Nós que consumimos o cinema somos frequentemente convidados a sonhar com o mundo da imaginação promovido pela sétima arte. As histórias de ficção constroem histórias impactantes cujo objetivo é fazer o espectador ser transportado para dentro da trama e esquecer sua própria vida. Por trás dessa ilusão há centenas de trabalhadores que dão duro para fazer com que tudo seja crível aos olhos de quem assiste. E, para além dos rostinhos bonitos no protagonismo, há diversos profissionais que trabalham como dublês, arriscando-se para tornar a cena o mais acurada possível, de modo a preservar os atores que não possuem tais habilidades. Sobre esse universo sem rosto Jackie Chan volta aos cinemas a partir dessa semana, com o emocionante filme ‘Bons Companheiros’.
Luo (Jackie Chan) tem um companheiro inseparável: seu cavalo Red Hale, que ganhara de um amigo porque o animal nascera com problemas físicos e Luo se prontificara a cuidar dele. Mas Luo trabalha como dublê de filmes de ação, e, aos poucos, ao longo de sua carreira, foi introduzindo Red Hale aos set de filmagem, tornando-se, junto com ele, uma dupla imbatível que topava qualquer desafio e não se intimidava diante de cenas perigosas. Com o passar do tempo isso fez com que Luo se afastasse de sua família, principalmente de sua filha, Bao (Haocun Liu). Porém, quando recebe uma intimação para devolver Red Hale, alegando que a doação teria sido ilegal, Luo procurará Bao por assistência jurídica, uma vez que a menina estuda Direito, e isso significará que as divergências do passado terão que ser resolvidas apesar das mágoas ainda abertas.
‘Bons Companheiros’ é um filme bem-intencionado e com um plot interessante, só que o roteiro de Larry Yang trás tantas camadas, que a gente acaba se perdendo sobre o objetivo do filme: é sobre a amizade entre um homem e um cavalo? É sobre a reconciliação de um pai com uma filha? É um filme de cunho jurídico? É um filme sobre os maus tratos aos animais? É sobre os bastidores das filmagens? São tantas as pautas, que, na impossibilidade de mais tempo (são duas horas de longa), o projeto acaba não aprofundando a emoção em muitos desses temas, o que é uma pena, pois são pautas emocionantes.
Larry Yang traz cenas de set de filmagem que são interessantes para quem não vive neste mundo. Entretanto, algumas cenas com os cavalos geram desconforto: uma vez que a intenção do filme é debater a falta de segurança (e, a bem da verdade, também a falta de noção das produções) para dublês e animais, algumas cenas de queda, violência e de ação propriamente dita parecem reais demais, fazendo a gente torcer para que seja apenas a perfeição do CGI.
O mais bonito nesse filme é ver Jackie Chan não só de volta aos cinemas, como, principalmente, vê-lo falando em mandarim o filme inteiro, honrando os 100 anos de cinema chinês que é, no fim das contas, o objetivo da produção. É bonito ver que a intenção do longa é prestar uma bela homenagem a todas as centenas de atores que trabalham como dublês, muitos dos quais se arriscaram e se prejudicaram ao longo dos anos em prol de realizar cenas incríveis para o público. O anonimato dessas pessoas foi honrado neste filme, inclusive a própria carreira de Jackie Chan, mostrada, também, no longa, ao emocionado protagonista.