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Crítica | ‘Ary’ – Delicioso documentário navega pelas ironias e o bom humor em um ‘aryverso’ de possibilidades


Trazendo um pouquinho do Brasil por meio das peculiaridades que circulam entre as ironias e o bom humor de um dos mais conhecidos compositores das história da música brasileira, o longa-metragem Ary, dirigido por André Weller, acerta em cheio ao construir uma narrativa com camadas simbólicas, emocionais e também sociais. Misturando documentário com pitadas de ficção, somos convidados a participar como observadores de um deslumbrante tour pela capacidade inventiva de um artista idolatrado, que abraçou em suas criações a cultura brasileira.

O projeto acerta ao contar essa história de forma cronológica e, em uma boa sacada, traz a voz marcante de Lima Duarte como narrador em primeira pessoa. Dentro dessa estrutura narrativa fluida – ora divertida, ora empolgante -, de Minas para o Rio (e depois conquistando o exterior), vamos conhecendo os momentos-chave de sua trajetória, nos quais a vida pessoal se mistura com a profissional.



Com imagens raras de arquivo – inclusive de um inesquecível Rio de Janeiro antigo -, conversando com a narração a todo instante e tendo como pano de fundo algumas de suas inesquecíveis canções na voz de Dorival Caymmi, Nora Ney, Jamelão, Quarteto em Cy e outros artistas do passado, o filme busca criar um ‘aryverso’ de possibilidades em uma única obra – e consegue com maestria.

Diferente dos sambas-canção que compunha com cadência e elegância no ritmo, sua vida foi, em partes, uma grande aventura agitada, com vários fatos peculiares. Seu amor pelo Flamengo – que, por coincidência, foi mais uma vez campeão brasileiro exatamente no horário da sessão do filme na abertura do Fest Aruanda – não fica de fora, assim como seus inacreditáveis tempos como narrador de futebol e os detalhes do período em que virou pianista profissional, trabalhando em um cinema no Rio de Janeiro, na época dos filmes mudos, quando a trilha sonora terceirizada ao vivo levava qualquer produção cinematográfica ao seu ápice.

Invadindo também as particularidades do processo criativo, chama a atenção o seu ‘libertando o samba das tragédias’, presente em sua música mais conhecida – Aquarela do Brasil – fruto de uma fixação por um país que amava. Criou a canção – música e letra – em apenas 10 minutos, em meio à chuva de um lugar que adotou como casa e onde não se sabe conversar baixinho.

Ary Barroso conquistou não só o seu país, mas também os gringos – principalmente os americanos. Foi, inclusive, o primeiro brasileiro a ser indicado ao Oscar, na categoria Melhor Canção Original, além de alcançar mais de um milhão de execuções nas rádios americanas. Ao longo de 70 minutos – que passam rapidinho e com gosto de quero mais –, Ary se consolida como um forte registro de um artista: uma experiência envolvente, repleta de observações sociais, que mostra facetas do ‘Brasil Brasileiro’ por meio de uma narrativa envolvente repleta de delicadeza e graça.

Raphael Camachohttps://guiadocinefilo.blogspot.com.br
Raphael Camacho é um profissional com mais de 20 anos de experiência no mercado cinematográfico. Ao longo de sua trajetória, atuou como programador de salas de cinema, além de ter trabalhado nas áreas de distribuição e marketing de filmes. Paralelamente à sua atuação na indústria, Raphael sempre manteve sua paixão pela escrita, contribuindo com o site Cinepop, onde se consolidou como um dos colaboradores mais antigos e respeitados deste que é um dos portais de cinema mais queridos do Brasil.
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