quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Big Jato

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Cláudio Assis está de volta com um peculiar filme infantil

Sempre polêmico e até sendo motivo de ojeriza por parte de alguns, o cineasta Cláudio Assis segue construindo uma carreira sólida, com filmes cheios de críticas sociais, que trazem violência latente e retratam a crueza do humano resumido basicamente em estômago e sexo. Todos os seus trabalhos lidam com temas extremamente delicados e não têm medo de assumir bandeiras. E mesmo com toda ideologia marginal, o esmero estético visual e narrativo sempre foram presentes. Assim, a união desses fatores tornaram-se marcas registradas do pernambucano.

Assis surpreendeu quando anunciou que seu próximo filme teria temática infantil e adaptaria um livro homônimo do jornalista Xico Sá, já que sempre contou com roteiros originais escritos por Hilton Lacerda. Bem como a obra literária, o longa leva o nome de “Big Jato” e retrata uma fase da infância de Francisco (Rafael Nicácio), um garoto que se vê dividido entre a sofrida rotina do pai rígido, que trabalha num caminhão-pipa limpando fossas de casas sem saneamento, e a boa vida do tio, um radialista anárquico libertário – ambos os personagens interpretados por Matheus Nachtergaele.



20150918175505232052e

O menino tem ainda como mestre-confidente a figura mística de um homem chamado de Principe (Jards Macalé), sempre com diálogos metafóricos e figurino alegórico. Em meio a isso, Chico parece ter descoberto o amor e também sua vocação como poeta. Apesar de tudo acontecer à sua volta, acompanhamos o cotidiano do moleque mostrado com naturalidade, sem grandes floreios ou um forçado apelo artístico, tanto que mal vemos suas poesias. O longa tem como foco a infância e a descoberta de novas oportunidades. De quanto é dura e estranha a mudança na cabeça daqueles que, segundo o tio, são fosseis que ficaram para trás.

O grande destaque de “Big Jato” vem da sua narrativa, que se mostra fluida nos três atos e aborda a vida de Chico com organicidade. O diretor parece mais maduro, ou pelo menos não abusa das trucagens, aliás, a linguagem mostra-se bem acessível. Os cacoetes estão lá, como os típicos planos-sequenciais e as câmeras panorâmicas, mas aparecem de modo simplório. Assis só não abre mão da auto-referência e cita através de cartazes, falas e canções suas obras anteriores. Temos novamente a quebra da quarta parede, e nesse sentido o filme nos remete ao pesado “Baixio das Bestas” (2007).

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As gags do roteiro literalmente atemporal, da dupla Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco, também são pontos a serem destacados, já que muitas delas são muletas e servem para manter o espectador conectado com a trama e o universo empreendido, pois não temos aqui numerosos grandes momentos. Bem como a montagem de Karen Harley é fundamental por trazer dinamismo à fita, e a fotografia de Marcelo Durst conseguir unir visualmente as épocas retratadas, sem criar confusões. Este que concebe belíssimos planos contemplativos, sendo bem auxiliado pela competente direção de arte de Ananias de Caldas e Karen Araújo.

7

Mas nem tudo são flores em “Big Jato”, ainda que Nachtergaele como sempre traga grande peso aos gêmeos, muitas cenas dramáticas são prejudicadas e amortizadas, devido o ator mirim Rafael Nicácio não conseguir alcançar o traço emocional pretendido. Ainda que não faça feio, o papel de Nicácio é importante para todo o elenco e talvez falte a ele mais veracidade em sua interpretação. A presença de Jards Macalé também não é marcante a ponto que seu personagem seja de fato relevante. Diferente da experiente Marcelia Cartaxo, que rouba a cena e faz a figura mais tátil da história.

Com o desenrolar da trama e o crescimento de Francisco, notamos que o filme vai ganhando contornos típicos do diretor, o grafismo violento e sexual das cenas finalmente é revelado. A parte final do longa é repleta de metáforas e alegorias que servem basicamente como o despertar do protagonista. É verdade que muitas das figuras aludidas não são tão marcantes como àquelas que vemos em “Amarelo Manga” (2003) e “Febre do Rato” (2012), mas certamente dialogam com as ideias de Cláudio Assis, este que sempre fez cinema à sua maneira.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Cláudio Assis está de volta com um peculiar filme infantil

Sempre polêmico e até sendo motivo de ojeriza por parte de alguns, o cineasta Cláudio Assis segue construindo uma carreira sólida, com filmes cheios de críticas sociais, que trazem violência latente e retratam a crueza do humano resumido basicamente em estômago e sexo. Todos os seus trabalhos lidam com temas extremamente delicados e não têm medo de assumir bandeiras. E mesmo com toda ideologia marginal, o esmero estético visual e narrativo sempre foram presentes. Assim, a união desses fatores tornaram-se marcas registradas do pernambucano.

Assis surpreendeu quando anunciou que seu próximo filme teria temática infantil e adaptaria um livro homônimo do jornalista Xico Sá, já que sempre contou com roteiros originais escritos por Hilton Lacerda. Bem como a obra literária, o longa leva o nome de “Big Jato” e retrata uma fase da infância de Francisco (Rafael Nicácio), um garoto que se vê dividido entre a sofrida rotina do pai rígido, que trabalha num caminhão-pipa limpando fossas de casas sem saneamento, e a boa vida do tio, um radialista anárquico libertário – ambos os personagens interpretados por Matheus Nachtergaele.

20150918175505232052e

O menino tem ainda como mestre-confidente a figura mística de um homem chamado de Principe (Jards Macalé), sempre com diálogos metafóricos e figurino alegórico. Em meio a isso, Chico parece ter descoberto o amor e também sua vocação como poeta. Apesar de tudo acontecer à sua volta, acompanhamos o cotidiano do moleque mostrado com naturalidade, sem grandes floreios ou um forçado apelo artístico, tanto que mal vemos suas poesias. O longa tem como foco a infância e a descoberta de novas oportunidades. De quanto é dura e estranha a mudança na cabeça daqueles que, segundo o tio, são fosseis que ficaram para trás.

O grande destaque de “Big Jato” vem da sua narrativa, que se mostra fluida nos três atos e aborda a vida de Chico com organicidade. O diretor parece mais maduro, ou pelo menos não abusa das trucagens, aliás, a linguagem mostra-se bem acessível. Os cacoetes estão lá, como os típicos planos-sequenciais e as câmeras panorâmicas, mas aparecem de modo simplório. Assis só não abre mão da auto-referência e cita através de cartazes, falas e canções suas obras anteriores. Temos novamente a quebra da quarta parede, e nesse sentido o filme nos remete ao pesado “Baixio das Bestas” (2007).

As gags do roteiro literalmente atemporal, da dupla Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco, também são pontos a serem destacados, já que muitas delas são muletas e servem para manter o espectador conectado com a trama e o universo empreendido, pois não temos aqui numerosos grandes momentos. Bem como a montagem de Karen Harley é fundamental por trazer dinamismo à fita, e a fotografia de Marcelo Durst conseguir unir visualmente as épocas retratadas, sem criar confusões. Este que concebe belíssimos planos contemplativos, sendo bem auxiliado pela competente direção de arte de Ananias de Caldas e Karen Araújo.

7

Mas nem tudo são flores em “Big Jato”, ainda que Nachtergaele como sempre traga grande peso aos gêmeos, muitas cenas dramáticas são prejudicadas e amortizadas, devido o ator mirim Rafael Nicácio não conseguir alcançar o traço emocional pretendido. Ainda que não faça feio, o papel de Nicácio é importante para todo o elenco e talvez falte a ele mais veracidade em sua interpretação. A presença de Jards Macalé também não é marcante a ponto que seu personagem seja de fato relevante. Diferente da experiente Marcelia Cartaxo, que rouba a cena e faz a figura mais tátil da história.

Com o desenrolar da trama e o crescimento de Francisco, notamos que o filme vai ganhando contornos típicos do diretor, o grafismo violento e sexual das cenas finalmente é revelado. A parte final do longa é repleta de metáforas e alegorias que servem basicamente como o despertar do protagonista. É verdade que muitas das figuras aludidas não são tão marcantes como àquelas que vemos em “Amarelo Manga” (2003) e “Febre do Rato” (2012), mas certamente dialogam com as ideias de Cláudio Assis, este que sempre fez cinema à sua maneira.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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