quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Anna Kendrick faz uma sólida estreia diretorial com o suspense ‘A Garota da Vez’

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Anna Kendrick ganhou fama no cenário do entretenimento por diversas produções – incluindo a trilogia ‘A Escolha Perfeita’ e ‘Amor Sem Escalas’ (pelo qual conquistou uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). E, após um tempo longe dos holofotes, Kendrick retornou ao cenário da sétima arte com sua aguardada estreia diretorial, o suspense A Garota da Vez: baseada em uma história real, a trama é conduzida com solidez notável pela artista e, apesar de tropeçar em alguns momentos e apostar fichas em uma montagem um tanto quanto ousada, por assim dizer, o resultado é bastante positivo e dá início a um novo capítulo da carreira da performer.

O enredo nos leva para o ano de 1978 e acompanha o serial killer Rodney Alcada (Daniel Zovatto), que resolveu, em meio a uma contínua matança, participar de um game show chamado The Dating Game – saindo vitorioso e conquistando um encontro com a aspirante à atriz Sheryl Bradshaw (Kendrick). À época desse inexplicável acontecimento, Alcada já havia coletado inúmeras vítimas – e torna-se objeto de estudo por parte da diretora e por parte do roteirista Ian McDonald. E, conforme os eventos no tempo presente vão se desenrolando, o público é apresentado a pequenos segmentos que exploram algumas das vítimas do assassino em série e as formas usadas por ele para conseguir atraí-las.



woman of the hour everything we know so far jpg

No geral, o longa-metragem entrega o que promete e emerge como um instigante suspense dramático que já dá todas as cartas do jogo, colocando os espectadores apenas como peças impotentes frente a um psicótico ser humano que lida com seus traumas através de homicídios e crimes sexuais condenáveis. Nesse tocante, Kendrick sabe como conduzir a câmera e aproveita a popularização do gênero true crime e dos thrillers contemporâneos para homenageá-las através de escolhas estéticas bem-vindas e competentes, seja nos breves planos-sequência que buscam referências a ‘Corrente do Mal’, ‘Zodíaco’, ‘Seven’ e tantos outros, seja na propositalmente estranha tragicomédia que se desenrola no programa em questão. E, como se não bastasse, a cineasta incorpora os elementos setentistas da televisão até mesmo nas incursões metadiegéticas.

O elenco também faz um ótimo trabalho nos breve noventa minutos de filme: Kendrick diverte-se como Sheryl e entrega uma de suas melhores atuações dos últimos anos, principalmente quando resolve tomar as rédeas de sua participação no game show; Zovatto, por sua vez, é a verdadeira estrela, navegando pela tênue linha entre lucidez e loucura de Alcala, seja quando coloca suas vestimentas de conquistador para atrais as vítimas para falsas competições de modelagem ou até mesmo durante encontros – e tanto ele quanto Kendrick são o centro de uma das cenas mais apavorantes do projeto. Outro destaque vai à jovem Autumn Best como Amy, uma adolescente que fugiu de casa e que, utilizando-se das mesmas armas que Alcala, consegue sobreviver e entregá-lo à polícia em uma corrida pela sobrevivência – e Best nos presenteia com uma performance primorosa e despojada.

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McDonald assina um roteiro comprometido com a história que é contada, sem se valer de muitos rodeios ou diálogos superexpositivos para fornecer explicações sobre os protagonistas e coadjuvantes – sabendo como manter a essência de cada um deles em voga para nos conduzir através dos atos. Porém, enquanto os elementos supracitados se encaixam de maneira íntegra, nos vemos diante de um forte obstáculo com a montagem de Andrew Canny: a princípio, é possível acompanhar as múltiplas linhas do tempo que do longa – mas essa ousadia em demasia interfere no ritmo mais do que deveria, tentando dar um passo maior que a perna e, eventualmente, incomodando os espectadores.

A edição, inclusive, não permite que nos conectemos por completo com a complexidade dos fatos narrados – exceto quando se reduz de seu frenesi criativo e deixa tempo o suficiente para que a dinâmica entre Sheryl e Alcala retome o tom da obra e premedite um encontro quase mortal entre os dois. E, à medida que esse arco transforma-se no principal ao lado do que envolve Amy, percebemos que certas subtramas são desnecessárias (como, por exemplo, a que envolve Laura, vivida por Nicolette Robinson, e que tentou denunciar o serial killer para a polícia até vê-lo impune no programa).

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A Garota da Vez pode ter equívocos consideráveis em seu cerne, mas, via de regra, entrega o que promete: uma vibrante história de suspense e de assassinato que tem seu brilho próprio, por mais dissonante que seja. O filme posa como um ótimo reinício de carreira para Kendrick, abrindo portas para que ela se torne uma grande diretora – e reiterando uma versatilidade artística que não se resume apenas à atuação.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O enredo nos leva para o ano de 1978 e acompanha o serial killer Rodney Alcada (Daniel Zovatto), que resolveu, em meio a uma contínua matança, participar de um game show chamado The Dating Game – saindo vitorioso e conquistando um encontro com a aspirante à atriz Sheryl Bradshaw (Kendrick). À época desse inexplicável acontecimento, Alcada já havia coletado inúmeras vítimas – e torna-se objeto de estudo por parte da diretora e por parte do roteirista Ian McDonald. E, conforme os eventos no tempo presente vão se desenrolando, o público é apresentado a pequenos segmentos que exploram algumas das vítimas do assassino em série e as formas usadas por ele para conseguir atraí-las.

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No geral, o longa-metragem entrega o que promete e emerge como um instigante suspense dramático que já dá todas as cartas do jogo, colocando os espectadores apenas como peças impotentes frente a um psicótico ser humano que lida com seus traumas através de homicídios e crimes sexuais condenáveis. Nesse tocante, Kendrick sabe como conduzir a câmera e aproveita a popularização do gênero true crime e dos thrillers contemporâneos para homenageá-las através de escolhas estéticas bem-vindas e competentes, seja nos breves planos-sequência que buscam referências a ‘Corrente do Mal’, ‘Zodíaco’, ‘Seven’ e tantos outros, seja na propositalmente estranha tragicomédia que se desenrola no programa em questão. E, como se não bastasse, a cineasta incorpora os elementos setentistas da televisão até mesmo nas incursões metadiegéticas.

O elenco também faz um ótimo trabalho nos breve noventa minutos de filme: Kendrick diverte-se como Sheryl e entrega uma de suas melhores atuações dos últimos anos, principalmente quando resolve tomar as rédeas de sua participação no game show; Zovatto, por sua vez, é a verdadeira estrela, navegando pela tênue linha entre lucidez e loucura de Alcala, seja quando coloca suas vestimentas de conquistador para atrais as vítimas para falsas competições de modelagem ou até mesmo durante encontros – e tanto ele quanto Kendrick são o centro de uma das cenas mais apavorantes do projeto. Outro destaque vai à jovem Autumn Best como Amy, uma adolescente que fugiu de casa e que, utilizando-se das mesmas armas que Alcala, consegue sobreviver e entregá-lo à polícia em uma corrida pela sobrevivência – e Best nos presenteia com uma performance primorosa e despojada.

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McDonald assina um roteiro comprometido com a história que é contada, sem se valer de muitos rodeios ou diálogos superexpositivos para fornecer explicações sobre os protagonistas e coadjuvantes – sabendo como manter a essência de cada um deles em voga para nos conduzir através dos atos. Porém, enquanto os elementos supracitados se encaixam de maneira íntegra, nos vemos diante de um forte obstáculo com a montagem de Andrew Canny: a princípio, é possível acompanhar as múltiplas linhas do tempo que do longa – mas essa ousadia em demasia interfere no ritmo mais do que deveria, tentando dar um passo maior que a perna e, eventualmente, incomodando os espectadores.

A edição, inclusive, não permite que nos conectemos por completo com a complexidade dos fatos narrados – exceto quando se reduz de seu frenesi criativo e deixa tempo o suficiente para que a dinâmica entre Sheryl e Alcala retome o tom da obra e premedite um encontro quase mortal entre os dois. E, à medida que esse arco transforma-se no principal ao lado do que envolve Amy, percebemos que certas subtramas são desnecessárias (como, por exemplo, a que envolve Laura, vivida por Nicolette Robinson, e que tentou denunciar o serial killer para a polícia até vê-lo impune no programa).

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A Garota da Vez pode ter equívocos consideráveis em seu cerne, mas, via de regra, entrega o que promete: uma vibrante história de suspense e de assassinato que tem seu brilho próprio, por mais dissonante que seja. O filme posa como um ótimo reinício de carreira para Kendrick, abrindo portas para que ela se torne uma grande diretora – e reiterando uma versatilidade artística que não se resume apenas à atuação.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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