quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Às Vezes Quero Sumir – Daisy Ridley Encara as Dificuldades de Interagir Socialmente em Difícil Drama Autoral

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Viver no mundo contemporâneo pode ser sufocante. Não que em outras épocas tenha sido mais fácil, ou menos difícil, mas hoje podemos observar como muitas pessoas se queixam, principalmente, da obrigatoriedade da socialização. Independente se moramos em centro urbano ou num povoado isolado: hoje há uma cobrança, uma obrigatoriedade da vida social, seja ela verdadeira ou não, física ou virtual. É preciso estar com pessoas, postar nas chamadas redes sociais que você está sempre em algum lugar incrível, vivendo uma experiência inesquecível, com pessoas maravilhosas. A cobrança hoje é dobrada: no âmbito real e no âmbito virtual. Mas há pessoas – muitas, aliás – que têm dificuldade ou mesmo aversão a esse tipo de sociabilidade, e tal exigência pode gerar desconforto. Sobre essa dificuldade, chega aos cinemas essa semana o dramaÀs Vezes Quero Sumir’.

Às Vezes Quero Sumir



Fran (Daisy Ridley, de ‘Star Wars: O Despertar da Força’) está satisfeita com sua vidinha. Ela vai para o trabalho todos os dias, não interage com ninguém e é muito boa nas planilhas que faz. Mas hoje é o último dia de trabalho de Carol (Marcia DeBonis, de ‘De Repente 30’) na empresa, pois vai se aposentar, e todo mundo está participando alegremente de uma despedida a ela, enquanto Fran se sente coagida a participar. No dia seguinte, um novo funcionário entra para a firma: é Robert (Dave Merheje). Ele é todo desenvolto, já chega puxando amizade com todo mundo, inclusive com Fran, só que on-line, através de um bate-papo interno. Com ele, aos poucos Fran vai saindo um pouco mais para o mundo, só que, ao mesmo tempo em que começa a sentir ansiedade para conhecer melhor a Robert, também passa a sentir a pressão incômoda de ter que interagir socialmente com mais frequência do que nunca.

Mesmo sendo um filme paradão e com um ritmo beeeem lento, ‘Às Vezes Quero Sumir’ é um filme difícil. Não que seja de difícil compreensão, mas porque toca em temas sensíveis que dificilmente engaja o público, embora seja necessário falar a respeito. De maneira alegórica, posto que não aborda diretamente esses temas, o longa trata de assuntos como a exclusão social e o suicídio – e, neste caso, principalmente aqueles cometidos a partir da rejeição sofrida socialmente.

Às Vezes Quero Sumir

Baseado numa peça de teatro, o roteiro escrito por Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead foca na solidão da protagonista como forma de completude e satisfação para ela. Dessa solidão desimportante, quando Fran faz Robert rir de algo que ela fala, seu mundo muda, como se o poder do riso lhe desse um propósito, lhe conferisse uma importância que nem ela mesma se acreditava. Esses detalhes são bem registrados pela diretora Rachel Lambert, que segue de perto o trabalho de Daisy Ridley em toda a sua introspecção, num trabalho difícil de poucas falas e muitas sensações.

Às Vezes Quero Sumir’ dá uma impressão de incompletude, porém, como se precisasse de mais uns dez minutinhos para fechar seu arco. Da forma como está, é um recorte da vida da protagonista (e, para essa escolha, o melhor formato seria um curta-metragem). Mesmo assim, é um filme bem autoral, que provoca reflexão em mais um bom trabalho de Daisy Ridley.

Às Vezes Quero Sumir

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Às Vezes Quero Sumir

Fran (Daisy Ridley, de ‘Star Wars: O Despertar da Força’) está satisfeita com sua vidinha. Ela vai para o trabalho todos os dias, não interage com ninguém e é muito boa nas planilhas que faz. Mas hoje é o último dia de trabalho de Carol (Marcia DeBonis, de ‘De Repente 30’) na empresa, pois vai se aposentar, e todo mundo está participando alegremente de uma despedida a ela, enquanto Fran se sente coagida a participar. No dia seguinte, um novo funcionário entra para a firma: é Robert (Dave Merheje). Ele é todo desenvolto, já chega puxando amizade com todo mundo, inclusive com Fran, só que on-line, através de um bate-papo interno. Com ele, aos poucos Fran vai saindo um pouco mais para o mundo, só que, ao mesmo tempo em que começa a sentir ansiedade para conhecer melhor a Robert, também passa a sentir a pressão incômoda de ter que interagir socialmente com mais frequência do que nunca.

Mesmo sendo um filme paradão e com um ritmo beeeem lento, ‘Às Vezes Quero Sumir’ é um filme difícil. Não que seja de difícil compreensão, mas porque toca em temas sensíveis que dificilmente engaja o público, embora seja necessário falar a respeito. De maneira alegórica, posto que não aborda diretamente esses temas, o longa trata de assuntos como a exclusão social e o suicídio – e, neste caso, principalmente aqueles cometidos a partir da rejeição sofrida socialmente.

Às Vezes Quero Sumir

Baseado numa peça de teatro, o roteiro escrito por Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead foca na solidão da protagonista como forma de completude e satisfação para ela. Dessa solidão desimportante, quando Fran faz Robert rir de algo que ela fala, seu mundo muda, como se o poder do riso lhe desse um propósito, lhe conferisse uma importância que nem ela mesma se acreditava. Esses detalhes são bem registrados pela diretora Rachel Lambert, que segue de perto o trabalho de Daisy Ridley em toda a sua introspecção, num trabalho difícil de poucas falas e muitas sensações.

Às Vezes Quero Sumir’ dá uma impressão de incompletude, porém, como se precisasse de mais uns dez minutinhos para fechar seu arco. Da forma como está, é um recorte da vida da protagonista (e, para essa escolha, o melhor formato seria um curta-metragem). Mesmo assim, é um filme bem autoral, que provoca reflexão em mais um bom trabalho de Daisy Ridley.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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