Por mais que se tente explicar, quem não viveu a época pré-internet realmente jamais entenderá o que era a ansiedade pelo lançamento de um disco, por exemplo – ansiedade esta que era redobrada porque primeiro o disco lançava lá fora, e só depois, meses depois, alguma loja o tinha à venda aqui no Brasil. E a espera era realmente de matar. Era uma época em que suas bandas favoritas não faziam show no país, que não se tinha produto de merchandising para comprar, que sequer víamos o rosto de nossos ídolos, pois não passava na tv, e tínhamos que ficar hooooras ouvindo a rádio esperando nossas músicas favoritas tocarem de novo para que pudéssemos gravá-las numa fita K7 de hits favoritos. Quem tem uns 40 anos ou mais sabe como foi. No Rio de Janeiro, no início da década de 1980, houve uma rádio que rompeu essa barreira e conectou os ouvintes com o melhor do rock, tanto lançando bandas quanto trazendo os clássicos para o público. Tratava-se da Fluminense FM, popularmente conhecida como A Maldita, cuja história chega essa semana aos cinemas com o filme brasileiro ‘Aumenta Que É Rock’n’Roll’.
Luiz Antônio (Johnny Massaro) e Samuca (George Sauma) são grandes amigos que trabalham juntos como repórteres de um jornal, onde são infelizes com o que fazem. Até o dia em que Samuca decide impulsionar o sonho de Luiz Antônio de ter um programa de rádio, e os dois vão conversar com o Superintendente (Orã Figueiredo), dono da rádio Fluminense, em Niterói. Com muita empolgação e uma boa dose de inocência, os dois apresentam um projeto que não agrada ao Superintendente, mas ele faz uma oferta a Luiz Antônio: quer que ele comande a Fluminense FM, que ia mal das pernas. Mal sabiam eles que teria aí o início de uma das maiores rádios brasileiras, a Maldita, a primeira rádio a dialogar diretamente com a juventude no estado do Rio de Janeiro.
Escrito por L. G. Bayão (de ‘O Doutrinador’), o roteiro é tão frenético quanto os hormônios juvenis. Partindo da vida de Luiz Antônio, o roteiro faz um retrato do amadorismo que eram as rádios por detrás dos microfones, além de traçar um retrato da juventude urbana dos anos 1980, já nos fins da ditadura e cheia de uma energia caótica represada, que queria mudar o mundo mas ainda vivia na casa dos pais. Para conduzir a história de uma geração, o roteiro mescla a jornada da rádio em se tornar “A Maldita” com uma pseudo história de amor entre Luiz Antônio e Alice (Marina Provenzzano), que vai dando linha à narrativa, tudo entremeado por clássicos do rock nacional e internacional – com especial atenção às bandas brasileiras dos anos 80 cujas carreiras começaram porque a rádio apostou no material delas, como a Blitz, o Barão Vermelho, a Legião Urbana, os Paralamas do Sucesso e por aí vai. E sim, as músicas dessa galera realmente tocam no filme, na íntegra.
Também os aspectos técnicos do filme deslumbram, com especial atenção ao som. Em se tratando de um filme sobre música, o cuidado e o esmero do som direto (da excelente Valéria Ferro com Renato Calaça) são realçados quando menos esperamos, desde o som do cair da ficha no orelhão ao impressionante efervescer da pastilha que Luiz Antônio frequentemente toma.
É difícil enxergar outro ator que não Johnny Massaro no protagonismo desse filme. Sua entrega e toda sua carga juvenil brilham na telona desde as cenas de fobia quanto nas cenas de exaltação. É o melhor papel de Johnny, sua verdadeira consagração.
Conseguir congregar tantos aspectos em excelência é uma missão difícil, mas o diretor Tomás Portella (de ‘4 x 100 – Correndo por um Sonho’ e que logo logo volta às telonas com ‘Overman’) conseguiu. Conseguiu mesmo. Para quem viveu a época retratada, ‘Aumenta Que É Rock’n’Roll’ é uma nostálgica viagem no tempo, com cheiros, sensações e muito som bom. Para quem não viveu, o filme é um retrato fidedigno de como era ter o rock como voz de uma geração indignada. Dá vontade de viver em ‘Aumenta Que É Rock’n’Roll’.