domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘American Horror Story: Double Feature’ entrega um 4º episódio meticuloso e incrivelmente construído

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Particularmente, não sou muito fã de episódios em flashback, a não ser que saibam ser construídos de forma não descartável – e American Horror Story já provou algumas vezes que não consegue fazer isso muito bem. Temos, por exemplo, o total desperdício da oitava temporada, ‘Apocalypse’, que permaneceu grande parte da narrativa isolada em um passado pré-desastre nuclear e se esqueceu da história em questão, apressando-se em fornecer qualquer conclusão meia-boca para os fãs; ou então com as constantes inversões em ‘Hotel’, que falhavam em executar a proposta em seu completo potencial. E, agora, o ótimo ciclo intitulado ‘Double Feature’ do mesmo contorcionismo para revelar alguns detalhes sobre os mistérios de Provincetown e dos “sugadores de sangue”.

No geral, a trama não apresenta nada de novo, por assim dizer, além de contar a breve história de origem de certos personagens – incluindo Belle Noir (Frances Conroy), Austin (Evan Peters) e a Química (Angelica Ross). Entretanto, apesar de um território familiar, a execução do episódio ascendeu a níveis espetaculares e com pontuais deslizes técnicos, cortesia da talentosa Axelle Carolyn – isso sem mencionar o sólido roteiro assinado, mais uma vez, por Brad Falchuk. Até mesmo a estética parece sofrer uma alteração comedida, sem perder a essência da antologia de terror e honrando o próprio nome; mas isso era de se esperar, considerando que Carolyn já havia emprestado suas habilidades para outra obra, ‘Creepshow’, e para um dos melhores capítulos de ‘A Maldição da Mansão Bly’ (também em flashback, por coincidência).



Desde a estreia da décima temporada, todas as tramas cruzavam caminho com a misteriosa figura da Química, apresentada brevemente no capítulo anterior. Em “Blood Buffet”, como ficou intitulada nova iteração, Ross volta para um espetáculo performativo como a ambiciosa e inconsequente cientista. Especializada em bioengenharia e graduada em Universidade de Harvard, ela se muda para a cidade litorânea em busca de paz – e um lugar para que foque em seus experimentos sem atrair muita atenção. Afinal, ela desenvolveu uma pílula que consegue aumentar exponencialmente a seção cerebral responsável pela criatividade e, para tanto, precisa de cobaias que sirvam como objeto de análise, tanto para os efeitos benéficos quanto para os colaterais.

O episódio encontra potencial ilimitado que, seguindo os passos dos predecessores, vem investindo um cuidado construtivo invejável e que há muito já não víamos na série. Em ‘Red Tide’, primeira parte de ‘Double Feature’ que chegará ao fim em apenas duas semanas, o teor satírico e frenético dos anos anteriores deixa de existir em prol de uma calma e sucinta narrativa que pode não ser tão original assim, mas que utiliza os múltiplos estereótipos e fórmulas do gênero a seu favor – como, por exemplo, a mitologia dos vampiros. Infundidos em um turbilhão que segrega o talento da mediocridade, a temática metalinguística nunca esteve presente de forma tão definitiva na série quanto agora.

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Belle Noir é a primeira a sentir os efeitos da pílula e, ao contrário do retrato que o público tinha dela, sua história de vida nos causa comiseração: apesar da paixão pela escrita, ela lançou o primeiro livro por conta própria, embarcando em uma turnê fracassada para promovê-lo, ao menos até chegar em Provincetown. Acompanhada de um marido egocêntrico e insuportável, cuja deturpada ideia de “apoio” o colocava em um patamar divino, a romancista não conseguia se livrar do sentimento de frustração, comum a qualquer um que já tenha mergulhado na carreira artística – e é aí que a Química aparece para lhe oferecer uma solução mágica, que a transforma em uma máquina criativa e que lhe proporciona uma purgação regada a sangue e a vingança. Anos depois, ela volta para a cidade, agora uma mulher de fama e reconhecimento, e apresenta a pílula para Austin – cujo desespero o fez recorrer a performances nada inspiradas para ter o que comer.

Falar da competência do elenco é cair na redundância, visto que American Horror Story, ainda que não tenha acertado sempre no tocante à condução ou às reviravoltas, teve atores e atrizes de peso para nos cativarem. Mas aqui, Conroy entrega uma das mais incríveis rendições do ano em um profundo e meticuloso arco de morte e ressurreição que a reitera como uma das grandes atrizes de sua geração (e que pode lhe garantir uma indicação ao Emmy, inclusive). Ross, por sua vez, mostra todo seu carisma e é guiada pelo dinamismo de um roteiro impecável para postar-se como uma anti-heroína complexa e sem discernimento do que pode causar.

‘Double Feature’ continua em uma maré de exibições espetaculares e mantém-se firme na premissa de que se valeu desde sua estreia. Com poucos episódios remanescentes até o início da segunda parte, a temporada já pode, firmemente, ser considerada uma das melhores do panteão e deve ser apreciada em cada uma de suas miméticas e categóricas engrenagens.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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No geral, a trama não apresenta nada de novo, por assim dizer, além de contar a breve história de origem de certos personagens – incluindo Belle Noir (Frances Conroy), Austin (Evan Peters) e a Química (Angelica Ross). Entretanto, apesar de um território familiar, a execução do episódio ascendeu a níveis espetaculares e com pontuais deslizes técnicos, cortesia da talentosa Axelle Carolyn – isso sem mencionar o sólido roteiro assinado, mais uma vez, por Brad Falchuk. Até mesmo a estética parece sofrer uma alteração comedida, sem perder a essência da antologia de terror e honrando o próprio nome; mas isso era de se esperar, considerando que Carolyn já havia emprestado suas habilidades para outra obra, ‘Creepshow’, e para um dos melhores capítulos de ‘A Maldição da Mansão Bly’ (também em flashback, por coincidência).

Desde a estreia da décima temporada, todas as tramas cruzavam caminho com a misteriosa figura da Química, apresentada brevemente no capítulo anterior. Em “Blood Buffet”, como ficou intitulada nova iteração, Ross volta para um espetáculo performativo como a ambiciosa e inconsequente cientista. Especializada em bioengenharia e graduada em Universidade de Harvard, ela se muda para a cidade litorânea em busca de paz – e um lugar para que foque em seus experimentos sem atrair muita atenção. Afinal, ela desenvolveu uma pílula que consegue aumentar exponencialmente a seção cerebral responsável pela criatividade e, para tanto, precisa de cobaias que sirvam como objeto de análise, tanto para os efeitos benéficos quanto para os colaterais.

O episódio encontra potencial ilimitado que, seguindo os passos dos predecessores, vem investindo um cuidado construtivo invejável e que há muito já não víamos na série. Em ‘Red Tide’, primeira parte de ‘Double Feature’ que chegará ao fim em apenas duas semanas, o teor satírico e frenético dos anos anteriores deixa de existir em prol de uma calma e sucinta narrativa que pode não ser tão original assim, mas que utiliza os múltiplos estereótipos e fórmulas do gênero a seu favor – como, por exemplo, a mitologia dos vampiros. Infundidos em um turbilhão que segrega o talento da mediocridade, a temática metalinguística nunca esteve presente de forma tão definitiva na série quanto agora.

Belle Noir é a primeira a sentir os efeitos da pílula e, ao contrário do retrato que o público tinha dela, sua história de vida nos causa comiseração: apesar da paixão pela escrita, ela lançou o primeiro livro por conta própria, embarcando em uma turnê fracassada para promovê-lo, ao menos até chegar em Provincetown. Acompanhada de um marido egocêntrico e insuportável, cuja deturpada ideia de “apoio” o colocava em um patamar divino, a romancista não conseguia se livrar do sentimento de frustração, comum a qualquer um que já tenha mergulhado na carreira artística – e é aí que a Química aparece para lhe oferecer uma solução mágica, que a transforma em uma máquina criativa e que lhe proporciona uma purgação regada a sangue e a vingança. Anos depois, ela volta para a cidade, agora uma mulher de fama e reconhecimento, e apresenta a pílula para Austin – cujo desespero o fez recorrer a performances nada inspiradas para ter o que comer.

Falar da competência do elenco é cair na redundância, visto que American Horror Story, ainda que não tenha acertado sempre no tocante à condução ou às reviravoltas, teve atores e atrizes de peso para nos cativarem. Mas aqui, Conroy entrega uma das mais incríveis rendições do ano em um profundo e meticuloso arco de morte e ressurreição que a reitera como uma das grandes atrizes de sua geração (e que pode lhe garantir uma indicação ao Emmy, inclusive). Ross, por sua vez, mostra todo seu carisma e é guiada pelo dinamismo de um roteiro impecável para postar-se como uma anti-heroína complexa e sem discernimento do que pode causar.

‘Double Feature’ continua em uma maré de exibições espetaculares e mantém-se firme na premissa de que se valeu desde sua estreia. Com poucos episódios remanescentes até o início da segunda parte, a temporada já pode, firmemente, ser considerada uma das melhores do panteão e deve ser apreciada em cada uma de suas miméticas e categóricas engrenagens.

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