domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem é um divertidíssimo desfile nostálgico das maiores esquisitices de Tim Burton

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Das profundezas do macabro humor que fez de Tim Burton um genuíno ícone estilístico dos anos 80, nasce a personificação de um universo até então inimaginável. E entre blocos de cores roxas e pretas, pinceladas de um verde neon e elementos pitorescos, emerge a figura de “Betelgeuse”, um horror fantasmagórico que se diverte às custas dos sustos alheios. E é aqui que Michael Keaton se esbalda diante das telas, em um festim de caricaturas regidas pela sombria e fascinante criatividade de um cineasta que transforma o preto no mais vibrante tom e sabe trazer cor às suas ideias mais obscuras de forma cômica e, impressionantemente, leve.

beetlejuice beetlejuice 2
beetlejuice beetlejuice 2

Toda essa atmosfera que flerta com o circense e bebe da oitentista cultura yuppie está de volta em Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, que chega aos cinemas 36 anos depois. Reproduzindo toda a meticulosa arquitetura conceitual que fez do clássico de 88 um banquete de referências culturais, a nova sequência se alicerça no formato que a consagrou e se desabrocha diante da audiência como um convite ao lado B de Burton, aquele território que vez outra ainda aparece nas telas – ainda que mais timidamente em suas produções mais recentes.



Como alguém que aparenta ter saudades de perambular pelos cantos mais obscuros de sua criatividade, o aclamado diretor brinca em tela com os elementos mais imagéticos de Os Fantasmas se Divertem e continua a aventura de Beetlejuice com um excelente humor ácido, sempre salpicado pelo fantástico. Com Winona Ryder, Catherine O’Hara e Keaton conduzindo a trama em direção ao submundo dos mortos, Beetlejuice Beetlejuice acerta ao incrementar o elenco original com a chegada de Jenna Ortega, Justin Theroux e Willem Dafoe, que agregam protagonismo, comédia e peculiaridade na medida certa. E aqui, o intérprete do Besouro Suco toma o filme para si, tornando-o seu grande espetáculo. Sempre hilário em suas interações, Keaton se entrega ao personagem com vontade e faz dos sets seu playground.

beetlejuice beetlejuice 3
beetlejuice beetlejuice 3

Repleto de alegorias cômicas à morte e repentinos números musicais que bebem da mesma fonte das cenas de “Banana Boat (Day-O)” e “Jump in the Line”, Os Fantasmas Ainda se Divertem é um tour pelos formatos cinematográficos favoritos de Burton. Do stop-motion ao cinema antigo, a sequência se apropria da loucura de seu vilão para desafiar a estrutura padrão de roteiro, levando a audiência para os meandros dessa pequena maquete que guarda o grandioso mundo dos mortos, cheio de personagens inusitados, frases de efeito bem-humoradas e uma estética de altíssimo nível, do mais elevado panteão da insanidade artística que só Burton domina.

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E, provavelmente, os maiores pecados do diretor tenham sido sua falta de habilidade para lidar com a personagem de Monica Bellucci e a ausência da mesma suntuosa e soberba estética yuppie – que fez da caracterização de O’Hara um dos maiores presentes do filme original. Com o diretor claramente tentando agradar sua amada namorada com uma ponta no longa, ele esquece da bela e voraz sugadora de almas a partir do segundo ato, fazendo com que ela desvaneça no mundo dos mortos sem qualquer encerramento de arco adequado. Em um sopro, nós literalmente perdemos Bellucci, que foi um ótimo acréscimo ao elenco, mas fora reduzida a um bode expiatório para justificar o retorno de Beetlejuice.

beetlejuice beetlejuice 4
beetlejuice beetlejuice 4

Quanto à cultura yuppie dos anos 80, fica aqui a saudade daquela soberania implacável de Delia Deetz, tão arrogante e pedante em sua inteligência cultural, tão sarcástica em seus apontamentos e sempre elegante em seus figurinos geométricos e dramáticos. Mais caricata e menos performática, a versão 2024 da personagem da brilhante Catherine O’Hara carece daquele mesmo elemento nonsense, o je ne sais quoi que também fez Moira Rose (também vivida por ela), da série Schitt’s Creek, um dos melhores papeis da comédia contemporânea. Mas ainda assim, a nova sequência de Tim Burton não nos perde em nada.

Com easter-eggs apenas perceptíveis aos espectadores mais perspicazes do original, Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é moldado por uma coletânea de nostalgias, que contornam uma ótima e engraçada história sobre família e pertencimento. E mesmo sendo incapaz de superar o longa de 1988, a comédia com ares cults irradia a mesma riqueza de seu antecessor, com uma estética única e um universo detalhadamente talhado em todos os sentidos. Estampando um impressionante trabalho de maquiagem e efeitos práticos que remontam o mesmo processo de produção que fez o diretor se destacar em Hollywood no início de sua carreira, a aguardada continuação se preocupa integralmente em agradar os fãs antigos, na certeza de que isso em nada impede que uma audiência mais jovem também venha, se divirta e crie uma nova memória afetiva com o filme.

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Das profundezas do macabro humor que fez de Tim Burton um genuíno ícone estilístico dos anos 80, nasce a personificação de um universo até então inimaginável. E entre blocos de cores roxas e pretas, pinceladas de um verde neon e elementos pitorescos, emerge a figura de “Betelgeuse”, um horror fantasmagórico que se diverte às custas dos sustos alheios. E é aqui que Michael Keaton se esbalda diante das telas, em um festim de caricaturas regidas pela sombria e fascinante criatividade de um cineasta que transforma o preto no mais vibrante tom e sabe trazer cor às suas ideias mais obscuras de forma cômica e, impressionantemente, leve.

beetlejuice beetlejuice 2
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Toda essa atmosfera que flerta com o circense e bebe da oitentista cultura yuppie está de volta em Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, que chega aos cinemas 36 anos depois. Reproduzindo toda a meticulosa arquitetura conceitual que fez do clássico de 88 um banquete de referências culturais, a nova sequência se alicerça no formato que a consagrou e se desabrocha diante da audiência como um convite ao lado B de Burton, aquele território que vez outra ainda aparece nas telas – ainda que mais timidamente em suas produções mais recentes.

Como alguém que aparenta ter saudades de perambular pelos cantos mais obscuros de sua criatividade, o aclamado diretor brinca em tela com os elementos mais imagéticos de Os Fantasmas se Divertem e continua a aventura de Beetlejuice com um excelente humor ácido, sempre salpicado pelo fantástico. Com Winona Ryder, Catherine O’Hara e Keaton conduzindo a trama em direção ao submundo dos mortos, Beetlejuice Beetlejuice acerta ao incrementar o elenco original com a chegada de Jenna Ortega, Justin Theroux e Willem Dafoe, que agregam protagonismo, comédia e peculiaridade na medida certa. E aqui, o intérprete do Besouro Suco toma o filme para si, tornando-o seu grande espetáculo. Sempre hilário em suas interações, Keaton se entrega ao personagem com vontade e faz dos sets seu playground.

beetlejuice beetlejuice 3
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Repleto de alegorias cômicas à morte e repentinos números musicais que bebem da mesma fonte das cenas de “Banana Boat (Day-O)” e “Jump in the Line”, Os Fantasmas Ainda se Divertem é um tour pelos formatos cinematográficos favoritos de Burton. Do stop-motion ao cinema antigo, a sequência se apropria da loucura de seu vilão para desafiar a estrutura padrão de roteiro, levando a audiência para os meandros dessa pequena maquete que guarda o grandioso mundo dos mortos, cheio de personagens inusitados, frases de efeito bem-humoradas e uma estética de altíssimo nível, do mais elevado panteão da insanidade artística que só Burton domina.

E, provavelmente, os maiores pecados do diretor tenham sido sua falta de habilidade para lidar com a personagem de Monica Bellucci e a ausência da mesma suntuosa e soberba estética yuppie – que fez da caracterização de O’Hara um dos maiores presentes do filme original. Com o diretor claramente tentando agradar sua amada namorada com uma ponta no longa, ele esquece da bela e voraz sugadora de almas a partir do segundo ato, fazendo com que ela desvaneça no mundo dos mortos sem qualquer encerramento de arco adequado. Em um sopro, nós literalmente perdemos Bellucci, que foi um ótimo acréscimo ao elenco, mas fora reduzida a um bode expiatório para justificar o retorno de Beetlejuice.

beetlejuice beetlejuice 4
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Quanto à cultura yuppie dos anos 80, fica aqui a saudade daquela soberania implacável de Delia Deetz, tão arrogante e pedante em sua inteligência cultural, tão sarcástica em seus apontamentos e sempre elegante em seus figurinos geométricos e dramáticos. Mais caricata e menos performática, a versão 2024 da personagem da brilhante Catherine O’Hara carece daquele mesmo elemento nonsense, o je ne sais quoi que também fez Moira Rose (também vivida por ela), da série Schitt’s Creek, um dos melhores papeis da comédia contemporânea. Mas ainda assim, a nova sequência de Tim Burton não nos perde em nada.

Com easter-eggs apenas perceptíveis aos espectadores mais perspicazes do original, Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é moldado por uma coletânea de nostalgias, que contornam uma ótima e engraçada história sobre família e pertencimento. E mesmo sendo incapaz de superar o longa de 1988, a comédia com ares cults irradia a mesma riqueza de seu antecessor, com uma estética única e um universo detalhadamente talhado em todos os sentidos. Estampando um impressionante trabalho de maquiagem e efeitos práticos que remontam o mesmo processo de produção que fez o diretor se destacar em Hollywood no início de sua carreira, a aguardada continuação se preocupa integralmente em agradar os fãs antigos, na certeza de que isso em nada impede que uma audiência mais jovem também venha, se divirta e crie uma nova memória afetiva com o filme.

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