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Crítica | ‘Avatar: Fogo e Cinzas’ expande a mitologia de Pandora com um ÉPICO de quase três horas e meia


Desde sua concepção em meados dos anos 1990 até sua estreia em 2009, a franquia Avatar tornou-se um fenômeno cinematográfico – um tour-de-force revolucionário da visionária mente de James Cameron. O realizador, conhecido por suas inovações tecnológicas que pincelaram projetos como ‘Aliens, o Resgate’, ‘O Exterminador do Futuro’ e ‘Titanic’, construiu uma mitologia inédita e apoiada nas clássicas incursões da Jornada do Herói, de Joseph Campbell, para nos convidar ao vibrante e expansivo universo de Pandora, conquistando a crítica e o público tanto com o primeiro quanto com o segundo capítulos.

Agora, somos chamados de volta a esse explosivo mundo com o antecipado e ambicioso Avatar: Fogo e Cinzas’: o terceiro capítulo da saga sci-fi de aventura, que chega aos cinemas nacionais no próximo dia 18 de dezembro, segue os passos dos capítulos predecessores ao abrir espaço para novos personagens, expandindo esse macrocosmos com fidelidade imprescindível e, ainda que derrapando em certos equívocos cometidos nos projetos anteriores, alcançando um nível de espetáculo visual que consegue ofuscar os deslizes e trazer alguns elementos originais e mais dramáticos que permeiam os arcos dos personagens que aprendemos a amar com o passar dos anos.



Após os derradeiros eventos de ‘O Caminho da Água’, Cameron se mostra disposto a focar em um lado mais introspectivo dos protagonistas e coadjuvantes, aliando tais incursões a uma preciosidade cinemática que já nos é revelado na primeira sequência. Afinal, o diretor resolveu rodar o longa-metragem em 48 frames-por-segundo, afastando-se do comodismo costumeiro dos 30fps para garantir uma imersão total dos espectadores à Pandora e aos cenários que nos serão introduzidos através de uma epopeia ambientalista e bélica de quase três horas e meia. E, reiterando seu importante status no cenário contemporâneo da sétima arte, o diretor causa um estranhamento proposital que logo dá espaço a uma fluidez artística que irrompe das telonas em um comprometimento inegável e muito envolvente.

Na trama, Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) ainda lidam com a perda do filho mais velho, Neteyam, que foi assassinado pelos humanos em uma poderosa batalha pelo futuro de Pandora. Neytiri, em seu período de luto, canaliza sua frustração e sua crescente raiva para o jovem Spider (Jack Champion), que foi “adotado” por Jake mesmo a contragosto da esposa, por representar toda a destruição e tudo o que os “caras rosadas” representam desde que chegaram para colonizar o planeta; Jake, por sua vez, canaliza seus pesares para seu segundo filho, o impetuoso Lo’ak (Britain Dalton), um jovem guerreiro que também se sente culpado pela morte do irmão e tenta, incansavelmente, provar seu valor para o pai.

Porém, as coisas saem do controle quando a versão avatar do perigoso Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) revela não estar morto, aliando-se às forças humanas para encontrar Jake, derrotá-lo e garantir que os humanos finalmente subjuguem Pandora a seu bel-prazer. E tudo ganha uma dimensão ainda mais problemática quando Kiri (Sigourney Weaver), de alguma forma, se conecta em um âmbito muito mais profundo às forças invisíveis que regem Pandora, transformando Spider em uma espécie de híbrido entre humano e Na’vi que consegue respirar sem o uso de máscaras através de um processo endossimbiótico – que, é claro, chama a atenção de Miles e seus asseclas a fim de recriar essa tecnologia natural no combate contra os nativos.

Como podemos imaginar, Cameron não se desvencilha por completo da narrativa conhecida do universo Avatar para dar continuidade à história, apostando em conflitos internos, intergeracionais e interraciais como um reflexo da sociedade em polvorosa que se mostra mais dividida dia após dia. E, em meio a metáforas claras e quase didáticas, as originalidades vêm com a forma em que o realizador, também responsável pelo roteiro, monta as tramas que se seguirão – com destaque às fortes atuações de um elenco que conta com a presença de Kate Winslet, Bailey Bass e Oona Chaplin (esta encarnando a melhor vilã da franquia até agora, a psicótica Varang, líder do clã vulcânico dos Mangkwan que se alia a Miles para alcançar seus condenáveis objetivos).

Um dos aspectos mais interessantes do filme, para além da cuidadosa e detalhista estética artística, destina-se ao roteiro. Cameron assina a história ao lado de Rick Jaffa e Amanda Silver e, pela primeira vez em quase quinze anos, mostra-se disposto o suficiente para sacrificar personagens em prol de dar continuidade à mitologia e de mostrar que as expectativas estão mais altas do que nunca – recusando-se a fazer isso apenas por comodismo e criando pequenas joias cinematográficas que tornam essas despedidas ainda mais emocionantes. É claro que alguns excessos poderiam ser podados, mas os fãs inveterados dessa franquia irão se divertir com a entrada mais instigante até o momento.

Avatar: Fogo e Cinzas’ é um espetáculo visual sem precedentes e ousa onde consegue, mesmo não conseguindo apostar fichas em uma narrativa totalmente sólida e original que reitere os próximos dois capítulos da saga. Contando com ótimos antagonistas que encontram mais profundidade em seus arcos e com personagens que retornam para uma guerra que se torna cada vez mais sangrenta, a nova iteração é um deleite festivo que cumpre com o que promete.

Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
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