quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore’ tem falhas, mas coloca a franquia de volta nos eixos

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Quando ‘Harry Potter‘ foi lançado pelas mãos de J.K. Rowling tornou-se um fenômeno mundial – e a consecutiva produção dos filmes apenas consagrou essa saga fantástica como uma das maiores de todos os tempos, construindo um universo que seria emulado por diversos artistas e criadores. Qual foi nossa angústia com o anúncio do último longa-metragem, ‘As Relíquias da Morte – Parte 2‘. Mas o panteão mágico não ficou adormecido por muito tempo e, alguns anos depois, os fãs seriam convidados a revisitá-lo com ‘Animais Fantásticos’.

É certo dizer que essa nova franquia passou por poucas e boas, desde os comentários transfóbicos de Rowling à demissão de Johnny Depp e às polêmicas envolvendo Ezra Miller, prenunciando, talvez, seu fim precoce. Entretanto, ao longo do caminho e com um tempo maior de gestação, nasceu ‘Os Segredos de Dumbledore‘, terceira entrada que expandiria ainda mais a exuberante mitologia outrora nos apresentada. É claro que o gostinho agridoce do capítulo anterior, ‘Os Crimes de Grindelwald‘, deixou o público com um pé atrás – porém, podem ficar tranquilos: além de responder a algumas perguntas que já pululavam nas nossas cabeças, o filme é um grande avanço em relação ao predecessor e, mesmo tropeçando em convencionalismos estéticos e narrativos, configura-se como uma diversão do começo ao fim.



O enredo já começa com uma ótima sequência em que Alvo Dumbledore (Jude Law) se encontra com Gellert Grindelwald (vivido pelo sempre incrível Mads Mikkelsen) em um restaurante trouxa, finalmente falando sobre os sentimentos que sentem um pelo o outro e analisando de forma quase poética como um romance proibido se transformou em uma batalha entre o bem e o mal. Em contraposição à inesperada reunião entre os personagens, somos transportados ao momento  em que Newt Scamander (Eddie Redmayne) viaja a uma densa floresta para presenciar o nascimento de uma belíssima e adorável criatura conhecida como qilin, cuja bondade e pureza prenuncia a ascensão de um grande líder. Não é surpresa, pois, que as forças das trevas enviadas por Grindelwald queiram usurpá-lo para benefício próprio.

Se ‘Crimes de Grindelwald‘ pecou pelo excesso de cenas descartáveis, as duas supracitadas ditam o tom da produção e são retomadas constantemente por mais de duas horas de tela. E essa maior coesão estrutural é cortesia de Steve Kloves, que retorna ao cargo de roteirista ao lado de Rowling e cerceia as pontas soltas para que cada ação tenha sua respectiva reação – mesmo não conseguindo o pretendido em algumas partes. A ideia aqui é, de certa forma, reiniciar o universo com protagonistas e coadjuvantes mais bem desenvolvidos e que contribuíam à história cada qual à sua maneira.

Jacob (Dan Fogler) volta como o escape cômico, mas infundido em um arco dramático que envolve tanto suas experiências com os bruxos e com a guerra contra os humanos, quanto seu relacionamento brutalmente interrompido com Queenie (Alison Sudol); Bunty (Victoria Yeates) ganha os holofotes com sua personalidade racional e despretensiosa; e Jessica Williams, Richard Coyle e Callum Turner fazem sua grande estreia e conquistam a audiência logo no primeiro momento em que aparecem.

E é óbvio que não posso deixar de falar da presença da nossa querida Maria Fernanda Cândido como a poderosa Vicência Santos, uma das bruxas mais poderosas do planeta que concorre pelo posto de presidente do mundo mágico – vendo seus planos indo por água abaixo quando o povo começa a apoiar a ideologia segregacionista e bélica de Grindelwald. Apesar de não ter muitas falas, Cândido porta-se com uma elegância e uma pose que dispensam diálogos e que se firmam em seus olhares e expressões.

O principal problema do longa-metragem é se render ao frenesi imagético, isso é, arquitetar uma sucessão de investidas que não dialogam entre si e que se firmam como pequenos fragmentos dispensáveis – e pior: sem explicações sólidas o suficiente para convencer os fãs. David Yates, que novamente encabeça o projeto, imprime os maneirismos cansativos dos títulos anteriores, e, auxiliando na montagem, corta a atmosfera com centelhas de ressignificacões que não fazem muito sentido. O escopo artístico é esplêndido e recheado de confrontos que poderiam ser mais épicos, caso houvesse cautela técnica ou até mesmo uma percepção intuitiva do que funciona ou não.

O grande foco de nossa atenção é Mads Mikkelsen, que, como já mencionado, substituiu Depp no papel antagonista. Enquanto este ganhava fama pelas caricaturas trazidas a seus papéis, aquele faz jus à máxima “os menores frascos contêm os melhores perfumes”: Mikkelsen se exila em uma unidimensionalidade expressiva que demonstra exatamente o que deseja, cultivando o medo e a aceitação da comunidade bruxa por sua persona e pelas ideias que defende – dialogando com eventos da realidade em alguns aspectos. Entretanto, à medida que nos aproximamos da conclusão, o roteiro desanda em apressar as conclusões e se esquecer da premissa adotada no começo.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore‘ não está livre de falhas e resgata erros do passado; todavia, é notável como a franquia, pouco a pouco, volta aos trilhos – e, mesmo que não traga muitas coisas novas aos fãs do universo mágico, entrega-se a um escapismo cinematográfico e a uma boa aventura.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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É certo dizer que essa nova franquia passou por poucas e boas, desde os comentários transfóbicos de Rowling à demissão de Johnny Depp e às polêmicas envolvendo Ezra Miller, prenunciando, talvez, seu fim precoce. Entretanto, ao longo do caminho e com um tempo maior de gestação, nasceu ‘Os Segredos de Dumbledore‘, terceira entrada que expandiria ainda mais a exuberante mitologia outrora nos apresentada. É claro que o gostinho agridoce do capítulo anterior, ‘Os Crimes de Grindelwald‘, deixou o público com um pé atrás – porém, podem ficar tranquilos: além de responder a algumas perguntas que já pululavam nas nossas cabeças, o filme é um grande avanço em relação ao predecessor e, mesmo tropeçando em convencionalismos estéticos e narrativos, configura-se como uma diversão do começo ao fim.

O enredo já começa com uma ótima sequência em que Alvo Dumbledore (Jude Law) se encontra com Gellert Grindelwald (vivido pelo sempre incrível Mads Mikkelsen) em um restaurante trouxa, finalmente falando sobre os sentimentos que sentem um pelo o outro e analisando de forma quase poética como um romance proibido se transformou em uma batalha entre o bem e o mal. Em contraposição à inesperada reunião entre os personagens, somos transportados ao momento  em que Newt Scamander (Eddie Redmayne) viaja a uma densa floresta para presenciar o nascimento de uma belíssima e adorável criatura conhecida como qilin, cuja bondade e pureza prenuncia a ascensão de um grande líder. Não é surpresa, pois, que as forças das trevas enviadas por Grindelwald queiram usurpá-lo para benefício próprio.

Se ‘Crimes de Grindelwald‘ pecou pelo excesso de cenas descartáveis, as duas supracitadas ditam o tom da produção e são retomadas constantemente por mais de duas horas de tela. E essa maior coesão estrutural é cortesia de Steve Kloves, que retorna ao cargo de roteirista ao lado de Rowling e cerceia as pontas soltas para que cada ação tenha sua respectiva reação – mesmo não conseguindo o pretendido em algumas partes. A ideia aqui é, de certa forma, reiniciar o universo com protagonistas e coadjuvantes mais bem desenvolvidos e que contribuíam à história cada qual à sua maneira.

Jacob (Dan Fogler) volta como o escape cômico, mas infundido em um arco dramático que envolve tanto suas experiências com os bruxos e com a guerra contra os humanos, quanto seu relacionamento brutalmente interrompido com Queenie (Alison Sudol); Bunty (Victoria Yeates) ganha os holofotes com sua personalidade racional e despretensiosa; e Jessica Williams, Richard Coyle e Callum Turner fazem sua grande estreia e conquistam a audiência logo no primeiro momento em que aparecem.

E é óbvio que não posso deixar de falar da presença da nossa querida Maria Fernanda Cândido como a poderosa Vicência Santos, uma das bruxas mais poderosas do planeta que concorre pelo posto de presidente do mundo mágico – vendo seus planos indo por água abaixo quando o povo começa a apoiar a ideologia segregacionista e bélica de Grindelwald. Apesar de não ter muitas falas, Cândido porta-se com uma elegância e uma pose que dispensam diálogos e que se firmam em seus olhares e expressões.

O principal problema do longa-metragem é se render ao frenesi imagético, isso é, arquitetar uma sucessão de investidas que não dialogam entre si e que se firmam como pequenos fragmentos dispensáveis – e pior: sem explicações sólidas o suficiente para convencer os fãs. David Yates, que novamente encabeça o projeto, imprime os maneirismos cansativos dos títulos anteriores, e, auxiliando na montagem, corta a atmosfera com centelhas de ressignificacões que não fazem muito sentido. O escopo artístico é esplêndido e recheado de confrontos que poderiam ser mais épicos, caso houvesse cautela técnica ou até mesmo uma percepção intuitiva do que funciona ou não.

O grande foco de nossa atenção é Mads Mikkelsen, que, como já mencionado, substituiu Depp no papel antagonista. Enquanto este ganhava fama pelas caricaturas trazidas a seus papéis, aquele faz jus à máxima “os menores frascos contêm os melhores perfumes”: Mikkelsen se exila em uma unidimensionalidade expressiva que demonstra exatamente o que deseja, cultivando o medo e a aceitação da comunidade bruxa por sua persona e pelas ideias que defende – dialogando com eventos da realidade em alguns aspectos. Entretanto, à medida que nos aproximamos da conclusão, o roteiro desanda em apressar as conclusões e se esquecer da premissa adotada no começo.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore‘ não está livre de falhas e resgata erros do passado; todavia, é notável como a franquia, pouco a pouco, volta aos trilhos – e, mesmo que não traga muitas coisas novas aos fãs do universo mágico, entrega-se a um escapismo cinematográfico e a uma boa aventura.

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