Ir a uma locadora de filmes às sextas-feiras era o tipo de tradição que coroava o início do fim de semana da juventude dos anos 90/00. Em meio à extensas gôndolas de produções dos mais diversos gêneros, pairava uma atmosfera comunitária convidativa. Entre novos aluguéis e a devolução de outras fitas ou DVDs, existia uma troca única que se tornou cada vez mais rara com a popularização das plataformas de streaming. E o que antes era uma experiência compartilhada tão prazerosa, hoje é apenas uma memória saudosa de um tempo que nunca mais se repetirá. E resgatar essa magia tão viva na geração millennial é o grande mote de Blockbuster, nova sitcom original da Netflix. Mas com piadas ruins e personagens caricatos demais, o que poderia ser tão nostálgico como Stranger Things se tornou uma oportunidade perdida que não merece aquela rebobinada.
Na trama, Timmy (Randall Park) é o dono daquela que será a última unidade da Blockbuster ainda de pé nos Estados Unidos. Imaturo e pouco responsável, o pequeno empresário fará de tudo para garantir que a locadora de filmes permaneça intacta, ainda que a acelerada evolução das plataformas de streaming constantemente lhe prove o contrário. Ao lado de uma equipe de funcionários bem atípica e caricata, ele tenta navegar por águas tão incertas, à medida em que entende que finalmente chegou a hora de crescer e seguir adiante. E com um roteiro que visa se concentrar na construção e desenvolvimento de seus protagonistas, Blockbuster tenta ir além de sua pedra fundamental, mirando em uma perspectiva mais simbólica e emocional, que explore as relações humanas com sensibilidade e um toque de doçura. Mas quando se tem personagens nada carismáticos e bem infantiloides, fica difícil se identificar com a narrativa. Ainda que, em essência, ela seja completamente relacionável.
E Blockbuster tem todos os elementos necessários para ser excelente. Com o direito do uso da marca garantido, a produção estampa as cores e a logo da maior franquia de locadoras do mundo com facilidade – já naturalmente aflorando aquele fator saudoso na audiência. No entanto, com um roteiro bastante raso, alicerçado em piadas forçadas e sem graça, a série de comédia não nos convence nem em seus 22 minutos do episódio inaugural. Tentando construir o seu humor a partir de um vasto leque de referências cinematográficas, Vanessa Ramos peca por desperdiçar o contexto que tanto lhe favorece e nos deixa à deriva com sacadas cômicas bem anos 2000, repletas de frases de efeito que só ressaltam o quão difícil é a arte de fazer rir.
Frequentemente fazendo reverência ao cineasta Quentin Tarantino, cujo primeiro emprego foi em uma locadora de filmes, Blockbuster perde a oportunidade de abusar da nostalgia que a própria marca carrega em si e desperdiça sua ideia original. Na teoria, todos os elementos funcionam. Mas na prática, a execução meia boca do roteiro torna os 10 episódios em uma exaustiva repetição de um repertório ruim de piadas. Infelizmente, a série não possui um viés cômico como fio condutor, que conduz e une todos os demais elementos narrativos. E por preferir transformar os diálogos em um arremesso de sacadas aleatórias e desconexas com a trama, Ramos é incapaz de sustentar sua história e com isso também não sustenta nossa atenção. Podendo se inspirar em produções como O Balconista e Hacks, Blockbuster prefere seguir o caminho inverso, ficando em uma zona de conforto, reproduzindo o manual da comédia sem graça e do politicamente correto – o que pode até não te fazer perder o amigo, mas com certeza lhe fez perder a audiência.