quinta-feira, maio 2, 2024

Crítica | Ana. Sem Título – Filme de Lúcia Murat resgata memória de artistas latino-americanas desaparecidas na ditadura

Os anos 1960 e 1970 foram muito duros para boa parte dos países latino-americanos. Ao longo da década, diferentes ditaduras militares foram se instaurando em boa parte dos países, passando a perseguir, torturar e matar centenas de pessoas – boa parte das quais artistas e intelectuais. Até hoje há muitos vácuos não preenchidos sobre o que de fato acontecera nos muitos centros de detenção nesses países. Como uma tentativa de solucionar um pouco dessa história silenciada, a diretora Lúcia Murat estreia essa semana nos cinemas o longa ‘Ana. Sem Título’.

Stela (Stella Rabello), uma jovem atriz brasileira, decide fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas nos anos 1970 e 1980. Para isso, viaja para Cuba, México, Argentina e Chile à procura dos trabalhos e depoimentos sobre a realidade que elas viveram durante as ditaduras e revoluções que esses países enfrentaram na época.  Em meio à investigação, Stela descobre a existência de Ana, uma jovem artista brasileira que fez parte desse mundo, mas cujo paradeiro é desconhecido até hoje. Em 1968, Ana saiu do sul do Brasil, de uma pequena cidade do interior, para a efervescente Buenos Aires, que vivia um momento de mudança nas artes plásticas e, a partir daí, passou a traçar seu próprio destino. Obcecada pela personagem, Stela resolve ir atrás da artista e descobrir o que de fato aconteceu com ela.

Misturando ficção com realidade, o roteiro da renomada cineasta Lúcia Murat recebe a colaboração da romancista Tatiana Salem Levy, de modo que, ao longo do filme, podemos imaginar como essa construção foi sendo elaborada. O roteiro possui evidentes momentos de ficcionalização através da personagem Stela, pois é através dela que o filme é conduzido: junto com sua pesquisa, o espectador vai montando o quebra-cabeças pelo viés da percepção e das descobertas da protagonista.

É bem interessante parar para observar como o roteiro cria uma história onde não há. Ou seja, ao inventar a personagem fictícia Ana, Lúcia Murat traça os caminhos da história ocultada e/ou desconhecida de dezenas (ou centenas) de artistas mulheres latino-americanas que foram desaparecidas pelas ditaduras militares. Através da suposta troca de cartas entre artistas que teriam conhecido a Ana, o longa viaja por Cuba, Buenos Aires, Cidade do México e Chile, além do Brasil, para contar em tom documental um pouco a história de personalidades como Frida Kahlo, Soledad Barret, a roteirista María Luisa Bemberg, dentre outras, incluindo a própria Lúcia Murat, que compartilha abertamente alguns dos traumas que ainda carrega do tempo em que ficara presa.

As histórias dessas artistas militantes são intercaladas por manifestações e intervenções artísticas que se estendem por uns segundos a mais na telona, o que acaba conferindo um ritmo mais dilatado à produção que tem 1h50 de duração. Embora também jogue luz sobre os trabalhos dessas mulheres, acima de tudo ‘Ana. Sem Título’ se propõe a reconstruir a memória roubada e a história interrompida dessas e de outras tantas mulheres subtraídas pela ditadura. Por fazê-lo, se torna uma ferramenta importantíssima para ajudar a dar um fechamento a tantos e tantos enredos de vidas cujas famílias ainda procuram por um fim.

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