Uma coisa é fato: desde que o mundo é mundo, o ser humano tem uma atração peculiar pelo mórbido. É um acidente acontecer na rua, as pessoas desaceleram pra ficar observando. Às vezes, essa reação (ou ação) é inconsciente, tamanha a atração que temos pelo macabro, pelo sombrio, sem sequer nos darmos conta – prova disso são os expressivos números e o crescente constante de produções baseadas em true crimes e histórias suspense e terror que se assemelhem com a realidade. E isso não deixa, também, de ser uma indústria (ou uma fatia dela) que está sendo criada, gerando o mote, por exemplo, para a série ‘Baseado Numa História Real’, disponível na Globoplay.
Nathan (Chris Messina, de ‘Argo’) e Ava (Kaley Cuoco, de ‘The Big Bang Theory’) perderam a faísca que mantem acesa a chama do casamento. Ele está empacado na carreira dando aulas de tênis num prestigioso clube de Beverly Hills desde que machucara o joelho, e ela é corretora de imóveis, tentando desesperadamente vender as mansões de Los Angeles para aumentar a comissão. A verdade é que os dois estão falidos e, diante da iminente chegada de um novo bebê, eles não sabem o que fazer. Até que um dia a privada da casa deles estoura e eles chamam Matt (Tom Bateman, de ‘Assassinato no Expresso do Oriente’) para consertar, só que Matt acaba se tornando amiguinho demais do casal, principalmente de Nathan. Quando descobrem que Matt é, na verdade, o famoso estripador de Westside, Nathan e Ava veem nisso a oportunidade que precisavam para dar a volta por cima e lucrar, e decidem propor a Matt que os três juntos criem um podcast contando, in loco, a versão do verdadeiro serial killer sobre os assassinatos.
‘Baseado Numa História Real’ é, como anuncia o título, baseado numa história real. E deve ser mesmo, afinal, tem doido para todo tipo, e nos EUA tudo é lucrativo. Criado e escrito por Craig Rosenberg, a primeira temporada de oito episódios (no momento só há seis disponíveis na Globoplay) tem uma premissa interessante, mas, com episódios de cerca de 40 minutos e considerando o formato seriado, aos poucos o enredo vai perdendo o fôlego e vai ficando cada vez mais evidente que a ideia original não se sustenta nesse formato. Talvez se fosse um filme a coisa toda conquistasse muito mais a atenção do espectador.
Com um primeiro episódio mais longo, logo de cara o espectador fica sabendo que o casal protagonista tem problemas sexuais e fantasiem com outras pessoas – elemento este que vai conduzindo muitas das ações deles, curiosamente; os dois vivem uma realidade que é difícil de sustentar e, para nós, é difícil de imaginar que os dois ainda sejam incluídos no clubinho dos ricos, uma vez que claramente são de classe média e, bom, Los Angeles é cruel nesse sentido; muito rapidamente a identidade do serial killer é revelada para o espectador, deixando pouca coisa para a imaginação, uma vez que ficamos sem nada para ir investigando.
Tom Bateman mescla bem o humor com a seriedade nesse conflitante personagem vaidoso, que mata por prazer mas que quer usufruir das glórias que a indústria do crime fabrica. Tom cria um personagem que muitas vezes se assemelha ao Joe de ‘You’, e definitivamente seu vozeirão impacta bastante. A série conta ainda com uma participação especial de Natalia Dyer, a Nancy de ‘Stranger Things’, como a primeira vítima assassinada na série.
‘Baseado Numa História Real’ tinha potencial para uma grande história, se tivesse sido um filme; no formato seriado, parece querem encaixar qualquer elemento para preencher o tempo, e daí tudo parece forçar a barra. Uma ideia interessante, mas cuja primeira temporada pode ser resumida em poucos minutos de trama.