Dizem que quando um ator alcança o papel da vida dele, tudo o que vem depois tende a ser sucesso. Embora em muitos casos isso de fato tenha se tornado realidade, não é bem o que está acontecendo com o elenco de ‘La Casa de Papel’ – a menos, não, se considerarmos os trabalhos realizados depois que fizeram a série mais bem avaliada da Netflix de todos os tempos. É o que acontece em ‘Até o Céu’, lançamento da semana da Netflix.
Ángel (Miguel Herrán) é um rapaz do subúrbio espanhol cheio de ambições, mas, quando conhece Estrella (Carolina Yuste), se apaixona, embora saiba que ela namora com Poli (Richard Holmes). Mas então, Ángel se junta a Poli numa sequência de assaltos a joalherias pelas ruas da cidade, e sua ganância cresce, a ponto de perceber que não precisa de Poli para isso: pode criar seu próprio sistema de assaltos e fornecer os produtos diretamente para Duque (Fernando Cayo). Porém, as coisas se complicam quando descobre que Sole (Asia Ortega) é filha do bam-bam-bam do crime e Ángel entende que subirá mais rápido ao céu se se casar com a moça, ainda que seu coração pertença à Estrella.
Se não fosse baseado numa história real, poderíamos afirmar que ‘Até o Céu’ tem um mote bem cafona. Quer dizer, todo esse negócio de pobre rapaz da periferia que se mete no mundo do crime e fica de olho grande querendo superar o chefão local, amando a herdeira do trono e uma amante caliente nos finais de semana… sério, as novelas brasileiras fazem melhor que isso. Mas enfim, é história real, que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría poderia ter melhorado, mas não o fez.
Para início de conversa, o roteiro não parece ter feito um trabalho de seleção dos fatos, optando por inserir todas os elementos da vida de Ángel. O resultado é uma sequência de acontecimentos que pouco se aprofundam, criando uma sensação de que estamos vendo a uma série, e não um filme de duas horas e dez de duração. O espectador passeia pelas escolhas de Ángel – criar sua própria gangue, casar, roubar etc – sem vê-lo pensar sobre esses assuntos: uma coisa acaba e, em seguida, já estamos em outra, sem continuidade entre os eventos. É como se tivéssemos a obrigação de conhecer o sujeito na vida real para poder entender as escolhas do personagem.
A direção de Daniel Calparsoro comprova que uma super produção pode até arrecadar muito dinheiro dos investidores e captar cenas mirabolantes de perseguição pelas ruas espanholas, com imagens de helicóptero e fechamento de vias estilo ‘Velozes e Furiosos’, mas tudo isso é um merengue para disfarçar a essência malfeita do longa, encabeçado por uma atuação tão medíocre quanto risível de Miguel Herrán, que não convence em nada como um temível ladrãozão.
‘Até o Céu’ é um filme ruim de doer, e repete o baixo resultado de outro companheiro do atraco, Pedro Alonso, que em 2020 estrelou um dos piores filmes da Netflix, ‘O Silêncio do Pântano’. A seguir por esse caminho, o elenco de ‘La Casa de Papel’ vai ter muita dificuldade para encontrar papéis que realmente os faça superar o trabalho apresentado na série.