perspectiva mística. Entretanto, faz-se necessário dizer que, seguindo os passos das iterações predecessoras, o roteiro de Jay Beattie se ata com força nas reviravoltas do gênero e talvez falhe em alguns momentos no tocante à credibilidade.

Logo de cara, somos apresentados à “história de origem” da relação entre Richard Ramirez (Zach Villa) e Montana (Billie Lourd), que já revelaram para o público suas reais intenções: fazer com que a jovem Brooke (Emma Roberts) sofra e pague o preço por ser a causa do assassinato do irmão de Montana – aquele que levou um tiro na cabeça no meio de um casamento. Percebemos, dessa forma, a declaração de amor dos showrunners e de sua extensa equipe por personagens conturbados, nutridos pela força do ódio e que buscam, eventualmente, encontrar redenção nos atos mais cruéis e mais inexplicáveis possíveis.



Do outro lado, Mr. Jingles (John Carroll Lynch) continua em seu psicótico estado de terminar o trabalho que começo catorze anos atrás. É estranho analisar como a temporada inteira se move em retrocesso quando pensamos na cronologia, visto que a breve noite do Acampamento Redwood é transformada em um espectro intimista, psíquico demais para que realmente seja algo crível; entretanto, a trágica jornada dos protagonistas é bombardeada constantemente por eventos drenados de um pesadelo, trazidos para um realidade caótica e reflexa da conturbada sociedade em que vivem. De fato, alguns elementos narrativos são forçados demais, mas, dentro do panteão de horror de AHS, fazem completo sentido – ora, quais são as chances de, num mesmo lugar, termos a presença de dois serial killers, uma fanática religiosa e uma psicóloga decadente e controversa?

Buscando uma contingente referências a ciclos anteriores – principalmente às subtramas em excesso de Hotel, Freak Show e Cult -, o novo capítulo cede brevemente a esses artifícios para tentar criar um vínculo emocional com o público. Desconstruindo a sólida estrutura sanguinolenta dos clássicos filmes de terror de época, Xavier (Cody Fern) cruza caminho com a presença pontual de Bertie (Tara Karsian), a cozinheira do acampamento que parece, de alguma forma, alheia a tudo que está acontecendo nos arredores do refeitório.

O problema é que Bertie é introduzida em um patamar de deus ex machina cujas consequências para o ritmo da série são gritantes e quase imediatas. Diferente dos descartáveis figurantes que apareceram nas semanas passadas – como o trio de meninos que resolve fazer uma pegadinha para os monitores de Redwood ou a verdadeira enfermeira Rita -, a personagem de Karsian é presenteada com um arco com profundidade enganadora, tangenciando um melodrama novelesco que não arranca nenhuma informação nova da narrativa. Na verdade, Bertie troca algumas palavras com Xavier e depois senta-se à mesa com Jingles, tentando mantê-lo calmo e impedir que ele continue seu reino de matança desenfreada. Mas não há qualquer indício de exploração, e sim uma aceitação conivente de que não há muito mais para onde a série prosseguir.

Os momentos finais, apesar de construídos dentro de um arco de ação e reação envolvente e firme, também não servem como uma epifania tão majestosa – na verdade, o twist promovido pelo roteiro já havia sido apresentado com dúbia interpretação no segundo capítulo. A verdade é que Jingles admitiu para si mesmo após passar por uma série de torturas (incluindo tratamento de choque) que era o verdadeiro assassino, quando Margareth (Leslie Grossman) havia massacrado o grupo de colegas todo aquele tempo atrás. Ela, em um súbito desejo de voltar aos primórdios de sua existência, até mesmo mata impiedosamente o heroico Trevor (Matthew Morrison) e nos dá a entender que não vai parar por aí.

Enquanto Grossman e Lourd entregam performances surpreendentemente originais, afastando-se do escopo cômico no qual estavam presas, é certo dizer que o quarto capítulo da mais nova saga de AHS parece ter perdido a mão – talvez um deslize único, talvez um premeditado choque de realidade que preza por uma mister readequação da história principal.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Logo de cara, somos apresentados à “história de origem” da relação entre Richard Ramirez (Zach Villa) e Montana (Billie Lourd), que já revelaram para o público suas reais intenções: fazer com que a jovem Brooke (Emma Roberts) sofra e pague o preço por ser a causa do assassinato do irmão de Montana – aquele que levou um tiro na cabeça no meio de um casamento. Percebemos, dessa forma, a declaração de amor dos showrunners e de sua extensa equipe por personagens conturbados, nutridos pela força do ódio e que buscam, eventualmente, encontrar redenção nos atos mais cruéis e mais inexplicáveis possíveis.

Do outro lado, Mr. Jingles (John Carroll Lynch) continua em seu psicótico estado de terminar o trabalho que começo catorze anos atrás. É estranho analisar como a temporada inteira se move em retrocesso quando pensamos na cronologia, visto que a breve noite do Acampamento Redwood é transformada em um espectro intimista, psíquico demais para que realmente seja algo crível; entretanto, a trágica jornada dos protagonistas é bombardeada constantemente por eventos drenados de um pesadelo, trazidos para um realidade caótica e reflexa da conturbada sociedade em que vivem. De fato, alguns elementos narrativos são forçados demais, mas, dentro do panteão de horror de AHS, fazem completo sentido – ora, quais são as chances de, num mesmo lugar, termos a presença de dois serial killers, uma fanática religiosa e uma psicóloga decadente e controversa?

Buscando uma contingente referências a ciclos anteriores – principalmente às subtramas em excesso de Hotel, Freak Show e Cult -, o novo capítulo cede brevemente a esses artifícios para tentar criar um vínculo emocional com o público. Desconstruindo a sólida estrutura sanguinolenta dos clássicos filmes de terror de época, Xavier (Cody Fern) cruza caminho com a presença pontual de Bertie (Tara Karsian), a cozinheira do acampamento que parece, de alguma forma, alheia a tudo que está acontecendo nos arredores do refeitório.

O problema é que Bertie é introduzida em um patamar de deus ex machina cujas consequências para o ritmo da série são gritantes e quase imediatas. Diferente dos descartáveis figurantes que apareceram nas semanas passadas – como o trio de meninos que resolve fazer uma pegadinha para os monitores de Redwood ou a verdadeira enfermeira Rita -, a personagem de Karsian é presenteada com um arco com profundidade enganadora, tangenciando um melodrama novelesco que não arranca nenhuma informação nova da narrativa. Na verdade, Bertie troca algumas palavras com Xavier e depois senta-se à mesa com Jingles, tentando mantê-lo calmo e impedir que ele continue seu reino de matança desenfreada. Mas não há qualquer indício de exploração, e sim uma aceitação conivente de que não há muito mais para onde a série prosseguir.

Os momentos finais, apesar de construídos dentro de um arco de ação e reação envolvente e firme, também não servem como uma epifania tão majestosa – na verdade, o twist promovido pelo roteiro já havia sido apresentado com dúbia interpretação no segundo capítulo. A verdade é que Jingles admitiu para si mesmo após passar por uma série de torturas (incluindo tratamento de choque) que era o verdadeiro assassino, quando Margareth (Leslie Grossman) havia massacrado o grupo de colegas todo aquele tempo atrás. Ela, em um súbito desejo de voltar aos primórdios de sua existência, até mesmo mata impiedosamente o heroico Trevor (Matthew Morrison) e nos dá a entender que não vai parar por aí.

Enquanto Grossman e Lourd entregam performances surpreendentemente originais, afastando-se do escopo cômico no qual estavam presas, é certo dizer que o quarto capítulo da mais nova saga de AHS parece ter perdido a mão – talvez um deslize único, talvez um premeditado choque de realidade que preza por uma mister readequação da história principal.

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