sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | “BLACK PARADE” é mais um hino R&B sobre racismo de Beyoncé

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Senhoras e senhores: Beyoncé.

Depois de trilhar um caminho de pura ascensão que culminou no álbum visual (e um dos melhores do século) Lemonade e de se aventurar no oscilante remake em live-action O Rei Leão, nossa Queen-B seguiu os passos artísticos de 2013 e voltou para o mundo da música com o lançamento surpresa de BLACK PARADE, um hino racial que, através de alguns dos versos mais bem construídos do ano, infunde os ouvintes com análises elegíacas sobre cultura africana e sobre as raízes do preconceito contra a comunidade preta.



Ainda que o instrumental nos arremesse de volta para a última produção solo da artista, essa rígida concepção pode nos levar erroneamente a acreditar que a faixa avulsa seria um descarte deixado para ser aproveitado em momento oportuno. Entretanto, as similaridades entre BLACK PARADE e obras-primas como “Hold Up”“Formation” – principalmente quando volta-se para o uso de saxofones e o comedido poder dos sintetizadores do R&B – apenas mostram a importância cultural que Beyoncé promove para seus antepassados, continuando a honrar a história e a mostrar que, mais de cinco séculos depois, as coisas não mudaram tanto assim.

De fato, a música não poderia ter vindo em melhor hora: guiada pela brutal morte de George Floyd e para a crescente e retrógrada discriminação da comunidade negra – e auxiliada pela conhecida produção de Derek Dixie -, a performer pinta um cru retrato do que se enfrenta nos dias de hoje. Ela não poupa ácidas incursões sociológicas sobre a supremacia branca e sobre a constante segregação promovida por seus agressores, resumindo esse extenso e bem-vindo anthem em “ser negro, talvez essa seja a razão pela qual estão sempre irritados”.

“Alegria preta é o seu direito”, Queen-B escreveu em seu site oficial poucos dias antes da divulgação da iteração. Se a exponencial militância de Beyoncé já havia crescido na última década, não seria até os últimos dois anos que ela se imporia com maior força para defender seus irmãos e irmãs, posicionando-se também a favor dos direitos das mulheres negras, expondo a violência doméstica e psicológica que se prolonga e que mantém-se intrínseca ao milenar patriarcado mundial (razão pela qual ela fala tanto da her-story aqui).

De um lado, a cantora, aliada a um time competente de liricistas que não deixa quaisquer pontas soltas em mais de quatro minutos; de outro, ela supervisiona a arquitetura sonora com apreço e cautela que atingem o suprassumo da empatia e da mimética histórica: além dos instrumentos supracitados, temos a dissonância do piano clássico e o respaldo em assonâncias que flertam com a literatura africana – tudo muito bem pensado e digno de uma discografia impecável. E, apesar de um pontual deslize na estrofe inicial, o ápice insurge com o envolvente refrão regado a um soul-jazz dos anos 1920 mascarada com investidas do trap.

BLACK PARADE continua a onda de produções que beiram o impecável de Beyoncé – mostrando que seu patamar de uma das artistas mais versáteis e sagazes da última geração segue vivo em um legado que nunca será apagado.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Ainda que o instrumental nos arremesse de volta para a última produção solo da artista, essa rígida concepção pode nos levar erroneamente a acreditar que a faixa avulsa seria um descarte deixado para ser aproveitado em momento oportuno. Entretanto, as similaridades entre BLACK PARADE e obras-primas como “Hold Up”“Formation” – principalmente quando volta-se para o uso de saxofones e o comedido poder dos sintetizadores do R&B – apenas mostram a importância cultural que Beyoncé promove para seus antepassados, continuando a honrar a história e a mostrar que, mais de cinco séculos depois, as coisas não mudaram tanto assim.

De fato, a música não poderia ter vindo em melhor hora: guiada pela brutal morte de George Floyd e para a crescente e retrógrada discriminação da comunidade negra – e auxiliada pela conhecida produção de Derek Dixie -, a performer pinta um cru retrato do que se enfrenta nos dias de hoje. Ela não poupa ácidas incursões sociológicas sobre a supremacia branca e sobre a constante segregação promovida por seus agressores, resumindo esse extenso e bem-vindo anthem em “ser negro, talvez essa seja a razão pela qual estão sempre irritados”.

“Alegria preta é o seu direito”, Queen-B escreveu em seu site oficial poucos dias antes da divulgação da iteração. Se a exponencial militância de Beyoncé já havia crescido na última década, não seria até os últimos dois anos que ela se imporia com maior força para defender seus irmãos e irmãs, posicionando-se também a favor dos direitos das mulheres negras, expondo a violência doméstica e psicológica que se prolonga e que mantém-se intrínseca ao milenar patriarcado mundial (razão pela qual ela fala tanto da her-story aqui).

De um lado, a cantora, aliada a um time competente de liricistas que não deixa quaisquer pontas soltas em mais de quatro minutos; de outro, ela supervisiona a arquitetura sonora com apreço e cautela que atingem o suprassumo da empatia e da mimética histórica: além dos instrumentos supracitados, temos a dissonância do piano clássico e o respaldo em assonâncias que flertam com a literatura africana – tudo muito bem pensado e digno de uma discografia impecável. E, apesar de um pontual deslize na estrofe inicial, o ápice insurge com o envolvente refrão regado a um soul-jazz dos anos 1920 mascarada com investidas do trap.

BLACK PARADE continua a onda de produções que beiram o impecável de Beyoncé – mostrando que seu patamar de uma das artistas mais versáteis e sagazes da última geração segue vivo em um legado que nunca será apagado.

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