segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | ‘Big Little Lies’ 2×01: Meryl Streep honestona e passiva agressiva

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Quase que instantaneamente, Big Little Lies nos rapta da nossa realidade. Se construindo de maneira natural, com uma narrativa invertida que começa pelo morto, ela inicialmente se apresenta como um conto que quer nos instigar pela curiosidade do fim. Se inspirando em Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, a produção liderada por mulheres se apresenta como aquela onde as motivações são bem mais importantes que o fato em si. E com maestria, Jean-Marc Vallée assim o fez. Conectando cinco histórias distintas por um único fato, aqui já não é tão precioso quem morreu e quem matou, mas sim os caminhos que levaram a isso. E claro, as fofocas da pequena comunidade de Monterey. E ainda que as primeiras respostas estejam em mãos, ainda restam várias perguntas. E qual pessoa melhor para consegui-las do que Meryl Streep? Desconheço.



Existe um motivo de Streep ser o que é no auge de seus 69 anos, caminhando para os 70. Com uma habilidade monstruosa de desafiar seus próprios instintos artísticos, ela entende que um bom projeto é feito de atuações. E ainda que ele seja ruim, se sua personificação for autêntica, ela será capaz de tornar qualquer meia boca em uau! E com o material criativo de Big Little Lies, não é difícil se superar. A escrita de David E. Kelly, sob a supervisão da autora do livro, Liane Moriarty, é esplêndida. E como alguém que apoia produtos conduzidos por mulheres, ela mais uma vez se desafiou, aceitando o papel de Mary Louise sem sequer ler uma página do roteiro do novo ciclo.

E quanto ao roteiro de Kelly, construindo toda a tensão dos sete primeiros episódios em um bullying escolar, ele distrai os olhos da audiência da – até então – misteriosa morte, nos fazendo crer que os acontecimentos são desconexos entre si. Deixando fragmentos gradativos em cada capítulo, recebemos um quebra-cabeça difícil de ser montado, mas absolutamente coerente quando pronto. E na segunda e solicitada temporada, Meryl Streep chega para juntar as peças que já conhecemos, acrescentando suas próprias percepções à misteriosa morte de seu amado e (quase) perfeito filho Perry, vivido brilhantemente por Alexander Skarsgard.

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Sem meias palavras, Mary Louise é um espetáculo dentro de outro espetáculo, quase uma Inception televisionada. Dentro dessa narrativa que, de primeira, já justifica a existência de sua segunda temporada (que era incerta, uma vez que ultrapassa os limites do livro), ela está sutilmente voraz. Com voz mansa e jeitinho de avó disciplinadora, ela não se apresenta como um mistério diante das telas. Honestona que só, ela sabe ir na jugular das protagonistas usando as palavras certas. E enquanto estas esclarecem ofensas óbvias, seu olhar evasivo, mas penetrante, confunde a todos – personagens e audiência -, nos levando a nos questionar a respeito do tipo de caráter e personalidade sádica essa vozinha inofensiva possui. Sem medo de falar o que não deve, ela ofende com classe, de maneira orgânica, e deixa os palavrões para os menos habilidosos com as palavras. Uma espécie de gênio da inconveniência e desconforto.

E durante os 45 minutos de capítulo inaugural (curtíssimos, em virtude do ritmo da produção e da extensão de seus episódios anteriores), nossas protagonistas vividas por Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Zöe Kravitz, Laura Dern e Shailene Woodley orbitam ao redor da matriarca, que sabe exatamente quando e como falar. Ponderando suas palavras quando necessário, ela é também um grito de desespero na mesa de jantar (literalmente) e torna o ambiente – mesmo quando não está presente – pesado, inflamado. E com a segunda temporada cercando as 5 de Monterey, naturalmente veremos o fantasma dos que (não) foram alinhavando os rumos da narrativa. E ainda que o cerco seja comandado por Streep, nossas bravas guerreiras são a memória viva de todos os motivos pelos quais imploramos por um novo ciclo.

Com uma trilha sonora que resgata Harvest Moon, de Neil Young – sob a releitura de Cassandra Wilson, e traz outros hinos clássicos que incluem uma versão lounge de Sinead O’connor de All Apologies, do Nirvana, o primeiro episódio de Big Little Lies nos mostra que nada mudou, ainda que tudo tenha mudado. Impecável do começo ao fim, o capítulo inaugural se encerra como começou, de maneira doce, aparentemente suave, até que Meryl Streep rompe com a acidez de uma personagem que já merecia o Emmy Awards. Não espere menos que isso até o final dessa jornada.

 

 

 

 

 

 

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Quase que instantaneamente, Big Little Lies nos rapta da nossa realidade. Se construindo de maneira natural, com uma narrativa invertida que começa pelo morto, ela inicialmente se apresenta como um conto que quer nos instigar pela curiosidade do fim. Se inspirando em Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, a produção liderada por mulheres se apresenta como aquela onde as motivações são bem mais importantes que o fato em si. E com maestria, Jean-Marc Vallée assim o fez. Conectando cinco histórias distintas por um único fato, aqui já não é tão precioso quem morreu e quem matou, mas sim os caminhos que levaram a isso. E claro, as fofocas da pequena comunidade de Monterey. E ainda que as primeiras respostas estejam em mãos, ainda restam várias perguntas. E qual pessoa melhor para consegui-las do que Meryl Streep? Desconheço.

Existe um motivo de Streep ser o que é no auge de seus 69 anos, caminhando para os 70. Com uma habilidade monstruosa de desafiar seus próprios instintos artísticos, ela entende que um bom projeto é feito de atuações. E ainda que ele seja ruim, se sua personificação for autêntica, ela será capaz de tornar qualquer meia boca em uau! E com o material criativo de Big Little Lies, não é difícil se superar. A escrita de David E. Kelly, sob a supervisão da autora do livro, Liane Moriarty, é esplêndida. E como alguém que apoia produtos conduzidos por mulheres, ela mais uma vez se desafiou, aceitando o papel de Mary Louise sem sequer ler uma página do roteiro do novo ciclo.

E quanto ao roteiro de Kelly, construindo toda a tensão dos sete primeiros episódios em um bullying escolar, ele distrai os olhos da audiência da – até então – misteriosa morte, nos fazendo crer que os acontecimentos são desconexos entre si. Deixando fragmentos gradativos em cada capítulo, recebemos um quebra-cabeça difícil de ser montado, mas absolutamente coerente quando pronto. E na segunda e solicitada temporada, Meryl Streep chega para juntar as peças que já conhecemos, acrescentando suas próprias percepções à misteriosa morte de seu amado e (quase) perfeito filho Perry, vivido brilhantemente por Alexander Skarsgard.

Sem meias palavras, Mary Louise é um espetáculo dentro de outro espetáculo, quase uma Inception televisionada. Dentro dessa narrativa que, de primeira, já justifica a existência de sua segunda temporada (que era incerta, uma vez que ultrapassa os limites do livro), ela está sutilmente voraz. Com voz mansa e jeitinho de avó disciplinadora, ela não se apresenta como um mistério diante das telas. Honestona que só, ela sabe ir na jugular das protagonistas usando as palavras certas. E enquanto estas esclarecem ofensas óbvias, seu olhar evasivo, mas penetrante, confunde a todos – personagens e audiência -, nos levando a nos questionar a respeito do tipo de caráter e personalidade sádica essa vozinha inofensiva possui. Sem medo de falar o que não deve, ela ofende com classe, de maneira orgânica, e deixa os palavrões para os menos habilidosos com as palavras. Uma espécie de gênio da inconveniência e desconforto.

E durante os 45 minutos de capítulo inaugural (curtíssimos, em virtude do ritmo da produção e da extensão de seus episódios anteriores), nossas protagonistas vividas por Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Zöe Kravitz, Laura Dern e Shailene Woodley orbitam ao redor da matriarca, que sabe exatamente quando e como falar. Ponderando suas palavras quando necessário, ela é também um grito de desespero na mesa de jantar (literalmente) e torna o ambiente – mesmo quando não está presente – pesado, inflamado. E com a segunda temporada cercando as 5 de Monterey, naturalmente veremos o fantasma dos que (não) foram alinhavando os rumos da narrativa. E ainda que o cerco seja comandado por Streep, nossas bravas guerreiras são a memória viva de todos os motivos pelos quais imploramos por um novo ciclo.

Com uma trilha sonora que resgata Harvest Moon, de Neil Young – sob a releitura de Cassandra Wilson, e traz outros hinos clássicos que incluem uma versão lounge de Sinead O’connor de All Apologies, do Nirvana, o primeiro episódio de Big Little Lies nos mostra que nada mudou, ainda que tudo tenha mudado. Impecável do começo ao fim, o capítulo inaugural se encerra como começou, de maneira doce, aparentemente suave, até que Meryl Streep rompe com a acidez de uma personagem que já merecia o Emmy Awards. Não espere menos que isso até o final dessa jornada.

 

 

 

 

 

 

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