segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Billie Eilish retoma seu envolvente pop noir com a ácida “Therefore I Am”

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Billie Eilish fez um estrondo gigantesco com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’, levando para casa diversos prêmios – incluindo a estatueta de Álbum do Ano no Grammy Awards. Entretanto, sua carreira parece ter dado uma esfriada com singles soltos e uma música-tema para a franquia ‘007’ (que, de longe, não chega perto de suas melhores produções) – ao menos até agora. É claro que a cantora e compositora recebeu aclame com a animação “my future”, mas ainda assim sentíamos falta de sua pungência imediatista, digna de construções como “bad guy” e “all the good girls go to hell”.

Felizmente, Billie anunciou que divulgaria um novo single, talvez um aperitivo de seu próximo álbum – e ele tomou forma no dia de hoje (12) sob o título de “Therefore I Am”. Acompanhado de um videoclipe caseiro dirigido pela própria artista, a faixa foi novamente supervisionada pelas habilidosas mãos de Finneas O’Connell e serviu como uma continuação da canção que a colocou no topo do mundo – um pop noir pincelado com incursões de hip-hop que a põe no centro de um shopping vazio entrando em quiosques e lojas para roubar algumas guloseimas.



Se Eilish nos ensinou alguma coisa quando deu as caras no bizarro e evocativo clipe de “bad guy”, é que nada do que ela faz pode ser premeditado – seja para o bem, seja para o mal. A estética Dogma-95 que se apodera do breve curta-metragem serve apenas de uma imperativa sustentação para uma envolvente e narcótica arquitetura sonora que se vale de potentes sintetizadores mascarados por um abafamento proposital e alguns flertes com o PC music que retomam as investidas criativas do início dos anos 2010. A progressão, por mais que seja familiar com seu compilado de inéditas supracitada, é prática e segue uma delineação convicta, sólida o suficiente em uma trajetória crítica que fala sobre a egolatria exacerbada de um interlocutor sem noção.

A prevalência da impecável delineação entra como cartada final, como um ultimato que nos comove pelo saudosismo. Abrindo a nova década através de uma análise cartesiana diabolicamente ácida sobre o conflito entre o que é real ou não, os pré-refrões se amalgamam com fluidez aplaudível e, apesar de alguns obstáculos nos quais tropeça, usa técnicas de robotização e de autotune que transformam a rendição da artista em uma declaração sobre-humana.

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Com exceção de certas repetições desnecessárias e um brevíssimo bridge que poderia ter sido melhor elaborado, “Therefore I Am” é o comeback de Billie Eilish do qual precisávamos – e um que apenas ela poderia nos entregar.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Felizmente, Billie anunciou que divulgaria um novo single, talvez um aperitivo de seu próximo álbum – e ele tomou forma no dia de hoje (12) sob o título de “Therefore I Am”. Acompanhado de um videoclipe caseiro dirigido pela própria artista, a faixa foi novamente supervisionada pelas habilidosas mãos de Finneas O’Connell e serviu como uma continuação da canção que a colocou no topo do mundo – um pop noir pincelado com incursões de hip-hop que a põe no centro de um shopping vazio entrando em quiosques e lojas para roubar algumas guloseimas.

Se Eilish nos ensinou alguma coisa quando deu as caras no bizarro e evocativo clipe de “bad guy”, é que nada do que ela faz pode ser premeditado – seja para o bem, seja para o mal. A estética Dogma-95 que se apodera do breve curta-metragem serve apenas de uma imperativa sustentação para uma envolvente e narcótica arquitetura sonora que se vale de potentes sintetizadores mascarados por um abafamento proposital e alguns flertes com o PC music que retomam as investidas criativas do início dos anos 2010. A progressão, por mais que seja familiar com seu compilado de inéditas supracitada, é prática e segue uma delineação convicta, sólida o suficiente em uma trajetória crítica que fala sobre a egolatria exacerbada de um interlocutor sem noção.

A prevalência da impecável delineação entra como cartada final, como um ultimato que nos comove pelo saudosismo. Abrindo a nova década através de uma análise cartesiana diabolicamente ácida sobre o conflito entre o que é real ou não, os pré-refrões se amalgamam com fluidez aplaudível e, apesar de alguns obstáculos nos quais tropeça, usa técnicas de robotização e de autotune que transformam a rendição da artista em uma declaração sobre-humana.

Com exceção de certas repetições desnecessárias e um brevíssimo bridge que poderia ter sido melhor elaborado, “Therefore I Am” é o comeback de Billie Eilish do qual precisávamos – e um que apenas ela poderia nos entregar.

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