sexta-feira , 21 fevereiro , 2025

Crítica | Aos Teus Olhos – Drama retrata o linchamento virtual com magnitude


A Era da informação nos domina todos os dias, isso é um fato. A internet que tanto nos facilita a vida também pode ser o demônio que nos afunda em um universo de especulações, ódio e falsas ideias. E essa é exatamente a proposta do drama Aos Teus Olhos, que discute até que ponto podemos acreditar na verdade dos outros e o poder das redes sociais em nossos julgamentos.

O premiado longa dirigido por Carolina Jabor, do ótimo Boa Sorte (2014), retrata um momento da vida de Rubens (Daniel de Oliveira), um experiente professor de natação que se vê acusado pelos pais de um dos meninos que dá aula de ter dado um beijo na boca da criança no vestiário da escola. Logo a acusação viraliza nos grupos de mensagens e redes sociais e Rubens precisa defender seu caráter e se provar inocente.



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Porém, é a ambiguidade a alma do filme. Somos levados o tempo todo a nos questionarmos se realmente estamos olhando pelo ponto de vista correto da questão. Se Rubens é, de fato, culpado ou o menino apenas criou o fatídico beijo para conseguir a atenção dos pais, em especial de seu pai, que mantém certa distância e frieza. O suspense que envolve o que realmente aconteceu naquele vestiário é o que mantém a concentração.

Há uma tensão no ar, por se tratar de um assunto complexo como pedofilia, o longa não encontra espaço para alívios cômicos, típicos do cinema nacional. Aqui há um tom sério, frio e quase angustiante, intensificado pela maravilhosa direção de fotografia de Azul Serra, superexposta, quase estourada, sem cores vivas e que lembra a tonalidade da água, que rodeia a trama.


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Outro ponto forte fica por conta do trabalho delicado da diretora Carolina Jabor (lançando apenas seu segundo longa-metragem, dá pra acreditar?), que foca em planos precisos, muitos close ups e planos sequência estilosos, todos feitos com a maior precisão possível – visando sobressair os pequenos gestos de afeto do professor com as crianças e seus olhares penetrantes. Mérito também de Daniel de Oliveira, que passa emoção, carisma e até mesmo uma certa maldade, muito mais com os olhos claros penetrantes, do que com as palavras, que geralmente escolhe não usar em sua defesa.

Apesar de todo o estilo, o fator predominante no filme é a justiça, ou a falta dela, quando se acusa alguém sem provas, mostrando a destruição de uma pessoa perante a sociedade, que se levanta e aponta o dedo sem saber com o que está lidando. Assim como na peça espanhola ‘O Princípio de Arquimedes’, de Josep Maria Miró, pelo qual o roteiro de Lucas Paraizo é levemente inspirado, é o julgamento, a reflexão central da trama, que remete ao filme norte-americano de 2012, A Caça, estrelado por Mads Mikkelsen.

Assista também: 
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Os personagens, em especial a diretora Ana, vivida pela talentosa Malu Galli, talvez sejam o elo mais fraco da corda, há muita presença e pouca profundidade, com algumas atuações engessadas.

Também existe um problema de ritmo no filme, o que pode torná-lo cansativo no segundo ato. O roteiro cresce de forma arrastada, até repetitiva em alguns pontos, mas entrega um terceiro ato interessante, gerando debate sobre a ambiguidade do final.

Em tempos de Black Mirror, Aos Teus Olhos leva o cinema brasileiro mais uma vez ao patamar de prestígio, ao retratar de forma brilhante a modernidade antagonizando a sociedade.

O filme nos permite reflexões pontuais e garante uma profunda preocupação técnica e estética, um respeito ao espectador que entra na sala escura para assistir a um filme nacional, mesmo tentado aos grandes lançamentos estrangeiros, e sai dela satisfeito em saber que podemos encontrar aqui filmes tão bons e atuais quanto em qualquer outro lugar.

No mínimo um forte candidato a representar nosso país no Oscar 2019.

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IMPERDÍVEL! Você vai VICIAR nessa história de Vingança à moda antiga....

Thiago Munizhttp://cinepop.com.br/
Carioca, 26 anos, apaixonado por Cinema. Venho estudando e vivendo todas as partes da sétima arte à procura de conhecimento da área. Graduando no curso de Cinema e influenciador cinematográfico no Instagram.

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A Era da informação nos domina todos os dias, isso é um fato. A internet que tanto nos facilita a vida também pode ser o demônio que nos afunda em um universo de especulações, ódio e falsas ideias. E essa é exatamente a proposta do drama Aos Teus Olhos, que discute até que ponto podemos acreditar na verdade dos outros e o poder das redes sociais em nossos julgamentos.

O premiado longa dirigido por Carolina Jabor, do ótimo Boa Sorte (2014), retrata um momento da vida de Rubens (Daniel de Oliveira), um experiente professor de natação que se vê acusado pelos pais de um dos meninos que dá aula de ter dado um beijo na boca da criança no vestiário da escola. Logo a acusação viraliza nos grupos de mensagens e redes sociais e Rubens precisa defender seu caráter e se provar inocente.

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Porém, é a ambiguidade a alma do filme. Somos levados o tempo todo a nos questionarmos se realmente estamos olhando pelo ponto de vista correto da questão. Se Rubens é, de fato, culpado ou o menino apenas criou o fatídico beijo para conseguir a atenção dos pais, em especial de seu pai, que mantém certa distância e frieza. O suspense que envolve o que realmente aconteceu naquele vestiário é o que mantém a concentração.

Há uma tensão no ar, por se tratar de um assunto complexo como pedofilia, o longa não encontra espaço para alívios cômicos, típicos do cinema nacional. Aqui há um tom sério, frio e quase angustiante, intensificado pela maravilhosa direção de fotografia de Azul Serra, superexposta, quase estourada, sem cores vivas e que lembra a tonalidade da água, que rodeia a trama.

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Outro ponto forte fica por conta do trabalho delicado da diretora Carolina Jabor (lançando apenas seu segundo longa-metragem, dá pra acreditar?), que foca em planos precisos, muitos close ups e planos sequência estilosos, todos feitos com a maior precisão possível – visando sobressair os pequenos gestos de afeto do professor com as crianças e seus olhares penetrantes. Mérito também de Daniel de Oliveira, que passa emoção, carisma e até mesmo uma certa maldade, muito mais com os olhos claros penetrantes, do que com as palavras, que geralmente escolhe não usar em sua defesa.

Apesar de todo o estilo, o fator predominante no filme é a justiça, ou a falta dela, quando se acusa alguém sem provas, mostrando a destruição de uma pessoa perante a sociedade, que se levanta e aponta o dedo sem saber com o que está lidando. Assim como na peça espanhola ‘O Princípio de Arquimedes’, de Josep Maria Miró, pelo qual o roteiro de Lucas Paraizo é levemente inspirado, é o julgamento, a reflexão central da trama, que remete ao filme norte-americano de 2012, A Caça, estrelado por Mads Mikkelsen.

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Os personagens, em especial a diretora Ana, vivida pela talentosa Malu Galli, talvez sejam o elo mais fraco da corda, há muita presença e pouca profundidade, com algumas atuações engessadas.

Também existe um problema de ritmo no filme, o que pode torná-lo cansativo no segundo ato. O roteiro cresce de forma arrastada, até repetitiva em alguns pontos, mas entrega um terceiro ato interessante, gerando debate sobre a ambiguidade do final.

Em tempos de Black Mirror, Aos Teus Olhos leva o cinema brasileiro mais uma vez ao patamar de prestígio, ao retratar de forma brilhante a modernidade antagonizando a sociedade.

O filme nos permite reflexões pontuais e garante uma profunda preocupação técnica e estética, um respeito ao espectador que entra na sala escura para assistir a um filme nacional, mesmo tentado aos grandes lançamentos estrangeiros, e sai dela satisfeito em saber que podemos encontrar aqui filmes tão bons e atuais quanto em qualquer outro lugar.

No mínimo um forte candidato a representar nosso país no Oscar 2019.

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Thiago Munizhttp://cinepop.com.br/
Carioca, 26 anos, apaixonado por Cinema. Venho estudando e vivendo todas as partes da sétima arte à procura de conhecimento da área. Graduando no curso de Cinema e influenciador cinematográfico no Instagram.

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