quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Amizade Maldita – Misto de ‘O Amigo Oculto’ e ‘Babadook’ carece peso

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Com jeitão de filme B de terror, a produção canadense Amizade Maldita (título em português para o mais enigmático ‘Z’) é na realidade uma obra de prestígio, tendo passado por diversos festivais especializados do gênero, pelos EUA, Reino Unido e Canadá (foram 6 ao todo), nos quais foi indicado a 17 prêmios, levando para casa 9 deles. Ou seja, mesmo desconhecido do grande público, sem nomes famosos na frente ou atrás das câmeras, o longa tem certa bagagem desde sua estreia em 1º de junho de 2019 no Festival Overlook (sim, é o nome do hotel em O Iluminado). E agora a Imagem Filmes investe no produto, lançando-o no mercado brasileiro exclusivamente nos cinemas a partir do dia 3 de dezembro. Um prato cheio para os aficionados.

Apesar de toda a badalação e glamour, Amizade Maldita possui uma trama simples, que você provavelmente reconhecerá de outros filmes recentes do gênero. A princípio notamos a influência do subgênero “crianças macabras” – que é através de onde o filme se vende em todas as suas peças publicitárias – remetendo a verdadeiros clássicos como A Aldeia dos Amaldiçoados (1960) e A Profecia (1976), por exemplo. Na trama escrita Colin Minihan em parceria com Brandon Christensen (também o diretor do filme), temos uma família saída de um destes comerciais de margarina, na qual os membros são a mãe Beth (Keegan Connor Tracy), o pai Kevin (Sean Rogerson) e o pequeno Joshua (Jett Klyne). Ah sim, temos também a avó catatônica numa cama (Deborah Ferguson) e a jovem tia (Sara Canning).



Inicialmente, ao tentarmos entender o “jogo” aqui, a pergunta que fica é: Joshua possui mesmo os dons do menininho de O Sexto Sentido (1999) e consegue se comunicar com seu novo melhor amigo imaginário, de nome Z, uma entidade medonha; ou tudo faz parte de seu próprio psicológico e é o garoto cometendo atos terríveis e violentos, que deixam seus colegas de escola aterrorizados e a professora requisitando uma reunião urgente com seus pais. Aos poucos Z vai tendo cada vez mais influxo no comportamento do menino, além de começar a se introduzir igualmente na dinâmica familiar. A mãe, como sempre ocorre em filmes assim, é a primeira a notar a presença do ‘coleguinha’, de forma até mesmo direta e bem física. Mas aí é onde encontramos a primeira grande reviravolta que, estávamos esperando, e sabíamos que viria. O contado da mãe não é gratuito.

Sem entrar em território de spoilers, uma das medidas adotadas pela família, é tratar Joshua com o antigo psicólogo da família, o Dr. Seager (papel do ótimo ator-personagem Stephen McHattie). Nesta consulta, o doutor acaba encontrando através do nome do tal amigo imaginário um gatilho de um caso antigo, envolvendo Beth e sua infância. A partir daí, o filme troca o seu piloto e o e a mensagem agora é mais profunda, com temas reais como esquizofrenia e traumas do passado, enterrados no subconsciente. Mesmo assim, não podemos deixar de perceber inúmeras semelhanças palpáveis com filmes como O Babadook (2014), O Amigo Oculto (2005) e Boa Noite, Mamãe (2014).

Amizade Maldita é um filme enigmático e que pode ser lido de duas formas – ou quem sabe mais algumas se apresentem -, prometendo agradar mais os fãs do gênero que gostam de preencher as lacunas deixadas abertas a interpretações (o chamado “terror de arte”), embora não desaponte os mais jovens, cujo fascínio está nos sustos e num tipo de produção mais mirada a todos os públicos. Nessa segunda e mais direta opção, a falta de um desfecho claro pode deixar um gosto de quero mais ao espectador.

Christensen consegue criar um clima legal, mesmo se apoiando demasiadamente em sua trilha sonora para garantir os sustos – com duas cenas sobressaindo, arquitetadas com esmero a fim de gelar nossa espinha (a do menino na escada e a da banheira). O que faltou em Amizade Maldita para que o longa chegasse verdadeiramente ao nível de uma grande obra do gênero é um desenvolvimento maior nos dramas pessoais dos personagens, pincelados para os que estiverem atentos, e atuações que evidenciassem mais estes ápices emocionais – item no qual grande parte do elenco, ainda muito verde, não obtém sucesso ao ponto de nos fisgar de verdade. O destaque aqui fica para a protagonista Tracy, a mais experiente do elenco.

Amizade Maldita é um bom exemplar do gênero, mas um que está longe de ser marcante ao ponto de escrever seu nome ao lado do panteão do terror atual: obras de gente como Robert Eggers, Ari Aster, Jordan Peele ou até mesmo James Wan. Abaixo uma análise e significados de alguns dos temas do filme, com SPOILERS.

SPOILERS!

Para uma análise mais aprofundada, precisamos discutir alguns temas oferecidos pelo longa, mas que são parte essencial da trama e contém segredos importantes. Portanto, continue após ter assistido ao filme, ou por sua conta e risco.

Como dito, a história, em sua primeira grande reviravolta, mostra que o contato de Z, a figura imaginária, com esta família vem muito antes do menino Joshua, e sua mãe Beth, ainda na infância, o tinha igualmente como melhor amigo secreto. Vemos inclusive a menina numa gravação de vídeo dizendo que Z queria casar com ela quando fosse adulta. Tais declarações fizeram seus pais ligarem o sinal vermelho de alerta e começar um tratamento psicológico com a menina, com o mesmo Dr. Seager. Não é apontado exatamente o que pode ter desencadeado o surgimento da figura fictícia na vida da menina, mas as poucas trocas que Beth tem com sua mãe catatônica, entravada numa cama, podem demonstrar um relacionamento conturbado entre as duas. Isto é, se seguirmos pela vertente psicológica, de que tudo estava o tempo todo na cabeça da mãe e filho, os únicos capazes de ver a criatura, podemos interpretar a visão da entidade como uma esquizofrenia hereditária. Uma doença passada de mãe para filho.

Nos EUA, alguns críticos optaram por uma interpretação mais direta, comparando o longa ao clássico Poltergeist, onde uma família é atormentada por eventos sobrenaturais. E se formos seguir por este caminho, notaremos a falta de uma costura maior e mais detalhada que satisfaça verdadeiramente a intenção dos realizadores – com um trajeto e resolução muito simplista e sem muitas surpresas. Justamente por isso, prefiro acreditar na primeira interpretação, mais desesperadora, real e difícil de se lidar. Na qual o monstro metafórico que, se não tratado, estará sempre a espreita. Mesmo esta resolução narrativa não é tão complexa de ser percebida, sendo uma analogia de acesso muito tangível.

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Apesar de toda a badalação e glamour, Amizade Maldita possui uma trama simples, que você provavelmente reconhecerá de outros filmes recentes do gênero. A princípio notamos a influência do subgênero “crianças macabras” – que é através de onde o filme se vende em todas as suas peças publicitárias – remetendo a verdadeiros clássicos como A Aldeia dos Amaldiçoados (1960) e A Profecia (1976), por exemplo. Na trama escrita Colin Minihan em parceria com Brandon Christensen (também o diretor do filme), temos uma família saída de um destes comerciais de margarina, na qual os membros são a mãe Beth (Keegan Connor Tracy), o pai Kevin (Sean Rogerson) e o pequeno Joshua (Jett Klyne). Ah sim, temos também a avó catatônica numa cama (Deborah Ferguson) e a jovem tia (Sara Canning).

Inicialmente, ao tentarmos entender o “jogo” aqui, a pergunta que fica é: Joshua possui mesmo os dons do menininho de O Sexto Sentido (1999) e consegue se comunicar com seu novo melhor amigo imaginário, de nome Z, uma entidade medonha; ou tudo faz parte de seu próprio psicológico e é o garoto cometendo atos terríveis e violentos, que deixam seus colegas de escola aterrorizados e a professora requisitando uma reunião urgente com seus pais. Aos poucos Z vai tendo cada vez mais influxo no comportamento do menino, além de começar a se introduzir igualmente na dinâmica familiar. A mãe, como sempre ocorre em filmes assim, é a primeira a notar a presença do ‘coleguinha’, de forma até mesmo direta e bem física. Mas aí é onde encontramos a primeira grande reviravolta que, estávamos esperando, e sabíamos que viria. O contado da mãe não é gratuito.

Sem entrar em território de spoilers, uma das medidas adotadas pela família, é tratar Joshua com o antigo psicólogo da família, o Dr. Seager (papel do ótimo ator-personagem Stephen McHattie). Nesta consulta, o doutor acaba encontrando através do nome do tal amigo imaginário um gatilho de um caso antigo, envolvendo Beth e sua infância. A partir daí, o filme troca o seu piloto e o e a mensagem agora é mais profunda, com temas reais como esquizofrenia e traumas do passado, enterrados no subconsciente. Mesmo assim, não podemos deixar de perceber inúmeras semelhanças palpáveis com filmes como O Babadook (2014), O Amigo Oculto (2005) e Boa Noite, Mamãe (2014).

Amizade Maldita é um filme enigmático e que pode ser lido de duas formas – ou quem sabe mais algumas se apresentem -, prometendo agradar mais os fãs do gênero que gostam de preencher as lacunas deixadas abertas a interpretações (o chamado “terror de arte”), embora não desaponte os mais jovens, cujo fascínio está nos sustos e num tipo de produção mais mirada a todos os públicos. Nessa segunda e mais direta opção, a falta de um desfecho claro pode deixar um gosto de quero mais ao espectador.

Christensen consegue criar um clima legal, mesmo se apoiando demasiadamente em sua trilha sonora para garantir os sustos – com duas cenas sobressaindo, arquitetadas com esmero a fim de gelar nossa espinha (a do menino na escada e a da banheira). O que faltou em Amizade Maldita para que o longa chegasse verdadeiramente ao nível de uma grande obra do gênero é um desenvolvimento maior nos dramas pessoais dos personagens, pincelados para os que estiverem atentos, e atuações que evidenciassem mais estes ápices emocionais – item no qual grande parte do elenco, ainda muito verde, não obtém sucesso ao ponto de nos fisgar de verdade. O destaque aqui fica para a protagonista Tracy, a mais experiente do elenco.

Amizade Maldita é um bom exemplar do gênero, mas um que está longe de ser marcante ao ponto de escrever seu nome ao lado do panteão do terror atual: obras de gente como Robert Eggers, Ari Aster, Jordan Peele ou até mesmo James Wan. Abaixo uma análise e significados de alguns dos temas do filme, com SPOILERS.

SPOILERS!

Para uma análise mais aprofundada, precisamos discutir alguns temas oferecidos pelo longa, mas que são parte essencial da trama e contém segredos importantes. Portanto, continue após ter assistido ao filme, ou por sua conta e risco.

Como dito, a história, em sua primeira grande reviravolta, mostra que o contato de Z, a figura imaginária, com esta família vem muito antes do menino Joshua, e sua mãe Beth, ainda na infância, o tinha igualmente como melhor amigo secreto. Vemos inclusive a menina numa gravação de vídeo dizendo que Z queria casar com ela quando fosse adulta. Tais declarações fizeram seus pais ligarem o sinal vermelho de alerta e começar um tratamento psicológico com a menina, com o mesmo Dr. Seager. Não é apontado exatamente o que pode ter desencadeado o surgimento da figura fictícia na vida da menina, mas as poucas trocas que Beth tem com sua mãe catatônica, entravada numa cama, podem demonstrar um relacionamento conturbado entre as duas. Isto é, se seguirmos pela vertente psicológica, de que tudo estava o tempo todo na cabeça da mãe e filho, os únicos capazes de ver a criatura, podemos interpretar a visão da entidade como uma esquizofrenia hereditária. Uma doença passada de mãe para filho.

Nos EUA, alguns críticos optaram por uma interpretação mais direta, comparando o longa ao clássico Poltergeist, onde uma família é atormentada por eventos sobrenaturais. E se formos seguir por este caminho, notaremos a falta de uma costura maior e mais detalhada que satisfaça verdadeiramente a intenção dos realizadores – com um trajeto e resolução muito simplista e sem muitas surpresas. Justamente por isso, prefiro acreditar na primeira interpretação, mais desesperadora, real e difícil de se lidar. Na qual o monstro metafórico que, se não tratado, estará sempre a espreita. Mesmo esta resolução narrativa não é tão complexa de ser percebida, sendo uma analogia de acesso muito tangível.

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