domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Billie Eilish acerta novamente com o ESPETACULAR e impecável álbum ‘Hit Me Hard and Soft’

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Billie Eilish não se tornou uma das artistas mais populares do cenário fonográfico atual por qualquer motivo: após sua estreia oficial em 2019 com o múltiplo vencedor do Grammy ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’, a cantora e compositora sagrou-se como uma das personas de maior originalidade do escopo contemporâneo por construir belíssimas e inesperadas faixas ao lado do irmão, Finneas O’Connell, que transgrediam as construções do mainstream ao reconstituí-las em um potente dark-pop ou em pungentes baladas. Pouco depois, ela voltou com o igualmente aclamado ‘Happier Than Ever’, fez história ao levar duas estatuetas do Oscar de Melhor Canção Original para casa e nos preparou para a estreia do antecipadíssimo Hit Me Hard and Soft.

O compilado de apenas dez faixas originais é uma celebração artística de sua própria mente criativa – e veio acompanhado de um marketing pontual, sem a divulgação de singles ou de videoclipes, aumentando as nossas expectativas. E, considerando o sucesso imensurável de seus discos anteriores, sabíamos que Eilish tinha um objetivo claro em mente, alcançando-o de forma objetiva e espetacular com uma construção atemporal na medida certa. A obra, dessa forma, não é apenas um dos melhores lançamentos de 2024, como também da breve carreira de Billie, revelando um amadurecimento sonoro e midiático de tirar o fôlego e que nos vicia do começo ao fim em uma jornada sobre libertação sexual, empoderamento, decepções amorosas e uma reflexão mais melancólica e letárgica sobre a vida.



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É notável como a performer, ano após ano, demonstra mais conforto em abrir sua vulnerabilidade e imprimir declamações mais pessoais e intimistas em suas peças musicais. Dessa forma, Hit Me Hard and Soft não foca apenas em um mercadológico produto para alimentar sua crescente legião de fãs, como posa em um conceitualismo marcante que amalgama diversos gêneros em um microcosmos vibrante e recheado de inflexões rítmicas arrepiantes e que nos mantêm dinamizados e energizados dentro de uma jornada sinestésica. À medida que Billie e Finneas continuam a se aventurar nos altos e baixos da indústria e firmam seus nomes para as futuras gerações de artistas, percebe-se uma renegação do que está em voga e um contraposto movimento de vaivém que nos impede de imaginar o que eles estão nos preparando.

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O álbum se inicia com uma cinemática arquitetura sob o nome de “SKINNY”, uma belíssima faixa de quase quatro minutos de duração que nos guia em um errôneo caminho do que esperar das outras tracks – afinal, essa predileção é apenas um gostinho de uma multiplicidade de estilos propositalmente exagerada e bem-vinda. Pouco depois, somos arremessados à potência clássica de um baixo setentista e de um sensual soft-funk em “LUNCH”, um dos vários ápices do compilado que volta a alfinetar os críticos conservadores de uma arte que está em constante movimento. E, como já podíamos esperar, Eilish referencia a si mesma em um testamento autocelebratório que, em momento algum, beira a narcisismo ou o pedantismo – apenas revela o fato de que a cantora consegue criar um enlace estrutural entre suas iterações.

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Se de um lado temos a forte presença do dark-pop e do pop alternativo nas bases fundamentais das faixas mais comerciais, por assim dizer, de outro temos ousadias muito sólidas que revelam o domínio da dupla acerca dos arranjos e das harmonias que tenham o poder de dialogar com os ouvintes. “BIRDS OF A FEATHER” funde violão, piano e sintetizadores em uma deliciosa semi-balada que nos rememora Olivia Rodrigo e Melanie Martinez, enquanto “WILDFLOWER” traz elementos mais acústicos através das melódicas notas do violão e de uma rendição vocal irretocável; “THE GREATEST”, facilmente uma das melhores criações de Billie e Finneas, pega acordes emprestados de ‘When We All Fall Asleep’ e leva o tempo necessário para explodir em uma cândida e tocante narrativa de dúvidas e de insuficiência; e “BLUE”, servindo como uma finalização magnífica do álbum, apresenta uma presença vibrante de instrumentos orquestrais para dialogar com a teatralidade quase operística da faixa de abertura – e dá indícios de um ciclo inquebrável de insatisfação e necessidade de mais.

Em uma oposição diabolicamente bem arquitetada, temos a sutileza do electro-R&B de “CHIHIRO”, prestando homenagens ao que nomes como Alicia Keys já haviam feito em meados da década passada, mas mimetizando-a em vez de apenas copiá-la; “L’AMOUR DE MA VIE” é uma epopeia de uma profunda decepção romântica que, assim como a inefabilidade dos sentimentos, navega por uma comunhão revigorante de um midtempo à vulcânica erupção do electro-synth e do prog-pop em uma futurista e narcótica trajetória; e “THE DINER”, considerado por este que vos escreve como a melhor canção da obra, nos leva de volta a algo similar ao que Lenka nos presenteara em 2009 com a ótima “Trouble Is a Friend” – remodelada ao bel-prazer de Billie e garantindo mais uma performance aplaudível que une “bad guy”, “oxytocin” e “nda” em um mesmo lugar.

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Hit Me Hard and Soft é mais um glorioso acerto de uma das performers mais interessantes e originais da atualidade – demonstrando um amadurecimento identitário que continua a dialogar com seu desejo de causar um impacto significativo na cultura pop. Espetacular, memorável e fabuloso são apenas alguns breves adjetivos pertinentes a esse impecável disco, nos levando a pensar o que Billie tem guardado nas mangas para o futuro.

Nota por faixa:

1. SKINNY – 5/5
2. LUNCH – 5/5
3. CHIHIRO – 4,5/5
4. BIRDS OF A FEATHER – 4,5/5
5. WILDFLOWER – 4,5/5
6. THE GREATEST – 5/5
7. L’AMOUR DE MA VIE – 5/5
8. THE DINER – 5/5
9. BITTERSUITE – 5/5
10. BLUE – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Billie Eilish não se tornou uma das artistas mais populares do cenário fonográfico atual por qualquer motivo: após sua estreia oficial em 2019 com o múltiplo vencedor do Grammy ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’, a cantora e compositora sagrou-se como uma das personas de maior originalidade do escopo contemporâneo por construir belíssimas e inesperadas faixas ao lado do irmão, Finneas O’Connell, que transgrediam as construções do mainstream ao reconstituí-las em um potente dark-pop ou em pungentes baladas. Pouco depois, ela voltou com o igualmente aclamado ‘Happier Than Ever’, fez história ao levar duas estatuetas do Oscar de Melhor Canção Original para casa e nos preparou para a estreia do antecipadíssimo Hit Me Hard and Soft.

O compilado de apenas dez faixas originais é uma celebração artística de sua própria mente criativa – e veio acompanhado de um marketing pontual, sem a divulgação de singles ou de videoclipes, aumentando as nossas expectativas. E, considerando o sucesso imensurável de seus discos anteriores, sabíamos que Eilish tinha um objetivo claro em mente, alcançando-o de forma objetiva e espetacular com uma construção atemporal na medida certa. A obra, dessa forma, não é apenas um dos melhores lançamentos de 2024, como também da breve carreira de Billie, revelando um amadurecimento sonoro e midiático de tirar o fôlego e que nos vicia do começo ao fim em uma jornada sobre libertação sexual, empoderamento, decepções amorosas e uma reflexão mais melancólica e letárgica sobre a vida.

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É notável como a performer, ano após ano, demonstra mais conforto em abrir sua vulnerabilidade e imprimir declamações mais pessoais e intimistas em suas peças musicais. Dessa forma, Hit Me Hard and Soft não foca apenas em um mercadológico produto para alimentar sua crescente legião de fãs, como posa em um conceitualismo marcante que amalgama diversos gêneros em um microcosmos vibrante e recheado de inflexões rítmicas arrepiantes e que nos mantêm dinamizados e energizados dentro de uma jornada sinestésica. À medida que Billie e Finneas continuam a se aventurar nos altos e baixos da indústria e firmam seus nomes para as futuras gerações de artistas, percebe-se uma renegação do que está em voga e um contraposto movimento de vaivém que nos impede de imaginar o que eles estão nos preparando.

O álbum se inicia com uma cinemática arquitetura sob o nome de “SKINNY”, uma belíssima faixa de quase quatro minutos de duração que nos guia em um errôneo caminho do que esperar das outras tracks – afinal, essa predileção é apenas um gostinho de uma multiplicidade de estilos propositalmente exagerada e bem-vinda. Pouco depois, somos arremessados à potência clássica de um baixo setentista e de um sensual soft-funk em “LUNCH”, um dos vários ápices do compilado que volta a alfinetar os críticos conservadores de uma arte que está em constante movimento. E, como já podíamos esperar, Eilish referencia a si mesma em um testamento autocelebratório que, em momento algum, beira a narcisismo ou o pedantismo – apenas revela o fato de que a cantora consegue criar um enlace estrutural entre suas iterações.

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Se de um lado temos a forte presença do dark-pop e do pop alternativo nas bases fundamentais das faixas mais comerciais, por assim dizer, de outro temos ousadias muito sólidas que revelam o domínio da dupla acerca dos arranjos e das harmonias que tenham o poder de dialogar com os ouvintes. “BIRDS OF A FEATHER” funde violão, piano e sintetizadores em uma deliciosa semi-balada que nos rememora Olivia Rodrigo e Melanie Martinez, enquanto “WILDFLOWER” traz elementos mais acústicos através das melódicas notas do violão e de uma rendição vocal irretocável; “THE GREATEST”, facilmente uma das melhores criações de Billie e Finneas, pega acordes emprestados de ‘When We All Fall Asleep’ e leva o tempo necessário para explodir em uma cândida e tocante narrativa de dúvidas e de insuficiência; e “BLUE”, servindo como uma finalização magnífica do álbum, apresenta uma presença vibrante de instrumentos orquestrais para dialogar com a teatralidade quase operística da faixa de abertura – e dá indícios de um ciclo inquebrável de insatisfação e necessidade de mais.

Em uma oposição diabolicamente bem arquitetada, temos a sutileza do electro-R&B de “CHIHIRO”, prestando homenagens ao que nomes como Alicia Keys já haviam feito em meados da década passada, mas mimetizando-a em vez de apenas copiá-la; “L’AMOUR DE MA VIE” é uma epopeia de uma profunda decepção romântica que, assim como a inefabilidade dos sentimentos, navega por uma comunhão revigorante de um midtempo à vulcânica erupção do electro-synth e do prog-pop em uma futurista e narcótica trajetória; e “THE DINER”, considerado por este que vos escreve como a melhor canção da obra, nos leva de volta a algo similar ao que Lenka nos presenteara em 2009 com a ótima “Trouble Is a Friend” – remodelada ao bel-prazer de Billie e garantindo mais uma performance aplaudível que une “bad guy”, “oxytocin” e “nda” em um mesmo lugar.

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Hit Me Hard and Soft é mais um glorioso acerto de uma das performers mais interessantes e originais da atualidade – demonstrando um amadurecimento identitário que continua a dialogar com seu desejo de causar um impacto significativo na cultura pop. Espetacular, memorável e fabuloso são apenas alguns breves adjetivos pertinentes a esse impecável disco, nos levando a pensar o que Billie tem guardado nas mangas para o futuro.

Nota por faixa:

1. SKINNY – 5/5
2. LUNCH – 5/5
3. CHIHIRO – 4,5/5
4. BIRDS OF A FEATHER – 4,5/5
5. WILDFLOWER – 4,5/5
6. THE GREATEST – 5/5
7. L’AMOUR DE MA VIE – 5/5
8. THE DINER – 5/5
9. BITTERSUITE – 5/5
10. BLUE – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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