‘Black Summer’ foi elogiada pelo mestre do terror, Stephen King – que a chamou de “assustadora”. A trama é toda intrincada, sem um protagonista fixo, mas sim com um grupo de pessoas cuja história vai sendo contada de maneira alternada, hora focando em um, hora em outro, às vezes se entrelaçando.
Começamos acompanhando Rose (Jaime King, uma sósia da Emma Stone), sua filha e seu marido arrumando mochilas e saindo de casa. Na rua, eles começam a correr, e percebemos que outras pessoas estão correndo também, porém, aparentemente todos sabem exatamente aonde devem ir. Então, de repente, entendemos a ameaça: as pessoas estão se transformando em zumbis e, tão logo isso acontece, imediatamente as criaturas começam a atacar quem estiver por perto.
Os capítulos são divididos em episódios, anunciados por um título que tem a ver com o que vai acontecer naquele bloco, como se fosse uma coletânea de contos. Cada bloco é centrado em um grupo e/ou personagem, que vão sendo introduzidos e/ou substituídos ao passo que a história vai evoluindo. De todos, o destaque vai para a atuação muito convincente de Christine Lee, que interpreta a japonesa Kyung-son, que realmente bota pra quebrar, sem medo de correr, sem medo de lutar.
Mas então… por que ver mais essa série sobre zumbis, né?
‘Black Summer’ tem seus momentos. Por exemplo, os zumbis são inteligentes, correm rápido, atacam pra valer e conseguem até mesmo pensar que o cara vai dar a volta no quarteirão e sair na rua de trás – então, para quem gosta do gênero, isso é um ponto positivo. E para quem curte esse tipo de videogame, tem váááárias cenas em que a câmera coloca o jogador/personagem em primeira pessoa, e vamos acompanhando-os vasculhando a área. E, ao contrário do que rola na concorrência, nesta série temos o apocalipse zumbi comendo solto nos Estados Unidos, mas dentre os sobreviventes temos uma japonesa que não fala inglês (ao contrário da outra, em que todo mundo convenientemente fala a mesma língua) e temos até mesmo um personagem mudo (!), que, nem por isso, é menosprezado.
Por outro lado, porém, é cada deslize que ‘Black Summer’ traz que, meu Deuso, você fica constantemente repetindo “é sério isso?”. Temos erro de continuidade (o sujeito está com a mão machucada, toda ensanguentada, claramente sem poder mexê-la, e, na cena seguinte, ele está com a mão limpa e carregando peso); temos problema com passagem do tempo (você termina sem saber se tudo aquilo rolou em 5 semanas, 1 dia ou seis horas); temos problema com a filmagem, pois, como falamos, ela por vezes acompanha o personagem em 1ª pessoa, e isso faz com que a câmera balance muito, enjoando a vista, especialmente no 1º episódio; temos problema de montagem, com cenas que parecem ter ocorrido em um momento anterior ao que estamos vendo; etc.
Apesar disso, a gente acaba se divertindo com os absurdos do enredo. O melhor episódio é o 3º, ‘Hide/Seek‘. Destaque para o personagem ruivo barbudo, que, no maior momento de tensão, o pau comendo lá fora, o pipoco rolando solto, ele se refugia numa biblioteca, senta, pega um livro e se esconde atrás do objeto. É, dizem mesmo que a leitura salva as pessoas…
Ok, e por que o Stephen King achou a série tão bacaninha? Porque é bem o estilo das histórias dele – com diferentes pontos de vista que se entrelaçam em um ponto do roteiro; um apocalipse que surge do nada, você não sabe o que aconteceu e a história termina sem muita explicação; um enredo mais focado em mostrar a sobrevivência do que dar satisfação ao leitor/espectador; com cada episódio levando o nome de um personagem e/ou do acontecimento que vai rolar. Ou seja, ‘Black Summer’ é bem o tipo de história que Stephen King escreveria, porém, como ele é o rei, certamente teria feito muito melhor.