domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Bela Vingança – Carey Mulligan se vinga de assediadores no envolvente thriller

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2020

A cultura de estupro tem tentado definir a vida de tantas mulheres ao redor do mundo. Cercadas por um contexto social enraizado em comportamentos machistas muitas vezes opressores, elas se transformam no centro de uma atração doentia e perversa, que tenta roubar o seu tempo, sua dignidade, beleza e vigor. E a trancos e barrancos, nossa sociedade cambaleia ao buscar se desenvolver a partir da desmistificação do trato dado ao sexo feminino. Mas em um mundo ensinado e acostumado a enxergar a mulher por uma aura de pura submissão e fraqueza, muito mais que tentar mudar os conceitos, é fundamental que os velhos e nocivos hábitos sejam expostos de forma tão dilacerada, a ponto de reverter a apatia ao sofrimento em repúdio por todo e qualquer tipo de abuso. E é assim que Bela Vingança (Promising Young Woman) puxa nossas entranhas com força, proporcionando uma experiência cinematográfica de embrulhar o estômago.



Não é de hoje que as universidades norte-americanas são conhecidas por serem os “territórios de caça” de jovens mulheres inconscientes e inofensivas. Aqui, entre festas regadas a muita bebida, drogas e pouco discernimento, um número grandioso delas são abusadas da pior forma possível: Por homens quase sempre caucasianos e de classe alta. E assim como o documentário indicado ao Oscar, The Hunting Ground, categorizou a maior parte desses estupros, suas consequências e a apatia e falta de responsabilização dos corpos estudantis universitários, Bela Vingança traz uma espécie de aftermath, mostrando os reflexos mais íntimos que o abuso pode promover na vida de uma vítima e na daqueles que sofrem ao seu lado. E aqui, o longa dirigido por Emerald Fennell, que já trabalhou na série The Crown, explora as mazelas, os cacos e os frangalhos desse mal ainda tão latente na sociedade mundial.

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E aqui, Carey Mulligan vive uma jovem ex-estudante de Medicina que, após o suicídio de sua melhor amiga – em virtude do quase insuportável peso que o estupro lhe trouxe -, está disposta a provar por A+B o quanto a ocasião faz o ladrão. Batendo ponto em um popular bar regado por jovens, ela se veste da forma mais sedutora possível, finge estar bêbada como uma atriz excepcional e analisa que tipo de tratamento um “bom e gentil homem” que a encontra lhe dará, ao perceber que ela está quase inconsciente de tão entorpecida. E é ali que alguns dos principais comportamentos compulsivos são desmascarado e confrontados, como a ideia de que a mulher “pediu” para ser abusada, ao se expor ao risco em virtude de uns goles a mais de álcool. E como alguém que sai da posição de vítima, a atriz atrai suas presas para uma caçada às avessas, que visa encontrar abusadores em potencial e fazê-los enxergar o seu pior lado, aquele que eles juram que não existe – principalmente por serem brancos, bem instruídos e de classe média/alta.

Bela Vingança segue essa jornada de maneira escalonada e salivante. Dando um tapa na cara da audiência a cada nova cena, o thriller é soberbo e maestral em sua essência ao explorar uma temática tão delicada e dolorosa com o auxílio do humor ácido. Aqui, o roteiro de Emerald brilha diante dos nossos olhos por seu dinamismo didático. Como uma aula de vingança e de que a punição não só pode como deve ser empregada à classe alta, a produção nos entrega uma trama bem amarrada do começo ao fim, costurada com precisão e que não apenas mantém o público vidrado em seu enredo, como também desafia seu entendimento, confrontando aqueles conceitos guardados no íntimo e que muitas vezes não são ditos por uma questão de convenção social. Trazendo uma Carey Mulligan visceral, o longa produzido por Margot Robbie é uma raridade autêntica ao abordar a temática do estupro sem meias palavras, sem suavizar as cenas e sem fazer mea culpa. Buscando genuinamente fazer um exposé da dura verdade que cerca o abuso sexual, o filme alcança o seu objetivo com naturalidade e leveza, trazendo ainda uma série de atuações adjacentes que ajudam a engrossar o caldo e fortalecem a voracidade da trama.

Com um clímax revigorante e que honra as sobreviventes de estupro, o thriller de humor sombrio é uma experiência cinematográfica sinestésica e desconfortável do começo ao fim. Trazendo alguns leves e breves respiros, que servem como pequenos hiatos de calmaria que antecedem o esporro narrativo que logo virá, Bela Vingança traz uma reviravolta deliciosa de contemplar, representa de forma categórica toda e qualquer sobrevivente de abuso e se encerra como uma ópera que atinge seu ápice supremo nos momentos finais. Honroso, educativo e envolvente, a produção é uma joia primorosa que segue à risca as principais características de um clássico do Festival de Sundance e se imortaliza como aquele filme essencial para um tempo onde não há mais espaço para a objetificação feminina.

O filme estreia no Brasil em 2020.

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Não é de hoje que as universidades norte-americanas são conhecidas por serem os “territórios de caça” de jovens mulheres inconscientes e inofensivas. Aqui, entre festas regadas a muita bebida, drogas e pouco discernimento, um número grandioso delas são abusadas da pior forma possível: Por homens quase sempre caucasianos e de classe alta. E assim como o documentário indicado ao Oscar, The Hunting Ground, categorizou a maior parte desses estupros, suas consequências e a apatia e falta de responsabilização dos corpos estudantis universitários, Bela Vingança traz uma espécie de aftermath, mostrando os reflexos mais íntimos que o abuso pode promover na vida de uma vítima e na daqueles que sofrem ao seu lado. E aqui, o longa dirigido por Emerald Fennell, que já trabalhou na série The Crown, explora as mazelas, os cacos e os frangalhos desse mal ainda tão latente na sociedade mundial.

E aqui, Carey Mulligan vive uma jovem ex-estudante de Medicina que, após o suicídio de sua melhor amiga – em virtude do quase insuportável peso que o estupro lhe trouxe -, está disposta a provar por A+B o quanto a ocasião faz o ladrão. Batendo ponto em um popular bar regado por jovens, ela se veste da forma mais sedutora possível, finge estar bêbada como uma atriz excepcional e analisa que tipo de tratamento um “bom e gentil homem” que a encontra lhe dará, ao perceber que ela está quase inconsciente de tão entorpecida. E é ali que alguns dos principais comportamentos compulsivos são desmascarado e confrontados, como a ideia de que a mulher “pediu” para ser abusada, ao se expor ao risco em virtude de uns goles a mais de álcool. E como alguém que sai da posição de vítima, a atriz atrai suas presas para uma caçada às avessas, que visa encontrar abusadores em potencial e fazê-los enxergar o seu pior lado, aquele que eles juram que não existe – principalmente por serem brancos, bem instruídos e de classe média/alta.

Bela Vingança segue essa jornada de maneira escalonada e salivante. Dando um tapa na cara da audiência a cada nova cena, o thriller é soberbo e maestral em sua essência ao explorar uma temática tão delicada e dolorosa com o auxílio do humor ácido. Aqui, o roteiro de Emerald brilha diante dos nossos olhos por seu dinamismo didático. Como uma aula de vingança e de que a punição não só pode como deve ser empregada à classe alta, a produção nos entrega uma trama bem amarrada do começo ao fim, costurada com precisão e que não apenas mantém o público vidrado em seu enredo, como também desafia seu entendimento, confrontando aqueles conceitos guardados no íntimo e que muitas vezes não são ditos por uma questão de convenção social. Trazendo uma Carey Mulligan visceral, o longa produzido por Margot Robbie é uma raridade autêntica ao abordar a temática do estupro sem meias palavras, sem suavizar as cenas e sem fazer mea culpa. Buscando genuinamente fazer um exposé da dura verdade que cerca o abuso sexual, o filme alcança o seu objetivo com naturalidade e leveza, trazendo ainda uma série de atuações adjacentes que ajudam a engrossar o caldo e fortalecem a voracidade da trama.

Com um clímax revigorante e que honra as sobreviventes de estupro, o thriller de humor sombrio é uma experiência cinematográfica sinestésica e desconfortável do começo ao fim. Trazendo alguns leves e breves respiros, que servem como pequenos hiatos de calmaria que antecedem o esporro narrativo que logo virá, Bela Vingança traz uma reviravolta deliciosa de contemplar, representa de forma categórica toda e qualquer sobrevivente de abuso e se encerra como uma ópera que atinge seu ápice supremo nos momentos finais. Honroso, educativo e envolvente, a produção é uma joia primorosa que segue à risca as principais características de um clássico do Festival de Sundance e se imortaliza como aquele filme essencial para um tempo onde não há mais espaço para a objetificação feminina.

O filme estreia no Brasil em 2020.

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