quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Bird Box: Sandra Bullock em atuação soberba em pós-apocalíptico poderoso

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As particularidades combinadas dos cinco sentidos do corpo humano são o que fazem com que a nossa percepção do mundo ao redor seja completa. Não é difícil concordar que a ausência de uma delas promove lacunas na nossa compreensão sobre tudo, mas dimensionar isso na prática é uma experiência totalmente diferente do que simplesmente ter a empatia sobre o assunto. Abordando a complexidade de uma vida com certas limitações, Bird Box acaba sendo muito mais que um filme pós-apocalíptico. E embora, erroneamente, seja comparado com Um Lugar Silencioso, sua essência caminha para uma vertente mais distinta. Muito mais do que enfrentar os desafios do desconhecido em situações adversas, o longa faz uma sensível e profunda reflexão sobre o que nós nos acostumamos a chamar de deficiências.



E talvez o erro seja justamente analisar Bird Box como uma extensão barata de um estrondoso sucesso independente nos cinemas. A nova produção da Netflix é sim capaz de promover uma tensão palpável, mas também articula uma narrativa que faz uso da nossa própria imaginação, sem mostrar as “criaturas” donas do pavor e do medo, apresentando apenas sua sombra diante do público. E por fazer jogos mentais com um medo que nasce e mata a partir dos receptores sensoriais, a gigante do streaming também promove uma experiência sinestésica na audiência. Naturalmente, somos tragados por um contexto tortuoso de um mal que não tem face, mas gera consequências fatais. Talvez isso seja um clichê do gênero, mas aqui, ele funciona por uma ótica um pouco mais ampla (olha o trocadilho!).

Em Bird Box, uma onda de suicídios é desencadeada a partir de uma manifestação “alienígena”, que cega a lucidez das pessoas, levando-as a cometer atrocidades a si mesmas a partir de estímulos da própria consciência. Basicamente, é como se traumas ou memórias dolorosas do passado chamassem ao pé do ouvido, provocando uma drástica e explosiva insanidade mental. Dentro dessa premissa, Sandra Bullock divide parte do seu tempo cercada por sobreviventes enclausurados em uma quase mini sociedade e rodeada pelas claras águas de um rio sem fim. Com uma narrativa que se desenvolve com sua cronologia entrelaçada, início e meio se misturam, desenhando um roteiro que mais diz respeito à sobrevivência humana do que a um mal aterrorizante em si.

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E é aí que está a má compreensão: achar que Bird Box é um conto pós-apocalíptico sobre criaturas sombrias e misteriosas. O cerne da produção, de fato, reside no próprio homem, nas durezas e dores que carrega, nas mentiras que esconde e em suas respostas sensoriais ao mundo. E nesta espiral psicológica, Mallorie (Bullock) é forçada a descobrir novos sentidos e a aflorar aqueles que já possui, levando uma vida em plena escuridão, não importa quão claro esteja o dia. Esse contraste entre o físico e a psique humana produzem um drama encantador, que desafia nossa percepção sobre o que seria, genuinamente, a cegueira. Explorando – inicialmente – apenas a ausência da vista, o longa cresce vertiginosamente, trazendo uma tensão sufocante consigo, que explode em uma das atuações mais profundas de Sandra Bullock.

Intensa, a vencedora do Oscar entrega uma atuação que chega ao seu pico mais caótico, tamanha fragilidade. Com seus movimentos limitados por uma cegueira temporária, ela tenta tatear no escuro em busca de sobrevivência, à medida que descobre uma maternidade às avessas, em virtude do contexto social vigente. Profunda e dolorosa, é notável o quão delicada e real foi sua entrega, que atinge o seu ápice em uma declaração desesperada em um bosque com árvores altas, cercada pelo verde que não se pode ver e por uma enorme exaustão de uma vida vivida pela metade. Um dos momentos mais poderosos do filme, ele também é um sensível grito de socorro pela solidão que a vida se tornara sem a visão.

Com uma fotografia que tem seus pontos altos nas paisagens naturais por onde o rio e a correnteza passam, o filme se concentra em seus personagens, fazendo com que toda a trama parta e gire em torno deles. Bem mais que um conto apocalíptico sobre o fim do mundo, o filme de Susanne Bier é mais um relato emocional sobre a consciência humana mediante as circunstâncias mais adversas. E fazendo do seu fim uma surpresa agradável e imprevisível, a produção se encerra de maneira extremamente simbólica e representativa. Sem dizer muito, os minutos finais coroam Bird Box como um conto avassalador sobre a vida, muito além do que os olhos podem ver.

 

 

 

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Crítica | Bird Box: Sandra Bullock em atuação soberba em pós-apocalíptico poderoso

As particularidades combinadas dos cinco sentidos do corpo humano são o que fazem com que a nossa percepção do mundo ao redor seja completa. Não é difícil concordar que a ausência de uma delas promove lacunas na nossa compreensão sobre tudo, mas dimensionar isso na prática é uma experiência totalmente diferente do que simplesmente ter a empatia sobre o assunto. Abordando a complexidade de uma vida com certas limitações, Bird Box acaba sendo muito mais que um filme pós-apocalíptico. E embora, erroneamente, seja comparado com Um Lugar Silencioso, sua essência caminha para uma vertente mais distinta. Muito mais do que enfrentar os desafios do desconhecido em situações adversas, o longa faz uma sensível e profunda reflexão sobre o que nós nos acostumamos a chamar de deficiências.

E talvez o erro seja justamente analisar Bird Box como uma extensão barata de um estrondoso sucesso independente nos cinemas. A nova produção da Netflix é sim capaz de promover uma tensão palpável, mas também articula uma narrativa que faz uso da nossa própria imaginação, sem mostrar as “criaturas” donas do pavor e do medo, apresentando apenas sua sombra diante do público. E por fazer jogos mentais com um medo que nasce e mata a partir dos receptores sensoriais, a gigante do streaming também promove uma experiência sinestésica na audiência. Naturalmente, somos tragados por um contexto tortuoso de um mal que não tem face, mas gera consequências fatais. Talvez isso seja um clichê do gênero, mas aqui, ele funciona por uma ótica um pouco mais ampla (olha o trocadilho!).

Em Bird Box, uma onda de suicídios é desencadeada a partir de uma manifestação “alienígena”, que cega a lucidez das pessoas, levando-as a cometer atrocidades a si mesmas a partir de estímulos da própria consciência. Basicamente, é como se traumas ou memórias dolorosas do passado chamassem ao pé do ouvido, provocando uma drástica e explosiva insanidade mental. Dentro dessa premissa, Sandra Bullock divide parte do seu tempo cercada por sobreviventes enclausurados em uma quase mini sociedade e rodeada pelas claras águas de um rio sem fim. Com uma narrativa que se desenvolve com sua cronologia entrelaçada, início e meio se misturam, desenhando um roteiro que mais diz respeito à sobrevivência humana do que a um mal aterrorizante em si.

E é aí que está a má compreensão: achar que Bird Box é um conto pós-apocalíptico sobre criaturas sombrias e misteriosas. O cerne da produção, de fato, reside no próprio homem, nas durezas e dores que carrega, nas mentiras que esconde e em suas respostas sensoriais ao mundo. E nesta espiral psicológica, Mallorie (Bullock) é forçada a descobrir novos sentidos e a aflorar aqueles que já possui, levando uma vida em plena escuridão, não importa quão claro esteja o dia. Esse contraste entre o físico e a psique humana produzem um drama encantador, que desafia nossa percepção sobre o que seria, genuinamente, a cegueira. Explorando – inicialmente – apenas a ausência da vista, o longa cresce vertiginosamente, trazendo uma tensão sufocante consigo, que explode em uma das atuações mais profundas de Sandra Bullock.

Intensa, a vencedora do Oscar entrega uma atuação que chega ao seu pico mais caótico, tamanha fragilidade. Com seus movimentos limitados por uma cegueira temporária, ela tenta tatear no escuro em busca de sobrevivência, à medida que descobre uma maternidade às avessas, em virtude do contexto social vigente. Profunda e dolorosa, é notável o quão delicada e real foi sua entrega, que atinge o seu ápice em uma declaração desesperada em um bosque com árvores altas, cercada pelo verde que não se pode ver e por uma enorme exaustão de uma vida vivida pela metade. Um dos momentos mais poderosos do filme, ele também é um sensível grito de socorro pela solidão que a vida se tornara sem a visão.

Com uma fotografia que tem seus pontos altos nas paisagens naturais por onde o rio e a correnteza passam, o filme se concentra em seus personagens, fazendo com que toda a trama parta e gire em torno deles. Bem mais que um conto apocalíptico sobre o fim do mundo, o filme de Susanne Bier é mais um relato emocional sobre a consciência humana mediante as circunstâncias mais adversas. E fazendo do seu fim uma surpresa agradável e imprevisível, a produção se encerra de maneira extremamente simbólica e representativa. Sem dizer muito, os minutos finais coroam Bird Box como um conto avassalador sobre a vida, muito além do que os olhos podem ver.

 

 

 

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