quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Armadilha’ é o MELHOR filme de M. Night Shyamalan desde ‘Fragmentado’

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M. Night Shyamalan parece carregar um fardo em sua carreira: afinal, após O Sexto Sentido, o cineasta trouxe um elemento novo às narrativas de suspense ao maximizar o plot twist e nos deixar em um profundo estado de choque – algo que ele tentaria fazer em suas obras seguintes. É claro que, em certas produções, Shyamalan alcançou o objetivo que almejava, como ‘Sinais’, Fragmentado e o subestimado ‘A Vila’, enquanto falhou miseravelmente em entregar conclusões e reviravoltas com títulos como ‘A Dama na Água’, Vidro e Tempo. Agora, o diretor está de volta com um ambicioso projeto intitulado ‘Armadilha’ (que, permitindo que ele se restrinja aos próprios impulsos, sagra-se como uma de suas obras mais honestas).

A trama é focada em Cooper Adams (Josh Harnett), um pai que leva sua filha, Riley (Ariel Donoghue) ao show de sua popstar favorita – Lady Raven (Saleka Night Shyamalan). Ao chegarem lá, Cooper percebe que a segurança do estádio onde o espetáculo irá acontecer está muito reforçada, com membros dos principais grupos de forças especiais se espalhando nos arredores do local e formando uma espécie de barreira entre o mundo lá fora e os espectadores. Não demora muito tempo até que Cooper descubra que toda a montagem do show é, na verdade, uma artimanha muito bem elaborada para que a polícia finalmente coloque as mãos no perigoso serial killer conhecido como o Açougueiro, que estará presente no concerto. Acontece que o assassino é ninguém menos que o nosso “estimado” protagonista – e, a partir daí, ele elabora inúmeros planos para conseguir escapar dessa prisão sem grades.



armadilha

A princípio, é preciso afirmar que, como brevemente mencionado no parágrafo introdutório, ‘Armadilha’ posa como um dos longas mais “pé no chão” de Shyamalan. Em outras palavras, é notável a diferença estrutural e criativa entre recentes incursões como Batem à Porta e Tempo (envolvidos em uma agourenta ambientação quase sobrenatural) e esta: a simples narrativa ganha força ao não tentar dar um passo maior que a perna, permitindo que o realizador utilize as cartas que lhe são dadas sem construir enredos pedantes e ambiciosos demais para serem levados a sério. De fato, o desenrolar dos eventos é pautado em um sólido e enervante thriller que usa e abusa da ótima habilidade performática do elenco, em especial a de Hartnett.

O ator, que há algum tempo não participava do circuito mainstream e que tinha nos dado a graça de sua presença na aclamada série ‘Penny Dreadful’, brinca com uma variedade de icônicos serial killers para compor o personagem que interpreta – e rende-se a um trabalho psicótico de tirar o fôlego e que o deixa na tênue linha entre o teatral e a loucura, dançando através de uma insanidade que transparece nas pupilas dilatadas ou no tremer dos lábios. Há, inclusive, uma certa referência a Jack Nicholson em ‘O Iluminado’ que é reiterada por constantes close-ups que, às vezes, tornam-se cansativos pela quantidade exacerbada na telona. E Hartnett não está sozinho nessa empreitada, visto que Saleka, filha de Shyamalan, mostra que tem o potencial necessário para acompanhá-lo (e até mesmo ganha um protagonismo inesperado em um terceiro ato recheado de tensões).

Josh Hartnett,Armadilha,M. Night Shyamalan

Um dos outros pontos que nos chamam a atenção é a forte trilha sonora, também cortesia de Saleka. Acompanhando de perto a construção instrumental de Herdís Stefánsdóttir, a cantora aposta fichas em pulsões de R&B e trap que, de alguma maneira, conseguem combinar com o tom atmosférico do enredo através de um conflito proposital de ação e reação – e aproveita a plataforma entregue pelo pai para promover sua outra identidade artística. E, como parte dessa preocupação estética (que funciona na maior parte das vezes), Sayombhu Mukdeeprom assina uma direção de fotografia que oscila entre a melancolia, a tensão e o espetáculo em si, apostando no embate entre cores mais frias e o fervor que se apodera de cada uma das sequências do longa-metragem.

É possível que parte do público tenha alguns problemas com a frenética montagem de Noëmi Preiswerk ou até mesmo com a conclusão anticlimática da trama – mas percebemos uma tentativa honrosa de Shyamalan em dar um passo para trás e se afastar do forçado exagero dos plot twists de obras anteriores, preferindo algo mais sólido e crível, que faça sentido dentro do que pretende nos entregar. E, ao menos para este que vos escreve, esse anticlímax funciona dentro de seus limites e auxilia na finalização de uma história simples e prática.

Josh Hartnett,Armadilha,M. Night Shyamalan

‘Armadilha’ emerge como o melhor filme de M. Night Shyamalan desde Fragmentado, seja pela forma franca com que é arquitetado, seja por não se deixar levar pela ambição desmedida; aqui, o diretor e roteirista mostra que consegue cumprir com o prometido sem querer reinventar o gênero e percebendo os pontos fortes de sua visão artística.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A trama é focada em Cooper Adams (Josh Harnett), um pai que leva sua filha, Riley (Ariel Donoghue) ao show de sua popstar favorita – Lady Raven (Saleka Night Shyamalan). Ao chegarem lá, Cooper percebe que a segurança do estádio onde o espetáculo irá acontecer está muito reforçada, com membros dos principais grupos de forças especiais se espalhando nos arredores do local e formando uma espécie de barreira entre o mundo lá fora e os espectadores. Não demora muito tempo até que Cooper descubra que toda a montagem do show é, na verdade, uma artimanha muito bem elaborada para que a polícia finalmente coloque as mãos no perigoso serial killer conhecido como o Açougueiro, que estará presente no concerto. Acontece que o assassino é ninguém menos que o nosso “estimado” protagonista – e, a partir daí, ele elabora inúmeros planos para conseguir escapar dessa prisão sem grades.

armadilha

A princípio, é preciso afirmar que, como brevemente mencionado no parágrafo introdutório, ‘Armadilha’ posa como um dos longas mais “pé no chão” de Shyamalan. Em outras palavras, é notável a diferença estrutural e criativa entre recentes incursões como Batem à Porta e Tempo (envolvidos em uma agourenta ambientação quase sobrenatural) e esta: a simples narrativa ganha força ao não tentar dar um passo maior que a perna, permitindo que o realizador utilize as cartas que lhe são dadas sem construir enredos pedantes e ambiciosos demais para serem levados a sério. De fato, o desenrolar dos eventos é pautado em um sólido e enervante thriller que usa e abusa da ótima habilidade performática do elenco, em especial a de Hartnett.

O ator, que há algum tempo não participava do circuito mainstream e que tinha nos dado a graça de sua presença na aclamada série ‘Penny Dreadful’, brinca com uma variedade de icônicos serial killers para compor o personagem que interpreta – e rende-se a um trabalho psicótico de tirar o fôlego e que o deixa na tênue linha entre o teatral e a loucura, dançando através de uma insanidade que transparece nas pupilas dilatadas ou no tremer dos lábios. Há, inclusive, uma certa referência a Jack Nicholson em ‘O Iluminado’ que é reiterada por constantes close-ups que, às vezes, tornam-se cansativos pela quantidade exacerbada na telona. E Hartnett não está sozinho nessa empreitada, visto que Saleka, filha de Shyamalan, mostra que tem o potencial necessário para acompanhá-lo (e até mesmo ganha um protagonismo inesperado em um terceiro ato recheado de tensões).

Josh Hartnett,Armadilha,M. Night Shyamalan

Um dos outros pontos que nos chamam a atenção é a forte trilha sonora, também cortesia de Saleka. Acompanhando de perto a construção instrumental de Herdís Stefánsdóttir, a cantora aposta fichas em pulsões de R&B e trap que, de alguma maneira, conseguem combinar com o tom atmosférico do enredo através de um conflito proposital de ação e reação – e aproveita a plataforma entregue pelo pai para promover sua outra identidade artística. E, como parte dessa preocupação estética (que funciona na maior parte das vezes), Sayombhu Mukdeeprom assina uma direção de fotografia que oscila entre a melancolia, a tensão e o espetáculo em si, apostando no embate entre cores mais frias e o fervor que se apodera de cada uma das sequências do longa-metragem.

É possível que parte do público tenha alguns problemas com a frenética montagem de Noëmi Preiswerk ou até mesmo com a conclusão anticlimática da trama – mas percebemos uma tentativa honrosa de Shyamalan em dar um passo para trás e se afastar do forçado exagero dos plot twists de obras anteriores, preferindo algo mais sólido e crível, que faça sentido dentro do que pretende nos entregar. E, ao menos para este que vos escreve, esse anticlímax funciona dentro de seus limites e auxilia na finalização de uma história simples e prática.

Josh Hartnett,Armadilha,M. Night Shyamalan

‘Armadilha’ emerge como o melhor filme de M. Night Shyamalan desde Fragmentado, seja pela forma franca com que é arquitetado, seja por não se deixar levar pela ambição desmedida; aqui, o diretor e roteirista mostra que consegue cumprir com o prometido sem querer reinventar o gênero e percebendo os pontos fortes de sua visão artística.

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