quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Artista do Desastre – James Franco e sua ode ao cinema marginal

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Ed Wood moderno

Definir a qualidade de uma obra, seja ela qual for (musical, cinematográfica ou qualquer outra arte), é uma tarefa difícil e muitas vezes injusta – afinal muitas pessoas trabalharam naquela composição. Mas o que precisamos ter em mente é que todo e qualquer trabalho é julgado por um grupo de pessoas específico (seja o próprio público ou os ditos especialistas) o tempo todo. Seja você um arquiteto, médico, cozinheiro, professor ou até motorista, a qualidade de seu trabalho não ficará impune. Bem, esta é a vida em sociedade. E por que com artistas seria diferente?

Para que as opiniões de especialistas tivesse mais força e formasse consenso (o que nem de longe significa unanimidade nem mesmo para a classe), as associações tiveram origem. Grupos de críticos de cidades pelo mundo, ou até mesmo países, servem como canalizador de diversas vozes. Atualmente, um dos barulhos mais ouvidos é o agregador Rotten Tomatoes, que foi visionário e preencheu esta lacuna, afunilando os pensamentos da maioria dos críticos em atividade – seja de qual país forem. Mais uma vez, não é unanimidade, apenas um consenso.



Tudo isso para chegarmos a The Room (2003), filme que entrou para a história recente do cinema como obra cult, tido como um dos piores já produzidos de todos os tempos. Este tipo de status negativo de um filme não é novidade, e ao longo de mais de 120 anos de sétima arte, tratamos de eleger os “reis do lixo”. Enquanto muitos cineastas são enaltecidos como verdadeiros mestres, outros chegam no caminho inverso, lembrados pela falta de qualidade em suas obras. De Edward D. Wood Jr. (1924-1978), passando por Russ Meyer (1922-2004) e Roger Corman, até o alemão Uwe Boll, tais cineastas “malditos” encontram em sua marginalidade o foco para suas carreiras. Tommy Wiseau é um que deve ser adicionado a este hall sem glamour.

Para entendermos melhor Artista do Desastre é só pensar na homenagem que o diretor Tim Burton fez para o lendário Ed Wood em seu filme homônimo de 1994, sua obra mais prestigiada. A biografia em forma de reverência para o cineasta considerado o pior de todos os tempos, com filmes como Plano 9 do Espaço Sideral (1959) e Glen ou Glenda? (1953) no currículo, é exatamente o compasso repetido aqui por James Franco para seu homenageado Tommy Wiseau, a mente por trás de The Room (diretor, roteirista, produtor e protagonista do longa) – um filme que de tão ruim se tornou bom e fez sucesso com um grupo específico, sendo exibido e recitado repetidamente até hoje em cinemas desde seu lançamento em 2003.

Não é necessário ter assistido a The Room para um entendimento mais amplo de Artista do Desastre, mas ajuda no sabor se você tiver conhecimento prévio sobre o filme e suas já icônicas cenas. Tudo é feito nas coxas, saído da mente de outro planeta de Wiseau. Artista do Desastre nos dá este imenso presente e nos leva aos bastidores desta involuntariamente hilária obra.

O que faz Arista do Desastre funcionar, no entanto, não é a tirada de sarro com os envolvidos, muito pelo contrário, a obra de Franco se comporta como seu próprio filme, dono de muito coração, conseguindo emocionar por diversas vezes. Surpreende o salto que Franco dá como cineasta, se provando e entregando aqui provavelmente seu melhor trabalho atrás das câmeras. Na frente delas, o ator/diretor se sai incrivelmente bem de novo e conquista algumas indicações a prêmios com seu desempenho certeiro de Wiseau, engraçado sem ser caricatural, Franco exibe as diversas camadas deste estranho morador do planeta, conseguindo criar a empatia necessária. Franco não faz de Wiseau um alvo, tampouco o trata como vítima, dessa forma conseguindo confeccionar um personagem único, e raramente visto nas telas.

Baseado no livro de Greg Sestero, amigo e ator no filme de Wiseau, Artista do Desastre recria dilemas eternos para artistas, como a busca pela aceitação e pela grande chance (transposta também para qualquer um de nós em qualquer área), mas o faz com tamanha sinceridade, se tornando impossível não comprar a ideia e levar de quebra as excentricidades de Wiseau. O filme funciona em variados níveis e acerta em todos eles, não excedendo ou faltando em nenhum. Com o longa, Franco dá um presentaço para Wiseau, faz mais por ele do que o próprio poderia, e adentra com o pé direito uma nova fase em sua carreira. Artista do Desastre mostra que sim, o ruim pode ser bom. E muito!

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Para que as opiniões de especialistas tivesse mais força e formasse consenso (o que nem de longe significa unanimidade nem mesmo para a classe), as associações tiveram origem. Grupos de críticos de cidades pelo mundo, ou até mesmo países, servem como canalizador de diversas vozes. Atualmente, um dos barulhos mais ouvidos é o agregador Rotten Tomatoes, que foi visionário e preencheu esta lacuna, afunilando os pensamentos da maioria dos críticos em atividade – seja de qual país forem. Mais uma vez, não é unanimidade, apenas um consenso.

Tudo isso para chegarmos a The Room (2003), filme que entrou para a história recente do cinema como obra cult, tido como um dos piores já produzidos de todos os tempos. Este tipo de status negativo de um filme não é novidade, e ao longo de mais de 120 anos de sétima arte, tratamos de eleger os “reis do lixo”. Enquanto muitos cineastas são enaltecidos como verdadeiros mestres, outros chegam no caminho inverso, lembrados pela falta de qualidade em suas obras. De Edward D. Wood Jr. (1924-1978), passando por Russ Meyer (1922-2004) e Roger Corman, até o alemão Uwe Boll, tais cineastas “malditos” encontram em sua marginalidade o foco para suas carreiras. Tommy Wiseau é um que deve ser adicionado a este hall sem glamour.

Para entendermos melhor Artista do Desastre é só pensar na homenagem que o diretor Tim Burton fez para o lendário Ed Wood em seu filme homônimo de 1994, sua obra mais prestigiada. A biografia em forma de reverência para o cineasta considerado o pior de todos os tempos, com filmes como Plano 9 do Espaço Sideral (1959) e Glen ou Glenda? (1953) no currículo, é exatamente o compasso repetido aqui por James Franco para seu homenageado Tommy Wiseau, a mente por trás de The Room (diretor, roteirista, produtor e protagonista do longa) – um filme que de tão ruim se tornou bom e fez sucesso com um grupo específico, sendo exibido e recitado repetidamente até hoje em cinemas desde seu lançamento em 2003.

Não é necessário ter assistido a The Room para um entendimento mais amplo de Artista do Desastre, mas ajuda no sabor se você tiver conhecimento prévio sobre o filme e suas já icônicas cenas. Tudo é feito nas coxas, saído da mente de outro planeta de Wiseau. Artista do Desastre nos dá este imenso presente e nos leva aos bastidores desta involuntariamente hilária obra.

O que faz Arista do Desastre funcionar, no entanto, não é a tirada de sarro com os envolvidos, muito pelo contrário, a obra de Franco se comporta como seu próprio filme, dono de muito coração, conseguindo emocionar por diversas vezes. Surpreende o salto que Franco dá como cineasta, se provando e entregando aqui provavelmente seu melhor trabalho atrás das câmeras. Na frente delas, o ator/diretor se sai incrivelmente bem de novo e conquista algumas indicações a prêmios com seu desempenho certeiro de Wiseau, engraçado sem ser caricatural, Franco exibe as diversas camadas deste estranho morador do planeta, conseguindo criar a empatia necessária. Franco não faz de Wiseau um alvo, tampouco o trata como vítima, dessa forma conseguindo confeccionar um personagem único, e raramente visto nas telas.

Baseado no livro de Greg Sestero, amigo e ator no filme de Wiseau, Artista do Desastre recria dilemas eternos para artistas, como a busca pela aceitação e pela grande chance (transposta também para qualquer um de nós em qualquer área), mas o faz com tamanha sinceridade, se tornando impossível não comprar a ideia e levar de quebra as excentricidades de Wiseau. O filme funciona em variados níveis e acerta em todos eles, não excedendo ou faltando em nenhum. Com o longa, Franco dá um presentaço para Wiseau, faz mais por ele do que o próprio poderia, e adentra com o pé direito uma nova fase em sua carreira. Artista do Desastre mostra que sim, o ruim pode ser bom. E muito!

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