sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Angel e Papi encontram o final feliz no desequilibrado sexto episódio da 3ª temporada de ‘Pose’

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Se pararmos para pensar, a marca registrada de Pose é o seu competente melodrama. Diferente das incursões novelescas que permeiam as produções de Ryan Murphy e companhia (vide ‘Hollywood’ e até mesmo American Horror Story), a produção fez um retorno glorioso à cultura ballroom dos anos 1980 e 1990 e aproveitou para não apenas focar no glamour da época, mas sim nos inúmeros preconceitos sofridos pela comunidade LGBTQ+, inclusive os membros transsexuais, expulsos de casa, sem quaisquer perspectivas de vida e obrigados a se renderem à prostituição. Não é surpresa, dessa forma, que cada capítulo tenha sido construído da forma mais cândida e emocionante possível, nos arrancando lágrimas semana após semana.

Agora, caminhando para o penúltimo episódio da terceira temporada, a produção resolve finalizar diversos arcos e focar em um lado mais otimista das múltiplas narrativas apresentadas – colocando nos holofotes o longo e árduo relacionamento de Papi (Angel Bismark Curiel) e de Angel (Indya Moore), que vinha passando por inúmeros problemas desde o capítulo anterior, com a descoberta de que Papi tinha um filho e que ele decidira tomá-lo para si após a morte da mãe biológica. É claro que, numa perspectiva mais ampla, nenhum dos dois carregava culpa pela mudança ocasionada em suas vidas, motivo pelo qual não tiramos razão de Papi querer ficar com o filho nem tiramos a razão de Angel de querer cancelar o casamento por não estar pronta para ser mãe. Entretanto, essa adversidade não parece durar muito e culmina em uma autorrealização um tanto quanto rápida demais para o ritmo minucioso da série, apostando em frenéticos desenlaces em prol de um final feliz que não é tão denso quanto poderia ser.



“Something Old, Something New”, como ficou intitulado a sexta iteração, parece não saber exatamente de que modo proceder, ainda mais em virtude de tantas subtramas que disputam pelo centro do palco. Além de Angel e Papi, temos o problema da cegueira que vem tomando conta de Pray Tell (Billy Porter), em virtude das comorbidades do HIV, e sua compreensão de que o fim está próximo; como se não bastasse, Lulu (Hailie Sahar) lida com um relacionamento complicado e tóxico, bem como o fato de estar se livrando do vício em drogas dia após dia; e, no topo de tudo isso, a personagem de Moore resolve concluir uma longa caminhada ao tentar convencer o pai, com quem já mantinha contato há muitos anos, a entrar com ela na cerimônia do casamento (sem muito sucesso, como é de se esperar). Porém, nenhuma dos promissores enredos parece fazer qualquer sentido em mais de uma hora de exibição, sendo jogados em profusão e buscando por desenvolvimentos de arcos que já são complexos o suficiente para nos envolverem.

O episódio em si não é ruim, ainda mais considerando a química que Moore e Bismark desfrutam no altar e uma espécie de “cena pós-créditos” que finalmente os une em uma família afortunada. Porém, caracterizá-lo como “bom” também não faz jus às incríveis joias que Murphy, Steven Canals e Janet Mock já nos entregaram. Até mesmo a direção, que fica a encargo de Mock, não parece tão inspirada quanto num passado recente: o jogo de câmeras apenas menciona as imagens dos bailes noturnos e, apesar de criar uma espécie de melancolia nostálgica aos protagonistas – ainda mais no tocante a Pray Tell e a Blanca (Mj Rodriguez) -, deixa de lado os estonteantes figurinos e a celebração da vida para as fórmulas das inflexões familiares e de uma previsibilidade bastante repetitiva.

À medida que demonstra apreço pela já mencionada construção antológica, nota-se que tanto o roteiro quanto a condução do capítulo se rendem a uma fragmentação multifacetada que não chega a lugar nenhum. Com exceção da breve sequência declamatória entre Angel e suas madrinhas de casamento – em que até mesmo Elektra (Dominique Jackson), colocada em segundo plano, volta a reafirmar sua ambígua e superprotetora personalidade -, as peças parecem não se encaixar com a naturalidade esperada, deixando a humanidade de lado e apressando-se para entregar ao público o que quer: os breves momentos de paz e de prosperidade para pessoas marginalizadas que se contentam com o presente e não conseguem pensar no dia de amanhã. De fato, a história centrada em Angel e Papi, que já vinha dominando a produção há algum tempo, é uma carta de esperança àqueles que desistiram do amor – um aspecto bem importante, considerando a imprescindível temática da série.

Postando-se como um filler esquecível, pela falta de outro adjetivo condizente, o sexto e penúltimo episódio de Pose peca pela falta de estrutura e, por mais que tente recuperar o que foi perdido, força-nos a uma catarse bruta que, em qualquer outro momento, funcionaria com mais convicção do que aqui. De qualquer forma, um equívoco como esse não apaga o brilho da temporada – e com certeza não nos deixa menos animados para o aguardado series finale da próxima semana.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, caminhando para o penúltimo episódio da terceira temporada, a produção resolve finalizar diversos arcos e focar em um lado mais otimista das múltiplas narrativas apresentadas – colocando nos holofotes o longo e árduo relacionamento de Papi (Angel Bismark Curiel) e de Angel (Indya Moore), que vinha passando por inúmeros problemas desde o capítulo anterior, com a descoberta de que Papi tinha um filho e que ele decidira tomá-lo para si após a morte da mãe biológica. É claro que, numa perspectiva mais ampla, nenhum dos dois carregava culpa pela mudança ocasionada em suas vidas, motivo pelo qual não tiramos razão de Papi querer ficar com o filho nem tiramos a razão de Angel de querer cancelar o casamento por não estar pronta para ser mãe. Entretanto, essa adversidade não parece durar muito e culmina em uma autorrealização um tanto quanto rápida demais para o ritmo minucioso da série, apostando em frenéticos desenlaces em prol de um final feliz que não é tão denso quanto poderia ser.

“Something Old, Something New”, como ficou intitulado a sexta iteração, parece não saber exatamente de que modo proceder, ainda mais em virtude de tantas subtramas que disputam pelo centro do palco. Além de Angel e Papi, temos o problema da cegueira que vem tomando conta de Pray Tell (Billy Porter), em virtude das comorbidades do HIV, e sua compreensão de que o fim está próximo; como se não bastasse, Lulu (Hailie Sahar) lida com um relacionamento complicado e tóxico, bem como o fato de estar se livrando do vício em drogas dia após dia; e, no topo de tudo isso, a personagem de Moore resolve concluir uma longa caminhada ao tentar convencer o pai, com quem já mantinha contato há muitos anos, a entrar com ela na cerimônia do casamento (sem muito sucesso, como é de se esperar). Porém, nenhuma dos promissores enredos parece fazer qualquer sentido em mais de uma hora de exibição, sendo jogados em profusão e buscando por desenvolvimentos de arcos que já são complexos o suficiente para nos envolverem.

O episódio em si não é ruim, ainda mais considerando a química que Moore e Bismark desfrutam no altar e uma espécie de “cena pós-créditos” que finalmente os une em uma família afortunada. Porém, caracterizá-lo como “bom” também não faz jus às incríveis joias que Murphy, Steven Canals e Janet Mock já nos entregaram. Até mesmo a direção, que fica a encargo de Mock, não parece tão inspirada quanto num passado recente: o jogo de câmeras apenas menciona as imagens dos bailes noturnos e, apesar de criar uma espécie de melancolia nostálgica aos protagonistas – ainda mais no tocante a Pray Tell e a Blanca (Mj Rodriguez) -, deixa de lado os estonteantes figurinos e a celebração da vida para as fórmulas das inflexões familiares e de uma previsibilidade bastante repetitiva.

À medida que demonstra apreço pela já mencionada construção antológica, nota-se que tanto o roteiro quanto a condução do capítulo se rendem a uma fragmentação multifacetada que não chega a lugar nenhum. Com exceção da breve sequência declamatória entre Angel e suas madrinhas de casamento – em que até mesmo Elektra (Dominique Jackson), colocada em segundo plano, volta a reafirmar sua ambígua e superprotetora personalidade -, as peças parecem não se encaixar com a naturalidade esperada, deixando a humanidade de lado e apressando-se para entregar ao público o que quer: os breves momentos de paz e de prosperidade para pessoas marginalizadas que se contentam com o presente e não conseguem pensar no dia de amanhã. De fato, a história centrada em Angel e Papi, que já vinha dominando a produção há algum tempo, é uma carta de esperança àqueles que desistiram do amor – um aspecto bem importante, considerando a imprescindível temática da série.

Postando-se como um filler esquecível, pela falta de outro adjetivo condizente, o sexto e penúltimo episódio de Pose peca pela falta de estrutura e, por mais que tente recuperar o que foi perdido, força-nos a uma catarse bruta que, em qualquer outro momento, funcionaria com mais convicção do que aqui. De qualquer forma, um equívoco como esse não apaga o brilho da temporada – e com certeza não nos deixa menos animados para o aguardado series finale da próxima semana.

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