sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Bob Cuspe – Não Gostamos de Gente – Animação retrata Angeli e seus clássicos personagens em crise

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A trinca de ases dos quadrinhos nacionais responde pelos nomes Angeli, Laerte e Glauco. Esses três cartunistas, também conhecidos como ‘Los 3 Amigos’, são responsáveis pela grande ascensão dos quadrinhos no Brasil, e, hoje, são as grandes referências do gênero para as novas gerações de artistas. Nos últimos anos, a sétima arte tem buscado dar o devido prestígio aos cartunistas que ajudaram a construir o gênero em nosso país, produzindo filmes que retratem criadores e criaturas, de modo que o público já pôde conferir, por exemplo, ‘Laerte-se’ (2017), ‘A Cidade dos Piratas’ (2019) e, agora, pode assistir ao mais novo ‘Bob Cuspe – Não Gostamos de Gente’, sobre a obra de Angeli, que chega às salas de cinema brasileiras após breve estreia na Mostra de São Paulo 2021.



Durante uma entrevista, Angeli demonstra estar claramente em crise – criativa e de identidade. Isso porque seus personagens também estão insurgindo contra ele desde o momento em que Bob Cuspe decide sair do mundo da imaginação e vir para a realidade tirar satisfação com seu criador. Mas, no caminho, Bob encontrará não só outros clássicos personagens do cartunista – como Os Eskrotinhos, Rê Bordosa, Chiclete com Banana entre outros – mas também terá que combater e destruir diversos Elton Johns em miniatura, que, tais como praga, perseguirão os personagens ao longo de sua jornada.

Para quem acompanha a produção nacional de quadrinhos, Angeli é um nome referencial, não só em revistas mas também em tirinhas de jornal. A acidez, a forma direta e revoltada como muitos de seus personagens se comunicavam – com palavrões e certa violência – marcaram uma época lá entre os anos 1970 e 1990 em que tais características eram encontradas apenas em produções alternativas, não nas novelas e filmes comerciais brasileiros – ao menos, não abertamente. Personagens como o punk-rock Bob Cuspe e a jovem entediada e sem papas na língua Rê Bordosa ajudaram a refletir uma juventude insatisfeita com as normas sociais, conferindo-lhes voz numa época em que falar a verdade de maneira direta era vista como coisa de gente subversiva.

O filme de Cesar Cabral consegue captar bem a essência dos personagens de Angeli, aqui retratados através da técnica de animação em stop motion – aliás, uma ótima escolha para contar a história do longa, dando liberdade de execução ao roteiro de Leandro Maciel e do próprio Cesar Cabral. A qualidade do stop motion é excelente, conferindo vida e textura a esses icônicos personagens que por muito tempo ficaram restringidos ao 2D do papel. Também a dublagem se encaixa perfeitamente, com participação e música de Paulo Miklos e os Titãs e voz de Milhem Cortaz.

Bob Cuspe – Não Gostamos de Gente’ é um filme para uma geração mais grisalha, e é também uma merecida homenagem ao Angeli e seu incrível trabalho que, por décadas, fez ecoar a efervescência conflitante e insatisfeita de muitos brasileiros. Com muita qualidade, é uma animação que mostra a enorme competência que o Brasil tem em produzir filmes com essa técnica, e merece os prêmios que tem ganhado.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Durante uma entrevista, Angeli demonstra estar claramente em crise – criativa e de identidade. Isso porque seus personagens também estão insurgindo contra ele desde o momento em que Bob Cuspe decide sair do mundo da imaginação e vir para a realidade tirar satisfação com seu criador. Mas, no caminho, Bob encontrará não só outros clássicos personagens do cartunista – como Os Eskrotinhos, Rê Bordosa, Chiclete com Banana entre outros – mas também terá que combater e destruir diversos Elton Johns em miniatura, que, tais como praga, perseguirão os personagens ao longo de sua jornada.

Para quem acompanha a produção nacional de quadrinhos, Angeli é um nome referencial, não só em revistas mas também em tirinhas de jornal. A acidez, a forma direta e revoltada como muitos de seus personagens se comunicavam – com palavrões e certa violência – marcaram uma época lá entre os anos 1970 e 1990 em que tais características eram encontradas apenas em produções alternativas, não nas novelas e filmes comerciais brasileiros – ao menos, não abertamente. Personagens como o punk-rock Bob Cuspe e a jovem entediada e sem papas na língua Rê Bordosa ajudaram a refletir uma juventude insatisfeita com as normas sociais, conferindo-lhes voz numa época em que falar a verdade de maneira direta era vista como coisa de gente subversiva.

O filme de Cesar Cabral consegue captar bem a essência dos personagens de Angeli, aqui retratados através da técnica de animação em stop motion – aliás, uma ótima escolha para contar a história do longa, dando liberdade de execução ao roteiro de Leandro Maciel e do próprio Cesar Cabral. A qualidade do stop motion é excelente, conferindo vida e textura a esses icônicos personagens que por muito tempo ficaram restringidos ao 2D do papel. Também a dublagem se encaixa perfeitamente, com participação e música de Paulo Miklos e os Titãs e voz de Milhem Cortaz.

Bob Cuspe – Não Gostamos de Gente’ é um filme para uma geração mais grisalha, e é também uma merecida homenagem ao Angeli e seu incrível trabalho que, por décadas, fez ecoar a efervescência conflitante e insatisfeita de muitos brasileiros. Com muita qualidade, é uma animação que mostra a enorme competência que o Brasil tem em produzir filmes com essa técnica, e merece os prêmios que tem ganhado.

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